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Governo demite coordenadora do Inpe responsável por monitorar desmatamento

A exoneração de Lúbia Vinhas do cargo foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (13)

Lúbia Vinhas - Divulgação/Academia Brasileira de Ciência

O governo demitiu a coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), estrutura responsável pelos sistemas de monitoramento de desmatamento na Amazônia. A exoneração de Lúbia Vinhas do cargo foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (13), em portaria assinada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

Lúbia é formada em Ciência da Computação pela Universidade Federal de São Carlos e tem mestrado e e doutorado pelo Inpe. Segundo sistema Lattes, ela é pesquisadora do instituto desde 1997, onde já chefiou a Divisão de Processamento de Imagens.

O Inpe não se manifestou sobre o assunto até a publicação desta reportagem.
 



A demissão de Lúbia ocorre em meio à divulgação de dados que apontam o avanço do desmatamento na Amazônia e com o Brasil sob forte pressão internacional.

Na sexta-feira (10), informações divulgadas pelo Inpe mostraram que o desmatamento na Amazônia teve mais um mês de alta em relação ao ano anterior, o 14º seguido, e é o maior desde 2016. Os dados são do Deter, levantamento de alertas de alteração da cobertura florestal na Amazônia que, dentro do Inpe, está ligado à coordenadoria que era chefiada por Lúbia.

A destruição da floresta cresceu cerca de 10% em relação ao mesmo mês de 2019 e atingiu o maior valor de km² destruídos da série histórica recente, que começou em 2015. Junho registrou mais de 1.000 km² destruídos.

A portaria da demissão da servidora, embora publicada nesta segunda, é datada de 6 de julho, portanto anterior à divulgação do dado.

À reportagem, Lúbia afirmou, em mensagem por escrito, que volta às suas atividades de pesquisadora do Inpe e destacou que o monitoramento da Amazônia não é responsabilidade de uma única pessoa. "[Essas atividades] são executadas dentro do Programa de Monitoramento da Amazônia e demais Biomas, que é ligado na estrutura do INPE à Coordenadoria-Geral de Observação da Terra, mas que tem um coordenador próprio, o Claudio Almeida."

"Eu acredito que a minha saída da Coordenação está relacionada diretamente ao processo de reestruturação do Inpe que vem sendo proposto pela atual direção, e não em resposta direta a números relacionados ao monitoramento", destacou.

O monitoramento de maio também já apontavam para crescimento do desmatamento. Naquele mês, a devastação no bioma aumentou 12% em relação a 2019.

O Inpe foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro durante o primeiro ano de seu governo, que criticou dados do instituto que apontavam aumento do desmatamento.

O confronto levou à exoneração do físico Ricardo Galvão da direção do Inpe, que deixou o posto defendendo as análises e a confiabilidade dos relatórios do órgão.

Leia também: Amazônia sob Bolsonaro O vice-presidente Hamilton Mourão, que assumiu a presidência do Conselho da Amazônia, disse nesta segunda que o desmatamento na Amazônia não vai apresentar redução em 2020.

Ele coordena a resposta do governo à pressão internacional que exige diminuição da devastação ambiental e que ameaça retirar investimentos do Brasil. Mourão tem admitido que o país precisa apresentar resultados na área.  

"Não será melhor do que no ano passado. Isso aí eu posso te dizer tranquilamente, porque nós devíamos ter começado o combate ao desmatamento em dezembro do ano passado ou no mais tardar em janeiro deste ano. Fomos começar agora em maio", disse o vice-presidente, durante transmissão ao vivo promovida pelo Genial Investimentos.

Além da culpar a demora nas ações de enfrentamento, o vice-presidente também atribuiu parte da responsabilidade aos governos anteriores, que segundo ele permitiram o sucateamento e a redução no efetivo das equipes que atuam na fiscalização.

Por outro lado, o vice-presidente afirmou que haverá redução na quantidade de queimadas na Amazônia.

"Dados de hoje do Inpe colocam que nós tivemos uma redução de 20% [nas queimadas] em relação ao primeiro semestre do ano passado, então isso é uma redução significativa", disse. "Então, para o segundo semestre, que é o momento pior da queimada, nós temos consciência que vamos atingir resultados melhores."

Mourão também disse que os investidores estrangeiros não compreendem a realidade da Amazônia e que as críticas são "uma questão de momento".

"A partir do momento em que apresentarmos resultados positivos, como, por exemplo, no segundo semestre deste ano ou já agora, com a questão das queimadas tendo reduzido, e uma redução extremamente significativa no segundo semestre, eu tenho a visão de que todo mundo vai voltar a investir bem aqui no Brasil", argumentou.