China responde ameaças de Trump sobre 'repressão' em Hong Kong
O presidente americano promulgou uma lei que prevê sanções contra autoridades de Hong Kong e da China
A China ameaçou nesta quarta-feira (15) adotar represálias contra os Estados Unidos, depois que o presidente americano, Donald Trump, promulgou uma lei que prevê sanções ante a "repressão" de Pequim em Hong Kong.
O governo chinês adotou em junho uma dura lei de segurança nacional no território semiautônomo que provoca o temor de retrocesso das liberdades na ex-colônia britânica, um texto criticado por muitos países ocidentais.
Neste sentido, Trump aumentou a pressão na terça-feira e anunciou o fim do tratamento econômico preferencial que Washington concedia até o momento a Hong Kong, um importante centro financeiro internacional.
O presidente americano também promulgou uma lei que prevê sanções contra autoridades de Hong Kong e da China.
"Hoje assinei a legislação e ordem executiva para que a China seja responsabilizada por suas ações opressivas contra o povo de Hong Kong", afirmou Trump, em uma coletiva de imprensa.
O decreto acaba com o tratamento comercial preferencial em vigor até agora. "Agora Hong Kong será tratado de maneira igual à China continental", disse Trump, o que significa que o território perderá o tratamento econômico especial e o acesso às exportações de tecnologia considerada sensível.
Também disse que não tem a intenção de participar de uma reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, para reduzir as tensões.
O presidente americano afirmou que muitos cidadãos de Hong Kong devem abandonar o território, de 7,5 milhões de habitantes. "A liberdade lhes foi tirada, seus direitos lhes foram tirados", disse.
Pequim considera a lei "uma interferência flagrante nos assuntos de Hong Kong e nos assuntos internos da China", afirma um comunicado divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério chinês das Relações Exteriores.
"Para proteger seus interesses legítimos, a China aportará a resposta necessária e imporá sanções a pessoas e entidades americanas pertinentes", afirma a nota.
Liberdade e estabilidade
A lei sobre a autonomia de Hong Kong, aprovada por unanimidade no início de julho no Congresso americano, tem como alvo não apenas as autoridades chinesas, mas também a polícia de Hong Kong.
O texto impõe sanções aos que atuam para restringir as liberdades. Além disso, penaliza os bancos que financiarem atividades que prejudiquem a autonomia do território.
"A China seguirá firme em sua determinação e sua vontade de proteger sua soberania", repetiu Pequim, que não tem qualquer intenção de revogar a lei sobre segurança nacional.
Os críticos afirmam que a lei representa um retrocesso inédito desde 1997, quando o Reino Unido devolveu à China a soberania de Hong Kong.
A lei chinesa pretende reprimir as atividades subversivas, a secessão, o terrorismo e o conluio com forças estrangeiras que coloquem em risco a segurança nacional.
Washington considera que o texto deseja calar a oposição de Hong Kong após as grandes manifestações pró-democracia do ano passado contra a influência de Pequim no território.
A China afirma, no entanto, que a lei permitirá mais estabilidade e acabará com a violência que marcou os protestos de 2019, além de permitir a repressão ao independentismo.
Impacto devastador
Julia Friedlander, do "think tank" Atlantic Council, destacou que as sanções americanas "criarão instantaneamente barreiras comerciais e terão um impacto devastador sobre Hong Kong como porta de entrada financeira para os mercados ocidentais".
Washington aumentou a pressão sobre Pequim nos últimos dias também em outros temas.
Na segunda-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, apoiou os países vizinhos da China no conflito territorial no Mar da China Meridional.
Washington também conseguiu uma vitória na luta contra o grupo chinês de telecomunicações Huawei, que a administração americana acusa de espionagem para o governo de Pequim, depois que a Grã-Bretanha anunciou na terça-feira que vai retirar de sua rede de Internet 5G todos os equipamentos produzidos pela empresa.
Na semana passada, o governo dos Estados Unidos anunciou que rejeitaria os vistos de três altos funcionários chineses acusados de planejar, em nome da luta antiterrorista, a repressão contra os muçulmanos uigures em Xinjiang, uma região do noroeste da China.