Aprovação de Bolsonaro segue estável após prisão de Queiroz, diz Datafolha
O Datafolha ouviu 2.016 pessoas por telefone nos dias 23 e 24 de junho
A popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue estável na semana seguinte à prisão do ex-assessor de sua família Fabrício Queiroz. Segundo pesquisa do Datafolha, Bolsonaro manteve sua aprovação em 32%, o mesmo índice do fim de maio (33%).
A rejeição ao governo é de 44%, ante 43% da rodada anterior, enquanto os que avaliam Bolsonaro como regular estacionaram nos 23% (eram 22%). O Datafolha ouviu 2.016 pessoas por telefone nos dias 23 e 24 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
A estabilidade contrasta com a tensão política decorrente da prisão de Queiroz, amigo de Bolsonaro desde 1984 e ex-assessor de seu filho Flávio, hoje senador. Investigado no esquema das "rachadinhas" quando era deputado estadual no Rio, Queiroz é o elo entre o clã presidencial e figuras do submundo miliciano no Rio.
O caso, contudo, tem grande potencial destrutivo. A aprovação de Bolsonaro cai para 15% entre aqueles que acham que o presidente sabia onde Queiroz se escondia até ser preso no dia 18. Esse é o índice de popularidade considerado crítico na política para a abertura de processos de impeachment.
Bolsonaro segue com o mesmo perfil de aprovação. O rejeitam mais jovens (16 a 24 anos, 54%), detentores de curso superior (53%) e ricos (renda acima de 10 salários mínimos, 52%). Moradores da região Sul, reduto bolsonarista, aprovam mais o presidente: 42% o acham ótimo ou bom.
Na mão contrária, pessoas de 35 a 44 anos (37%), empresários (51%) e os que sempre confiam em Bolsonaro (92%) são os mais satisfeitos com a gestão do presidente. Bolsonaro não inspira muita confiança. São 46% os que dizem nunca confiar, 20% que sempre confiam e 32%, aqueles que o fazem às vezes.
Novamente, o Sul desponta como uma fortaleza do titular do Planalto, com a menor taxa de desconfiança (35%) entre as regiões. O Nordeste, que se mantém como o local de maior rejeição a Bolsonaro (52% de ruim ou péssimo), é a região que mais desconfia: 53% dos ouvidos nunca dão crédito a ele.
O presidente segue sendo o mais mal avaliado da história em seu primeiro mandato desde a volta das eleições diretas para o Planalto no pós-ditadura, em 1989. Antes dele, o pior índice era de Fernando Collor. Com ano e seis meses de gestão, em setembro de 1991, o hoje senador amargava 41% de rejeição. Acabou impedido em 1992.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era rejeitado por 25% na mesma altura de seu primeiro mandato, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era por 17% e Dilma Rousseff (PT), por 5%. O desgaste dos reeleitos só poupou Lula. FHC tinha 41% de ruim/péssimo a essa altura do segundo mandato, e Dilma acabaria impedida logo após marcar 63%. Já os vices que assumiram após impeachment não foram melhor. Itamar Franco marcou 37% de rejeição no meio de 1994, e Michel Temer (MDB), 71% logo após a eclosão do caso Joesley Batista.
Governadores
Pesquisa do Datafolha mostra que a aprovação dos governadores no trato da pandemia da Covid-19 atingiu o pior nível desde março. A maioria está lidando com um grande número de casos da doença nos estados enquanto discute como reabrir as economias locais.
Após chegar a 58% de ótimo e bom em abril, eles agora estão com 44%. O ruim/péssimo subiu de 16% para 29%.
A notícia é pior para o Sudeste, onde Wilson Witzel (PSC-RJ) está sob cerco policial por supostas irregularidades no combate à pandemia.
A região também é liderada pelo maior antípoda do presidente Jair Bolsonaro na crise, o tucano João Doria (PSDB-SP).
No Sudeste, 35% aprovam o desempenho dos chefes estaduais. Os mais satisfeitos são os sulistas, com 61%.
A insatisfação não para por aí, e atingiu também o Ministério da Saúde. A pasta está sob a gestão interina do general da ativa Eduardo Pazuello.
A pasta iniciara a crise com um índice de ótimo/bom de 55%. Com o protagonismo do então ministro Luiz Henrique Mandetta, o índice saltou a 76% no começo de abril. Contrário às orientações de Jair Bolsonaro, que minimizava a gravidade da pandemia da Covid-19, Mandetta foi demitido.
No fim de abril, sob Nelson Teich, o ministério voltou a ser aprovado por 55%. Teich durou um mês, e seu número 2, Pazuello assumiu. Dez dias depois, no fim de maio, a aprovação do ministério era dez pontos menor. Agora, são 33% os que acham o desempenho da pasta bom, o que aproxima a avaliação à de Bolsonaro, estável há dois meses em apenas 27% de ótimo/bom.
A reprovação ao ministério também cresceu, de um piso de 5% em abril para 34% agora. O regular está estável em 31%.
Já Bolsonaro segue mal avaliado. Em relação ao fim de maio, a rejeição segue estável (49% ante 50%). Entre quem rejeita o governo, só 3% aprovam sua gestão na saúde, enquanto 71% dos que o acham ótimo ou bom estão satisfeitos no item.
Bolsonaro é mais mal avaliado no Sudeste e no Nordeste, onde tem apenas 24% de aprovação e é reprovado por 52% e 55%, respectivamente. O Datafolha também ouviu a opinião sobre os prefeitos, que também caiu em relação à mesma pergunta feita no começo de abril. Consideram o trabalho dos municípios na crise bom ou ótimo 44%, ante 50% antes. A reprovação subiu de 22% para 34% e os que acham a ação regular, foi de 25% para 21%.
Pesquisa por telefone
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, representa o total da população adulta do país. As entrevistas são realizadas por profissionais treinados para as abordagens telefônicas e as ligações feitas para aparelhos celulares, utilizados por cerca de 90% da população.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos, por exemplo. Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela por limitar o uso desses instrumentos.
Na pesquisa divulgada hoje, feita dessa forma para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar. Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários através de central telefônica remota.
Foram entrevistados 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país.
A margem de erro é de dois pontos percentuais. A coleta de dados aconteceu nos dias 23 e 24 de junho de 2020.