FUTEBOL

Brasil lidera volta ao futebol, mas está apto? Veja análise

Segundo País com mais casos de Covid-19 no mundo distoa de vizinhos sul-americanos e, ainda assim, toma dianteira no retorno à modalidade

Campeonato Carioca foi primeira competição a retornar no Brasil - Thiago Ribeiro/Agif/Folhapress

A pandemia da Covid-19 paralisou o futebol em praticamente todo o mundo. Porém, após a passagem do pico de casos e mortes na Europa, as grandes ligas do Velho Continente já retornaram com partidas sem público no estádio. Apoiado nesta tendência, o Campeonato Carioca foi o primeiro no Brasil a voltar com os jogos. A controvérsia, no entanto, se dá exatamente porque o País se consolidou como epicentro da doença, enquanto alguns vizinhos na América do Sul, mais estabilizados em relação ao problema, não tiveram o regresso das competições. 

O Uruguai, por exemplo, possui cerca de 250 casos por um milhão de pessoas, segundo dados do Google. Já o Brasil possui em torno de 5.600 contaminados dentro da mesma estatística. O Paraguai, que havia registrado apenas 13 mortes confirmadas por Covid-19 - até o fechamento desta edição -, também é exemplo na luta contra o novo coronavírus. O tamanho desses países precisa ser considerado, claro, mas isso também atesta como a pandemia se propagou nesses locais. 

A outra vertente que pode ser levantada é em relação às estratégias de retorno para o “novo normal”. Paraguai e Uruguai adotaram políticas diferentes no combate à pandemia e, mesmo assim, conseguiram impedir o avanço da Covid-19. O país da bacia do Prata contou com uma consciência social pouco vista nos tempos atuais. Conhecida como a “quarentena voluntária”, os próprios comerciantes decidiram fechar as lojas e o país não precisou impor medidas mais radicais para o controle da pandemia, por exemplo. O Paraguai, por outro lado, implantou ações de isolamento social mais rígidas.

Chama atenção o fato de que, mesmo equilibrados na situação da pandemia, Paraguai e Uruguai ainda não retornaram com as partidas de futebol. Cientes de que a América do Sul é o atual epicentro da Covid-19 no mundo e do risco que uma partida poderia oferecer, os países decidiram estipular o retorno das atividades esportivas para a metade de julho, no caso paraguaio, e meados de agosto, para os uruguaios.

Tal cenário evidencia o questionamento se o Brasil queimou a largada no retorno ao futebol. “Na minha visão, a volta foi bem antes do que devia. Nós podemos traçar paralelos com Alemanha e Inglaterra, por exemplo, e perceberemos o absurdo. Na Alemanha, a situação do coronavírus estava mais ou menos controlada, mas os números estavam caindo. Mesmo assim, eles permaneceram realizando diversos testes e cumpriram um protocolo enorme para o início dos jogos. Já na Premier League foram mais de oito mil testes e apenas 16 pessoas estavam contaminadas. Só o Corinthians, aqui no Brasil, teve 21 infectados”, afirmou comentarista da ESPN Brasil, Mário Marra. 

Vale salientar que o Campeonato Carioca foi a primeira competição esportiva a retornar no Brasil, mas outros estaduais, como Gauchão (19 de julho) e Mineiro (26 de julho) já tem data prevista para voltar. O Pernambucano deve ser retomado no dia 05 de julho, caso haja liberação por parte do Governo do Estado. Já a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) projeta para o fim de semana dos dias 08 e 09 de agosto o início das Séries A e B do Nacional.

Na última quinta-feira, a Fifa confirmou que o início das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 na América do Sul e Europa será em setembro, fazendo levantar questionamentos também em relação à retomada da Taça Libertadores e da Copa do Sul-Americana. “Não consigo enxergar uma competição internacional funcionando do jeito que o Brasil vem cuidando do coronavírus. Se você tem um vizinho com um problema completamente indomável e tem feito vítimas a cada dia, você não vai abrir a porta para ele entrar. Nós temos mais de 50 mil mortos”. Até a última sexta-feira, o Brasil registrava 55.961 mortes e 491.113 casos confirmados de Covid-19.

Além disso, ainda há de se verificar a situação com as fronteiras do Brasil, que permanecem fechadas e sem previsão de abertura. Os jogadores também são um problema indireto. Isso porque diversos atletas das seleções não atuam na América do Sul e vem de outros continentes. Mesmo com todos os testes e medidas de precauções, existe a possibilidade da contaminação de um profissional e o mesmo disseminar o vírus.