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Home office, do improviso à solução

Em isolamento social, trabalhadores tiveram que se adaptar ao sistema remoto. Empresas viram vantagens e o modelo deve ser mantido após a pandemia

Sistema de trabalho em casa revelou pontos positivos para as empresas e deve ser aperfeiçoado - Pixabay

A pandemia provocada pelo novo coronavírus obrigou as pessoas a se manterem em isolamento social para o enfrentamento da doença. Da noite para o dia todos foram obrigados a mudar as formas de relacionamento e também de trabalho. Grande parte dos setores da economia teve que se adaptar ao trabalho remoto, o chamado home office, sistema que os especialistas acreditam, veio para ficar.

Regularizado pela Reforma Trabalhista, em 2017, o trabalho remoto era pouco adotado pelas empresas até então. A partir da necessidade de uma nova adequação para evitar a proliferação do vírus, que funcionários contraíssem a doença, empresas adotaram o sistema e observaram algumas vantagens. De imediato, uma nova realidade lhes foi apresentada: a transformação digital.

A crise gerou uma modernização no exercício das atividades laborais, ainda que de maneira forçada, mostrando que o avanço tecnológico está cada vez mais presente e necessário nas relações de mercado e trabalho. 


A advogada especialista em Direito do Trabalho e Relações Sindicais do escritório Da Fonte Advogados, Simony Braga, aponta o aumento da produtividade e o impacto no lado urbano da cidade como pontos positivos. “O home office tem algumas questões interessantes, e esse momento foi peculiar, porque não existia uma outra opção, foi uma necessidade” disse. “Um dos pontos principais é a produtividade. Olhamos muitas empre­sas impressionadas com o aumento. Outro ponto é a melhoria na mobilidade urbana. Em Recife houve um ganho bastante positivo. Tem ainda a redução de custo, as empresas podem investir em pessoal, investir na possibilidade de contratar profissionais qualificados em outras localidades”, declarou.

 A advogada destaca que mesmo sendo uma realidade para muitas empresas, será preciso definir como atuar após a pandemia. “Certamente o home office já é uma realidade. A tendência será uma flexibilização, dias alternados, um expediente no virtual outro no presencial”, opinou. “O teletrabalho não admite controle de jornada, então é possível que tenhamos uma legislação própria futuramente, algo que está nascendo e merece ter maior clareza. O que temos hoje co­mo legislação não se aplica a um mo­delo misto, por isso é fundamental uma legislação precisa”, afirmou.

Para o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, o principal legado deixado pelo home office será o da economia dos custos para os empresários. “Na tecnologia não dá para seguir como parâmetro, porque já seguimos. Nas outras áreas, vai ter uma resistência no retorno, até por receio das pessoas se contaminarem, mas acho que [o home office] vai permanecer, ficou estabelecido que dá para trabalhar”, afirmou. “Tem um impacto nas contas, além de reduzir custos você aumenta a sua produtividade e ainda se conecta com mais pessoas por meio das plataformas”, contou.

Pierre acredita que outra preocupação que deve surgir por conta do trabalho em casa é a questão da saúde mental dos funcionários. “Tem a parte boa e a ruim. A parte ruim é a preocupação pela saúde mental, aqui no Porto uma quantidade considerável de empresas afirma que está dando suporte a isso, é preciso acompanhar de perto para que não venha a ser um problema para ambas as partes”, comentou. 

Setor público vê saldo positivo
Assim como no setor privado, a pandemia obrigou os servidores públicos a adotar o sistema de home office em todo o País. Apenas na esfera federal, cerca de 51% do efetivo adotou esse sistema em maio, segundo levantamento do Ministério da Economia. O percentual, porém, não é definitivo, uma vez que boa parte das unidades não enviaram informações para uma pesquisa que está sendo realizada pelo Governo Federal. 

O levantamento com os servidores avalia como tem sido o trabalho remoto durante a pandemia. O estudo, que está sendo feito pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e a Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia (SGP/ME), faz parte de um trabalho conduzido mundialmente pelo Center for Advanced Hindsight (CAH) da Duke University, em conjunto com outras universidades de referência em gestão, e deve fornecer informações suficientes para nortear nas futuras políticas públicas referentes ao trabalho remoto. 

Um bom exemplo de funcionamento do home office na esfera pública é o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). O tribunal adotou o sistema com o intuito de proteger servidores e magistrados da contaminação pela Covid-19, no dia 18 de março, e desde sua adoção, vem mantendo sua produtividade em alta. Figurou, inclu­sive, nos meses de abril e maio, entre os 10 mais produtivos do País. 

De acordo com o presidente do TJPE, desembargador Fernando Cerqueira, mais do que produtividade, os dados demonstram o esforço dos magistrados e servidores em atender as demandas da população. “Superando condições não tão favoráveis para trabalhar de casa, eles enfrentam situações complexas, a ansiedade causada por tudo que a sociedade está vivendo e, mesmo assim, estão entregando prestação judicial adequada”, explicou. “Tivemos que nos ajustar com todas as mudanças causadas pelo alto índice de transmissão do coronavírus e a letalidade da doença para salvar o bem mais precioso que temos, a vida. Nesse contexto, os servidores e magistrados se superaram”, avaliou o presidente do TJPE. 

Agora, com a retomada gradual da economia, através do “Plano de Monitoramento e Convivência com a Covid-19”, apresentado pelo Governo do Estado no começo do mês, o Tribunal já estuda o retorno às atividades presenciais. Porém, de acordo com o grupo de trabalho formado por membros do TJPE, o retorno será gradual e feito seguindo estudos técnicos e obedecendo todas as normas de saúde. 

Setor privado
Na 4Com, empresa de comunicação, o home office foi a antecipação de um projeto que já seria implementado, como conta a diretora Bruna Oliveira. “A gente vai completar três meses assim. Já vislumbrava fazer um teste em relação a isso no período de um ano, a pandemia foi um impulsionador, já que passamos por uma transformação digital antes”, disse. “As pessoas acham que transformação digital é uma boa presença de redes sociais, mas acredito que é diretamente ligado aos processos digitais, conectados, maior integração de forma remota. Isso nos permitiu melhor atuação”, disse. 

Bruna conta ainda que na empresa, o home office aumentou a produtividade e mostrou outras oportunidades de mercado que era possível no segmento. “Com a imposição do isolamento, a nossa produtividade aumentou. As pessoas não tinham esse sentimento, achavam que a conexão não ia dar certo. O remoto deu uma nova oportunidade de negócio, devemos ter uma transformação do local físico e como dar suporte também ao home office. Um desafio é manter o time integrado, cada um em suas casas, o coletivo também deve ser trabalhado”, apontou.