Empresários da educação comemoram indicação de Feder para Ministério da Educação
Antes de assumir um cargo público, Feder atuava no mundo corporativo, como CEO de uma empresa de tecnologia, a Multilaser
Mesmo que pouco conhecido na área educacional, o nome de Renato Feder, convidado para comandar o Ministério da Educação, agradou empresários do setor pelo perfil empreendedor, liberal e proximidade com o segmento privado. Para estudantes e secretários de educação, as mesmas características geram preocupação.
Secretário de educação do Paraná, Feder foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para chefiar o MEC.
A expectativa é que Feder possa levar à frente pautas defendidas pelo setor, especialmente ações de apoio para faculdades e escolas privadas que projetam impacto negativo com a crise financeira provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Com pouca interlocução no MEC nos últimos 14 meses, sob o comando do ex-ministro Abraham Weintraub, os empresários esperam que Feder seja mais sensível às demandas do setor. Além do auxílio financeiro, eles defendem menor regulação para a rede particular, mais liberdade para o ensino a distância e incentivos para parcerias público privadas na educação.
Em sua gestão no governo Ratinho Jr. (PSD), Feder se aproximou do setor privado para desenvolver ações para as escolas estaduais, com parcerias, por exemplo, com a Fundação Lemann. Antes de assumir um cargo público, ele atuava no mundo corporativo, como CEO de uma empresa de tecnologia, a Multilaser.
"Renato Feder é um nome com potencial por seu perfil jovem, empreendedor e liberal", diz nota enviada nesta sexta (3) pela Fenep (Federação Nacional de Escolas Privadas). Para o presidente da entidade, Ademar Pereira, por defender "ideais liberais" o novo ministro deve apoiar a reabertura dos colégios.
"Imediatamente vamos pedir uma audiência com ele, solicitando apoio para a reabertura já que há a resistência de muitos governadores e prefeitos para a volta às aulas presenciais. Ele também tem uma visão importante sobre outros temas como vouchers e terceirização na educação e que serão muito bem-vindos", disse.
Em livro publicado em 2007, Feder defendeu a privatização de todo o ensino público, a começar das universidades. A proposta incluía também a concessão de vouchers para as famílias matricularem os filhos em escolas privadas, ideia também defendida por Bolsonaro durante a campanha.
Para Pereira, os vouchers podem ser uma opção importante para a educação infantil, especialmente com a crise, quando muitas escolas particulares perderam matrículas.
Por ter ligação com o mercado de tecnologia, os empresários também esperam que Feder implemente ações que apoiem e ampliem o ensino a distância na educação básica e superior.
"O novo ministro já havia manifestado sua inclinação para políticas públicas mais eficientes, consistentes e objetivas e estratégias pedagógicas mais inovadoras", disse em nota o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior), que considera as medidas fundamentais para ampliar acesso.
As faculdades privadas também defendem que o MEC amplie o Fies (Financiamento Estudantil) de forma emergencial para evitar que os alunos desistam dos cursos de graduação por causa da pandemia. Com Weintraub, a proposta não recebeu apoio, mas avaliam que possa haver adesão de Feder.
"Para evitar que a evasão piore, vamos precisar dessa atuação do poder público. Acredito que o Feder, por essa combinação de empreendedor e agente de políticas públicas, entenderá a importância dessa ação para o ensino brasileiro", disse Celso Niskier, presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior).
A aproximação com o setor privado e a defesa de ideias liberais, no entanto, preocupa estudantes e secretários municipais e estaduais de educação. Eles temem o enfraquecimento, por exemplo, da proposta do Fundeb, principal mecanismo de financiamento da educação básica.
"[Preocupa] a ligação que esse projeto tem com as alas ultraliberais, levando à indicação de Feder, que abertamente defende teses de privatização", disse a UNE (União Nacional dos Estudantes).