Operação faz buscas em MG, mas não acha mulher de Queiroz na casa de parentes
Márcia teve seu mandado de prisão expedido no dia 16 de junho
O Ministério Público e a Polícia Militar de Minas Gerais cumpriram quatro mandados de busca e apreensão no estado na manhã desta terça-feira (23) ligados à investigação sobre Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) que foi preso na última quinta-feira (18) em Atibaia, no interior de São Paulo.
A operação tentou localizar a mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, foragida e considerada peça importante para esclarecer parte das apurações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre suposto esquema de "rachadinha" no gabinete de Flávio quando ele ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio. O Ministério Público de Minas disse, porém, que ela não foi encontrada.
Márcia teve seu mandado de prisão expedido no dia 16 de junho, na primeira fase da Operação Anjo, que levou Queiroz à prisão em um imóvel do advogado Frederick Wassef, ligado à família Bolsonaro. Além de ter sido assessor de Flávio, Queiroz é amigo do presidente Jair Bolsonaro desde os anos 1980.
Na segunda-feira (22) à noite, a defesa de Márcia Aguiar entrou com um pedido de habeas corpus, distribuído nesta terça para a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. A investigação sobre esse caso é mantida em segredo de justiça. A ação desta terça em Minas foi realizada em apoio às investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro. De acordo com informações do site G1, um dos endereços alvo da operação foi a casa da madrinha de Queiroz, que morreu recentemente, em Belo Horizonte, onde vivem primas e sobrinhas do ex-PM.
O Ministério Público do Rio diz que, entre 2007 e 2018, 11 assessores ligados a Flávio repassaram pelo menos R$ 2 milhões a Queiroz, a maior parte em espécie. O volume, no entanto, pode ser maior. já que ele sacou R$ 2,9 milhões no mesmo período.
Ex-funcionária de Flávio, a mãe do miliciano Adriano da Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro, Raimunda Veras Magalhães, saiu do Rio durante as investigações e ficou em um endereço em Minas, na cidade de Astolfo Dutra (a 281 km de Belo Horizonte).
A informação foi descoberta pela Promotoria fluminense em troca de mensagens entre ela e Márcia. As duas se reuniram em dezembro do ano passado na cidade mineira com Luis Gustavo Botto Maia, advogado de Flávio, segundo informações do Ministério Público. Ele teria se encontrado antes com Queiroz e Wassef.
Não foi divulgado se esse endereço onde ficou Raimunda está entre os mandados cumpridos nesta terça. No pedido de prisão de Márcia, a Promotoria avaliou que a mulher de Queiroz, assim como ele, poderia fugir da aplicação da lei penal, destruir provas e pressionar testemunhas.
Na peça que pediu a prisão do ex-assessor, uma troca de mensagens entre Márcia e sua filha, Mayara Gerbatim, sugere que a família Queiroz recebia dinheiro de terceiros para se manter. "Sabe me dizer se deram o dinheiro do mercado e das coisas da Melissa?", pergunta Márcia à filha, após afirmar que houve um estresse com "Anjo" (apelido de Wassef, segundo a investigação) depois da publicação de uma reportagem sobre Queiroz. "Deram", ela responde.
O Ministério Público também afirma que anotações em uma caderneta apreendida na casa de Márcia e os recibos do hospital Albert Einstein comprovam que a mulher de Queiroz recebeu pelo menos R$ 174 mil em espécie para custear tratamento do ex-assessor na unidade de saúde.
A partir de uma troca de mensagens, o MP-RJ afirma que Queiroz mantém influência sobre a milícia de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio. Em dezembro de 2019, Márcia Aguiar encaminhou ao PM aposentado um áudio de um homem que queria pedir ajuda a Queiroz depois de ter sido ameaçado pelo grupo paramilitar que domina a região.
"Eu queria que, se desse para ele ligar, se conhecer alguém daqui, Tijuquinha, Rio das Pedras, os 'meninos' que cuidam daqui", afirmou o interlocutor à mulher de Queiroz. Em resposta a Márcia, o ex-assessor disse que poderia interceder com os milicianos pessoalmente, e que não faria o contato pelo telefone porque tinha receio de estar grampeado.