Rompimento

EUA inicia saída formal da Organização Mundial da Saúde

Postura de Trump é vista como forma de tirar o foco da gestão trágica da epidemia no país

Donald Trump, presidente dos EUA - Pool / Getty Images North America / Getty Ima

O governo de Donald Trump iniciou, nesta terça-feira (7), a retirada formal dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), cumprindo as ameaças que fez em várias ocasiões ao criticar a entidade por sua resposta à pandemia de coronavírus. Os Estados Unidos são o maior doador da OMS, uma organização que lidera a luta global contra doenças como poliomielite, sarampo e também contra epidemias de saúde mental. A decisão de Trump de deixar a agência com sede em Genebra gerou uma onda de críticas. 

Trump acusou a OMS de encobrir a magnitude da pandemia de coronavírus e disse que as posições da organização estão muito próximas da China, onde o vírus foi detectado pela primeira vez em dezembro. Ele também culpa a China por sua disseminação. Após várias ameaças de Trump de suspender contribuições da ordem de US$ 400 milhões por ano, o presidente dos EUA finalmente notificou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, de que seu país começa a retirada do organismo, informou um porta-voz do Departamento de Estado.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, respondeu com um Twitter com a palavra "Juntos!" e um link para uma discussão com especialistas norte-americanos sobre como a saída do país do órgão global poderá dificultar os esforços para evitar futuras pandemias. A retirada entraria em vigor em um ano - 6 de julho de 2021 -, mas Joe Biden, rival democrata de Trump na disputa eleitoral de novembro, afirmou que se vencer, ele reverterá imediatamente a decisão. 

"Os americanos estão mais seguros quando os Estados Unidos se comprometem a fortalecer a saúde global. No meu primeiro dia como presidente, voltarei à @WHO (OMS) e restaurarei nossa liderança no cenário mundial", escreveu Biden no Twitter.

"Controle total"
A carta de notificação foi enviada depois que Trump anunciou, em 29 de março, que seu país estava deixando a organização por causa de diferenças de tratamento em relação à China, alegando que Pequim estava "no controle total" da organização. 

Muitos críticos do presidente afirmaram que este anúncio se trata de uma distração para a opinião pública sobre a gestão da pandemia nos Estados Unidos. Os Estados Unidos são o país com mais mortes por coronavírus (mais de 130.306) e enfrentam um aumento de infecções no sul e oeste do país. 

O anúncio chega em um momento em que a OMS alertou para a crescente evidência de uma possível transmissão aérea do vírus, que já deixou mais de 539.620 mortos em todo o mundo. "Isso não vai proteger a vida ou os interesses dos americanos, deixa-os doentes e solitários", disse o senador democrata Bob Menendez, que considerou resposta de Trump à pandemia caótica e irresponsável. 

O representante democrata Ami Bera, que é médico, disse que os Estados Unidos trabalharam de mãos dadas com a OMS para erradicar a varíola e conseguiram quase acabar com a pólio. "Nossos casos estão aumentando", denunciou o legislador, referindo-se ao coronavírus. "Se a OMS é culpada, por que os Estados Unidos estão ficando para trás de países como Coreia do Sul, Nova Zelândia, Vietnã e Alemanha quando se trata de voltar ao normal?", questionou Bera. 

Até alguns aliados republicanos de Trump expressaram suas expectativas de que o presidente não tomasse a decisão final de deixar a organização. O governo Trump disse que a OMS ignorou os primeiros sinais de transmissão humano-a-humano do novo coronavírus, incluindo avisos feitos por Taiwan, que não faz parte do órgão da ONU por pressão de Pequim. 

Apesar de várias autoridades de saúde concordarem em criticar a OMS até certo ponto, elas também argumentam que a organização não tinha outra opção além de trabalhar com a China em uma situação de emergência.