Larissa Lisboa: "Quero fazer música até os últimos instantes, viver de música, conhecer gente"
Cantora e compositora pernambucana constrói, a sós, carreira em direção ao primeiro disco
Crescer ouvindo o que os pais consumiam, cantar no coral da igreja, aprender violão e enveredar pelo universo da música. Percurso comum entre histórias contadas por artistas que se remetem aos idos de como tudo começou.
A cantora e compositora pernambucana Larissa Lisboa seguiu o mesmo fluxo, não fugiu à regra. No meio do caminho, entretanto, assumiu as rédeas de um destino que desde cedo a direcionava para os palcos e tem sido desenhado para findar em um estúdio de gravação, em breve.
“Eu faço exatamente tudo sozinha”, revela ela, em conversa com a Folha de Pernambuco. “Eu consigo me vender sozinha. Chego, boto o som, não dependo de ninguém. Gosto de ser independente, de ter a possibilidade de dizer que sim, eu vou tocar só”, diz Larissa que, munida de rabeca, ukulele e violão, além de intérprete e compositora, é também instrumentista.
De voz suave, que se harmoniza a sintetizadores e beats em meio a piano, violão e outros instrumentos orgânicos, Larissa Lisboa recentemente lançou “Eu Choro, Não Nego” – terceiro single que contou com participação de Amaro Freitas.
Antes dele vieram “Não Sou Eu” e “É Amor Que Eu Tenho e Nada Mais”, compilação de uma carreira ainda embrionária, mas não menos importante, e já com peso suficiente para integrar o seleto rol das novas vozes da cena independente da música pernambucana.
“Como toda profissão, há dificuldades, mas ser independente traz coisas a mais. É um mercado difícil de entrar, inclusive por causa do público e das oportunidades de não se ter uma boa janela que mostre seu trabalho. Além da questão da grana. Eu consegui lançar os singles porque trabalho cantando em casamentos”, conta Larissa que também já foi veterana de bares e restaurantes da Cidade.
Ser mulher
Larissa é "mulher, preta e de cabelos crespos”, como ela mesma se descreve. Incrivelmente (ainda) são fatores que trazem embaraços à sua carreira e mais especificamente em apresentações que é chamada para fazer em festas, por exemplo.
“A questão de ser mulher... As pessoas agem como se não existisse isso, mas quando você chega a um lugar para se apresentar, as pessoas acham que você trabalha com qualquer outra coisa, menos como artista. Agora estou com o cabelo raspado, mas meu cabelo é crespo, sou preta. E as pessoas acham que estou ali para trabalhar servindo. Mas não há problema nisso, inclusive fazer música é também servir”.
Sob influência da batida nordestina mesclada ao pop, Larissa vai de Dominguinhos a Nina Simone e Beyoncé, o que a faz refletir sobre qual é o seu estilo. O seu primeiro projeto, no entanto, um disco que está aos poucos sendo concebido, “a questão do instrumento orgânico, violão, piano, sanfona e beats", é o que vai ser explorado.
Ao lado de Lucas Maia, seu “amigo e produtor”, Lisboa segue sem ansiedades, galgando caminhos para chegar ao primeiro disco e consolidar o seu diálogo com a música. “É a forma que eu me sinto, entendo o mundo”, explica ela que curte a vibe de “ir crescendo aos poucos, fazendo o dela sozinha”.
“Quero fazer música até os últimos instantes, quero viver de música, conhecer gente, fazer trocas. Quero viajar, tocar as pessoas, causar alegrias, lembranças, sentimentos. Até já proporciono isso, pessoas que me ouvem, me dizem. Então nesse quesito, ao menos, é como se eu tivesse chegado lá”, ressalta.
A caminho estão um novo single e o clipe de “Chora Não Nego”, cuja letra assim como as demais assinadas por ela, não veio de inspirações comuns de paisagens expostas por janelas abertas. “Eu estava voltando para casa, aleatoriamente quis falar de saudade. As canções de que mais gosto vieram de momentos que eu não esperava”.