Ex-namorada de Epstein é presa nos EUA e acusada de tráfico sexual
Os crimes foram cometidos entre 1994 e 1997, de acordo com a promotoria
A britânica Ghislaine Maxwell, acusada pela justiça americana de colaborar com o financista Jeffrey Epstein em crimes sexuais contra menores, foi acusada nesta quinta-feira (2) em seis casos de tráfico sexual de meninas após ser presa pelo FBI no estado de New Hampshire, no último capítulo de um escândalo que salpica a família real britânica.
A promotoria do distrito sul de Nova York indiciou Maxwell, ex-namorada de Epstein, 58 anos, por duas acusações de conspiração para convencer menores a viajar para cometer atos sexuais ilegais, duas acusações de conspiração e transporte de menores com a intenção de atividade sexual ilegal e dois crimes de obstrução da justiça por mentir sob juramento.
Os crimes foram cometidos entre 1994 e 1997, de acordo com a promotoria.
Se considerada culpada, Maxwell poderá enfrentar uma sentença máxima de prisão perpétua.
Um método para recrutar garotas
Durante quatro anos, Maxwell "facilitou, ajudou e contribuiu para o abuso de meninas menores de idade por Jeffrey Epstein, entre outras coisas ajudando a Epstein a recrutar, preparar e finalmente abusar de vítimas conhecidas" de ambos, menores de 18 anos, ressalta o texto da acusação.
Maxwell e Epstein tinham "um método": convidavam adolescentes vulneráveis a irem ao cinema, a fazer compras e perguntavam por sua escola e família, disse Audrwy Strauss, promotora interina do distrito sul de Nova York, durante coletiva de imprensa.
"Ela as fazia sentir que tinham uma dívida com Epstein", disse. Às vezes, Maxwell participava do abuso sexual das adolescentes, algumas com apenas 14 anos, inclusive em massagens sexuais; às vezes, só olhava, acrescentou a promotora.
Maxwell, cujo paradeiro era desconhecido até esta quinta-feira "foi presa às 8h30 desta manhã sem incidentes em Bradford, New Hampshire", disse à AFP a porta-voz do FBI de Boston Kristen Setera.
Foi apresentada em seguida perante uma juíza local por videoconferência, transmitida por telefone a jornalistas e ao público.
A juíza decretou que ela deve permanecer detida e ser transferida a Nova York, onde foi indiciada.
"Recentemente soubemos que estava escondida em uma residência magnífica em New Hampshire, onde continuava vivendo uma vida de privilégios, enquanto suas vítimas vivem com o trauma que lhes foi provocado há anos", disse Bill Sweeney, chefe do FBI em Nova York, a jornalistas.
Epstein, que se declarou inocente, cometeu suicídio aos 66 anos em uma prisão de Nova York em agosto passado, onde aguardava julgamento por tráfico sexual de menores.
Amigos ricos e famosos
Várias acusadoras de Epstein disseram que Maxwell, filha do falecido magnata do jornalismo Robert Maxwell, era quem mantinha uma rede de meninas para satisfazer os prazeres sexuais do financista e de vários de seus amigos ricos e famosos.
A promotora de Nova York Audrey Strauss insistiu nesta quinta-feira em seu desejo de entrevistar o príncipe britânico Andrew sobre sua amizade com Epstein, iniciada depois que os dois foram apresentados por Maxwell.
"Gostaríamos de ter o benefício de seu testemunho", disse Audrey Strauss, procuradora interina do Distrito Sul de Nova York, em entrevista coletiva.
A promotoria de Nova York acusa o príncipe Andrew de não querer cooperar com a investigação. O príncipe de 60 anos nega categoricamente ter tido relações sexuais com uma garota de 17 anos que Epstein teria arranjado para ele.
A jovem, Virginia Giuffre, alega que foi traficada para fazer sexo com Epstein e seus amigos e disse que fez sexo com o príncipe na casa de Maxwell em Londres em 2001.
O segundo filho homem da rainha Elizabeth II foi forçado a abandonar seus deveres reais devido à polêmica desencadeada por sua entrevista com a BBC no final de 2019, na qual defendeu sua amizade com Epstein.
O financista, gerente de um fundo de investimentos que administrava milhões de dólares, era amigo de muitas celebridades, incluindo o presidente americano, Donald Trump.
Ele foi acusado de tráfico sexual de menores e de conspiração para cometer tráfico sexual de menores. Se ele fosse considerado culpado, cumpriria pena de até 45 anos de prisão.
Dezenas de suas supostas vítimas processaram seus herdeiros para obter justiça, apesar de sua morte.
Maxwell também entrou com uma ação judicial em março passado contra os herdeiros de seu ex-namorado e alegou que não tinha conhecimento de seus crimes sexuais com garotas.
Epstein foi condenado em 2008 na Flórida por pagar jovens por massagens, mas ele só passou 13 meses na prisão depois de chegar a um acordo sigiloso com o advogado do estado que lhe permitiu sair durante o dia para trabalhar.
Sua morte foi considerada suicídio, mas alimentou teorias da conspiração. Alguns afirmam que ele foi assassinado para impedi-lo de revelar informações comprometedoras sobre seus amigos poderosos.