Crítica

'Dark' se consolida como obra-prima da Netflix

Última temporada esbanja coesão e chega ao catálogo no próximo sábado (27)

Jonas e Martha: de mundos diferentes, literalmente - Divulgação/Netflix

Encerrar uma série aclamada pela crítica e pelo público não é uma tarefa fácil, pois há o risco de rompimento do encanto em torno de grandes produções. Casos recentes na TV não faltam. Os desfechos de "Game of Thrones" e "How I Met Your Mother", por exemplo, decepcionaram uma parcela do público fiel. A terceira temporada de "Dark" pega um caminho contrário e busca finalizar a história com coesão, traço que carregou desde o primeiro episódio. Assistimos aos oito últimos episódios da série alemã, que entram no catálogo da Netflix no próximo sábado (27), e o que se pode dizer é que o encerramento é poético e entrega tudo e mais um pouco do que a história tem de melhor. 

Com uma trama redonda, "Dark", de Baran bo Odar e Jantje Friese, chega ao fim com um resultado raro em tempos de séries prolongadas por questões econômicas. É como se os 26 episódios tivessem sido gravados de uma só vez, em novembro de 2017, e disponibilizados aos poucos. 

 



A última temporada começa quando Jonas (Louis Hoffman) encontra uma Martha (Lisa Vicari) diferente e descobre que ela pertence a outro mundo. Depois de vários momentos explicando as viagens no tempo e suas implicações, "Dark" introduziu realidades paralelas em seu universo. A pergunta deixa de ser apenas "quando?" e precisamos questionar também "onde?". E é na introdução desse novo conceito que a trama ratifica suas qualidades. Acostumados com as viagens e linhas temporais diversas, compreendemos como os dois mundos se complementam. 

A fotografia ajuda nesse objetivo ao fazer uso de filtros diferentes para cada realidade e até mesmo de situações que dão uma ótima sensação de déjà-vu aos mais atentos. O primeiro episódio da temporada final é uma homenagem ao público com sabor de nostalgia. Outro ponto interessante nessa construção da narrativa é o efeito de viagem entre os mundos na troca de cenas. A ideia aqui é a mesma dos tiques de relógio nas mudanças de anos das temporadas anteriores - e que, claro, permanece sendo usada nesta última.





Atento 
Todos os episódios exigem ainda mais atenção, pois são muito mais complexos do que os anteriores. É impossível imaginar que qualquer uma das cenas e situações mostradas na tela desde o primeiro episódio pudessem não ter ido ao ar. Literalmente, como a própria série diz, “tudo está conectado”. As respostas de mistérios anteriores aparecem dando lugar a outras perguntas. 

A temporada final exige que os personagens façam escolhas importantes. “Dark” sempre foi esse jogo entre vida e morte, certo e errado e luzes e sombras com uma cidadezinha alemã e quatro famílias como pano de fundo. Afinal, quantas vezes na vida precisamos tomar decisões nem sempre fáceis, mas inevitáveis? É justamente nesse ponto que o roteiro, uma ficção científica por excelência, mais se aproxima do telespectador. A relação criada entre personagens e público é sólida e, por mais que no início seja difícil até mesmo lembrar de nomes e sobrenomes, laços afetivos são criados e passamos a torcer para que tudo fique bem. A série nos induz a isso: a querer que tudo se resolva de maneira justa, por mais que seja difícil.

Repleta de simbolismos, “Dark” introduz novos conceitos científicos, históricos, filosóficos, psicológicos e religiosos para encerrar sua jornada. Em toda sua trajetória, a produção colocou-se como um quebra-cabeça ou labirinto que desperta no fã a necessidade de discutir, criar teorias, ver vídeos e ler materiais para compreender mais daquilo que foi mostrado. A série entra para o rol das grandes produções contemporâneas da televisão - e a melhor já feita pela Netflix.

COTAÇÃO: Excelente


A pequena cidade alemã de Winden ambienta a trama de ficção científica (Foto: Divulgação/Netflix)