Remédio para câncer de próstata sem metástase reduz risco de morrer em 31%, diz estudo
A substância também demonstrou ter efeito positivo em adiar a progressão da dor e a necessidade de se iniciar quimioterapia citotóxica
Novos dados de um estudo publicado no The New England Journal of Medicine e divulgados no último dia 29 de maio apontam que o uso de darolutamida, um medicamento para o tratamento do câncer de próstata, reduziu em 31% o risco de morrer entre pacientes com esse tipo de tumor sem metástase e resistentes à castração (quando a doença continua progredindo apesar do tratamento hormonal).
De acordo com os resultados da pesquisa, que foi realizada com 1.059 homens, o grupo experimental (que recebeu o remédio) apresentou sobrevida média de 40,4 meses, enquanto grupo controle (que recebeu o placebo) teve sobrevida média de 18,4 meses.
Os dados foram apresentados após o fim da fase 3 da pesquisa Aramis, como é chamada. Resultados anteriores já indicavam os benefícios da administração do fármaco, mas foram necessários novos testes para "amadurecer" as informações, segundo o estudo.
Além disso, a darolutamida também demonstrou ter efeito positivo em adiar a progressão da dor e a necessidade de se iniciar quimioterapia citotóxica (com remédios tóxicos à célula) e em reduzir lesões esqueléticas.
Também não ocorreram no grupo experimental alterações significativas que indicassem efeitos colaterais da administração do remédio, o que, segundo os pesquisadores, reitera a segurança do fármaco.
A darolutamida foi aprovada para uso no Brasil em dezembro de 2019 sob o nome de Nubeqa. O remédio faz parte da categoria dos antiandrogênicos, mais conhecidos como bloqueadores de testosterona. Esses medicamentos são utilizados na hormonioterapia contra o câncer de próstata. Isso porque os antiandrogênicos bloqueiam os receptores de testosterona e da DHT (diidrotestosterona), uma vez que esses hormônios, produzidos pelos testículos, estimulam o crescimento do tumor.
Em 2017, mais de 15 mil homens morreram por causa do câncer de próstata no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer). A estimativa do instituto para 2020 é de que haja 65.840 novos casos da doença.
Para o urologista Flávio Trigo, do Hospital Sírio-Libanês, a darolutamida pode beneficiar um grupo de homens que se encontram "no limbo". São pacientes cujo tratamento hormonal de castração química não impediu o avanço da doença, mas que também não estão em fase metastática.
"Esse remédio compete com os outros já temos no mercado, mas quem se beneficia é o paciente que já fez radioterapia, cirurgias e mesmo assim tem resultados do exame de PSA (exame que pode indicar o tumor) que continuam a subir, sem haver metástase", afirma. O PSA (antígeno prostático específico) é uma proteína produzida pela próstata e que acompanha o crescimento natural da próstata e, também, do tumor em casos da doença. Dessa forma, é possível detectar alterações nas medições normais e acompanhar a evolução da doença.
Com o aumento natural da próstata, aumenta também a chance de desenvolver câncer nessa região. Por essa razão, cerca de 75% dos casos no mundo são detectados em pessoas com idade superior a 65 anos, de acordo com o Inca.
De acordo com Trigo, esses pacientes que já se trataram e tiveram alguma melhora estão "escapando" do tratamento, ou seja, o tumor está localizado e pode ser tratado ou removido por cirurgia, porém, devido à melhora, não há procura da parte do paciente por um oncologista. "Eles precisam ser melhor identificados e tratados. Esses homens poderiam ser muito beneficiados mesmo pela radioterapia e pela cirurgia. Cerca de 80% seriam curados", disse.
Homens negros têm 33% mais chance de morrer O estudo também se debruçou sobre a raça e gênero dos homens diagnosticados com câncer de próstata. Os resultados indicam que homens negros têm 33% mais chance de morrer após diagnóstico do que homens brancos.
Situação ainda mais preocupante se revela quando comparadas as chances de índios americanos e nativos do Alasca, cuja chance de morrer é 51% maior do que a de homens brancos.
A principal razão para isso é a desigualdade social. Com menor renda e acesso à saúde, homens não brancos têm menos facilidade em prevenir, detectar e tratar o tumor.