Após críticas, EUA recuam de mudança na forma de coletar dados da pandemia
Governo americano anunciou recuo da mudança de coleta dos dados nesta quinta
Após críticas, o governo dos EUA recuou nesta quinta-feira (16) da mudança na forma como os dados de hospitais são coletados durante a pandemia de coronavírus.
As informações consolidadas sobre leitos disponíveis em centros médicos, assim como os números de profissionais de saúde e de equipamentos de proteção disponíveis, tinham desaparecido da única plataforma oficial que disponibilizava esses números no país.
A Casa Branca havia retirado o controle e a divulgação dos dados sobre o coronavírus do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) e orientado os hospitais a repassarem as cifras ao HHS (Departamento de Saúde e Recursos Humanos).
A exclusão do CDC - um órgão técnico do HHS - levantou questionamentos sobre uma possível falta de transparência na divulgação dos números da pandemia, justamente no momento em que os Estados Unidos batem recordes de novos casos diários da Covid-19.
O país lidera os rankings de mortos e de infectados pela doença. Até esta quinta, foram registrados mais de 3,5 milhões de casos e 137.846 óbitos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.
Embora o diretor do CDC, Robert Redfield, tenha dito que os estados deveriam deixar de enviar as informações sobre os hospitais à plataforma da agência a partir desta quarta (15), Ryan Panchadsaram, responsável pela plataforma Covidexitstrategy, apontou o sumiço de informações já na terça (14).
Nesta quinta, no entanto, o HHS afirmou ter orientado o CDC a colocar os dados sobre os hospitais de volta em sua plataforma. "O HHS está comprometido em ser transparente com a população americana sobre as informações coletadas sobre o coronavírus", afirmou um porta-voz do departamento.
Os dados retornaram à plataforma do CDC, mas com números desatualizados, referentes a terça-feira.
O governo de Donald Trump tem entrado em conflito com especialistas de saúde pública do país, incluindo o CDC. Na semana passada, o presidente criticou as orientações da agência para reabertura de escolas.
A ofensiva também mira o doutor Anthony Fauci, maior especialista em doenças infecciosas dos EUA.
Conforme Fauci, passou a manifestar com mais veemência suas preocupações sobre o aumento nacional de casos de coronavírus, assessores de Donald Trump começaram a criticar seus discursos, fornecendo anonimamente detalhes a vários canais de mídia sobre declarações dadas no início do surto de coronavírus que, segundo eles, foram imprecisas.
O tratamento oferecido a Fauci, que chefia o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas há décadas, como se fosse um adversário político beligerante, foi acompanhado por críticas públicas mais comedidas de autoridades do governo, incluindo o presidente.
Em junho, o Brasil passou por problema similar, ao mudar a metodologia e restringir a divulgação de dados sobre o impacto do novo coronavírus no país. O Ministério da Saúde deixou de informar o total de mortes e o total de casos confirmados da Covid-19 durante a pandemia e subitamente tirou do ar o portal com informações consolidadas.
No dia seguinte, a página voltou, mas com metodologia que levava em consideração apenas as mortes ocorridas e confirmadas nas últimas 24 horas. O método resultava em número de mortes menores e deixava de fora óbitos de outros dias sem confirmação.
Após decisão do STF, o governo recuou e passou a divulgar os dados no antigo formato.