Médicos franceses relatam transmissão de coronavírus dentro do útero
Testes mais extensos de várias amostras de mãe e do bebê indicaram que o vírus passou do sangue da mulher para placenta
Médicos franceses relataram na Nature Communications o que pode ser o primeiro caso comprovado de transmissão do novo coronavírus pela placenta, da mãe grávida para o bebê no útero.
A mãe, de 23 anos, recebeu alta seis dias depois do parto, e o menino, que nasceu no final de março, recebeu alta em 18 dias e também está bem.
A direção do hospital Antoine Béclère afirmou que o caso é raro, mas reforça a importância de manter distanciamento físico, lavar as mãos, usar máscaras e proteger o rosto com a parte interna do braço em episódios de tosse ou espirro.
A grávida foi internada no hospital universitário Antoine-Béclère, em Paris, com oito meses completos de gestação, porque apresentava tosse severa e febre de 38,6 °C. Até então, ela não havia apresentado problemas na gestação.
Testada logo após a internação, ela teve exames positivos para Sars-CoV-2, o novo coronavírus, no sangue e em amostras de secreções na narina e da vagina.
Como os médicos detectaram que a frequência cardíaca do bebê estava se alterando, fizeram uma cesariana de emergência, sob anestesia geral e em uma sala totalmente isolada.
O líquido amniótico que envolve o bebê foi coletado antes da ruptura das membranas, e também teve teste positivo para o coronavírus.
O menino, que nasceu com 2.540 gramas, recebeu ventilação não invasiva assim que nasceu e depois foi intubado para receber oxigênio, porque foi afetado pelo anestésico aplicado durante o parto. Ficou totalmente isolado na unidade de terapia intensiva neonatal, em uma sala de pressão negativa (que impede a contaminação).
Exames de sangue e de líquido retirado do pulmão do bebê também tiveram resultado positivo para o Sars-CoV-2, assim como material coletado do nariz, da faringe e do reto na primeira hora de vida.
No terceiro dia, o bebê começou a ficar subitamente irritado, teve espasmos musculares e dificuldades de alimentação, afirma o estudo. Novos exames mostraram inflamação no cérebro, com alterações no tônus muscular e na motricidade.
O menino não foi medicado com antivirais ou outro tratamento específico e se recuperou gradualmente até a alta.
Testes mais extensos de várias amostras da mãe e do bebê indicaram que que o vírus passou do sangue da mulher para placenta, onde se replicou, causou inflamação e depois atingiu o feto.
Nos dois meses seguintes, a criança mostrou melhora neurológica, redução da lesão no cérebro e crescimento e demais exames clínicos normais.
Os autores do artigo afirmam que outros casos de potencial transmissão perinatal foram descritos recentemente, mas alguns não conseguiram detectar o Sars-CoV-2 nos recém-nascidos ou relataram apenas a presença de anticorpos específicos.
Alguns trabalhos encontraram o coronavírus nos bebês, mas não conseguiram especificar a via de transmissão, porque a placenta, o líquido amniótico e o sangue materno ou neonatal não foram sistematicamente testados.
De acordo com os médicos, um recém-lançado sistema de classificação determina que uma infecção congênita neonatal pode ser considerada comprovada se o vírus for detectado no líquido amniótico coletado antes da ruptura das membranas e no sangue coletado no início da vida, condições presentes no caso francês.