Pandemia faz drive-in ressurgir como opção de entretenimento
Sucesso no passado, modalidade de evento foi retomada em diversas cidades brasileiras e chega ao Recife ainda neste mês
Até poucos meses atrás, a imagem de um pátio repleto de carros estacionados, com os passageiros assistindo a filmes dentro dos veículos, era algo possível de se ver apenas em filmes de época ou fotos antigas. Comuns até a década de 1980, os cinemas drive-in estavam praticamente extintos no Brasil, mas retornaram ao mercado após a pandemia do novo coronavírus.
Com as salas de cinema fechadas e a recomendação de distanciamento social, a antiga modalidade de exibição se tornou uma opção de entretenimento fora de casa. Vários países passaram a adotar essa alternativa, utilizando-a não apenas para projeções de filmes, mas também para outros eventos, como shows, raves e apresentações teatrais.
Antes da pandemia, o Cine Drive-in Brasília, no Distrito Federal, era o único espaço voltado para esse formato de exibição em funcionamento no País. Atualmente, os empreendimentos se espalham por diversas cidades brasileiras, como São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. No Recife, eventos do tipo já estão autorizados pelo poder municipal. A estreia na Capital pernambucana deve ocorrer no dia 16 de julho, com o Planeta Drive-in, marca que já opera em Curitiba.
“As pessoas estão querendo se divertir, sair um pouco de casa, mas sem arriscar a saúde. Percebendo essa demanda, fomos atrás de alternativas e encontramos o drive-in, que já é tendência mundial. Para executar isso, procuramos uma empresa que já tivesse experiência com a tecnologia e os protocolos de segurança necessários”, explica Juliana Cavalcanti, produtora responsável por trazer o projeto da Planeta Drive-in para Pernambuco.
O cinema a céu aberto ficará montado numa área no bairro do Pina, entre as avenidas Boa Viagem e Antônio de Góes. A programação prevê exibições de longas-metragens como “Era uma vez em Hollywood”, “Sonic - O Filme”, “1917” e “Parasita”. A estreia contará com três sessões: às 16h, 19h e 22h. Os ingressos, que custam R$ 70 por carro, estarão à venda a partir de 9 de julho. A proposta é incluir shows, palestras e outros eventos na agenda do espaço. A capacidade do espaço escolhido é de 150 carros, com permissão de quatro passageiros por veículo. Cada carro, passará por um processo de higienização externa antes de ser encaminhado até a vaga adquirida.
A produtora carioca Dream Factory tem planos de implementar um projeto semelhante em oito praças, incluindo o Recife. A montagem do chamado Dream Park por aqui ainda está em fase de negociações. O CEO da empresa, Claudio Romano, vê no novo negócio uma forma de movimentar o mercado de entretenimento, que foi fortemente afetado pela pandemia. “Existem as opções culturais pela internet que, sem dúvida, têm ajudado bastante neste período de isolamento social, mas o drive-in oferece ao público a oportunidade de sair de casa com segurança. Nada se compara à energia de assistir um show ao vivo, por exemplo. Nosso objetivo é oferecer um pouco dessa energia, a possibilidade de estar junto a outras pessoas, mesmo que seja cada um em seu carro”, afirma.
Adiado em função da Covid-19, o Cine-PE foi o primeiro a anunciar a intenção de ressuscitar o cinema drive-in em Pernambuco. Para a coordenadora do festival, Sandra Bertini, a modalidade será mais uma janela de visibilidade para o audiovisual nacional. “Será um evento gratuito, em complemento ao Cine-PE virtual, que está todo montado e será realizado de setembro até dezembro, com várias ações”, aponta a produtora, que no momento estuda quatro terrenos possíveis para a realização da proposta.
Recomendações
Para evitar a propagação do coronavírus, os novos drive-ins de entretenimentos adotam algumas estratégias. A venda de ingressos, por exemplo, é somente on-line. Comidas e bebidas são solicitadas por aplicativo e entregues pelos atendentes no carro. As filas para os banheiros também são organizadas por meio de app. O áudio é captado, via rádio, pelo sistema de som do carro.
Segundo o médico infectologista Gabriel Serrano, o ideal é que os espectadores permaneçam de portas e janelas fechadas durante as sessões. “O fato de ser um lugar aberto não quer dizer que o vírus vai desaparecer. Ele só será levado por uma área maior e isso pode fazer com que ele seja transmitido de um carro para outro, se tiver alguém infectado no local”, alerta.
Passado
Os cinemas drive-in foram importados dos Estados Unidos, onde surgiram na década de 1930. A moda chegou ao Recife tardiamente, em 1977, quando foi inaugurado o Autocine Drive-in, no antigo Aeroclube de Pernambuco, localizado bairro do Pina. Vicente de Paulo, de 60 anos, trabalha como projecionista do empreendimento de 1979 até seu fechamento, em 1984.
“A procura era muito grande naquela época. Na entrada sempre se formava uma fila enorme de carros, começando na Avenida Boa Viagem. Eram duas sessões diárias, além das matinês. Garçons serviam os lanches nos carros. A tela era muito grande: 10mx25m, sustentada por sete postes. O projetor era 35mm, movido a carvão”, relembra o ex-funcionário. O drive-in exibia os sucessos de bilheteria da época, assim que eles saiam das salas convencionais, como como “O grande chacal”, “O império dos sentidos” e “Inferno na torre”.
Em 1983, a cidade ganhou O Autocine Joana Bezerra, que funcionava no terreno onde atualmente fica o Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano. O empreendimento, no entanto, não durou muito tempo e encerrou suas atividades ainda nos anos 1980.