Mortos por coronavírus superam 600 mil em um mundo fragilizado e em crise
Coronavírus é responsável pela contaminação de 14,4 milhões de pessoas desde que surgiu na China, em dezembro passado
O Chile apresentou, neste domingo (19), um plano gradual para sair do confinamento causado pelo coronavírus, que rebrota em vários pontos do planeta, enquanto a Europa negocia um plano de recuperação e Washington defende sua criticada gestão da crise sanitária. O novo coronavírus é responsável por mais de 604 mil mortes em todo o mundo e pela contaminação de 14,4 milhões de pessoas desde que surgiu na China, em dezembro passado.
Sem fixar datas, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou o plano "Passo a Passo" para dar um fim a 60 dias de confinamento, que estabelece cinco parâmetros e cuja data de início e avanço dependerá da situação de cada comunidade e região do país, um dos mais afetados da América Latina, com 330.930 casos e 8.503 mortes.
As cinco fases do plano incluem: "Quarentena" (mobilidade limitada); "Transição" (afrouxamento do confinamento sem reabertura brusca); "Preparação" (suspensão do isolamento com exceção de grupos de risco); "Apertura inicial" (retorno de certas atividades sem aglomerações); e "Abertura Avançada" (etapa superior de atividade).
Na capital chilena, onde vive quase metade dos 18 milhões de habitantes do país, a abertura gradual irá depender das decisões de autoridades e de dados epidemiológicos, de forma progressiva.
"Qualquer coisa" por Bolsonaro
Enquanto isso, em Brasília, simpatizantes de Jair Bolsonaro, em quarentena desde que foi contaminado pela Covid-19, reuniram-se neste domingo para manifestar apoio ao presidente e criticar as medidas de confinamento. Vestidos com as cores da bandeira nacional, os manifestantes seguiram pela Esplanada dos Ministérios exibindo símbolos patrióticos, cruzes e imagens do presidente, que está de repouso em sua residência oficial.
"Faço qualquer coisa para apoiar Bolsonaro, porque estou cansada de ver como ele é boicotado com mentiras", disse à AFP Sonia Delfine, professora de direito que afirmou ter viajado mais de 400 km de motocicleta desde Minas Gerais para participar do ato, que reuniu pessoas de vários estados.
O Brasil, com mais de 78 mil mortes e 2 milhões de casos, é o segundo país do mundo mais atingido pela pandemia em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos.
"Um pouco de liberdade"
Os Estados Unidos, país mais atingido no mundo pela pandemia, registraram cerca de 64.000 novos casos nas últimas 24 horas, totalizando mais de 3,7 milhões de contaminações e 140.000 mortes.
O presidente Donald Trump, em campanha pela reeleição, voltou a defender sua gestão da pandemia e a opor-se ao uso obrigatório da máscara. "Quero que as pessoas tenham um pouco de liberdade", justificou o mandatário republicano em entrevista à emissora Fox News neste domingo. Trump insistiu que os fatos lhe darão razão em relação à afirmação de que o vírus "irá desaparecer".
Joe Biden, candidato democrático à presidência dos Estados Unidos, garantiu que quando Trump "fala do coronavírus, não se pode acreditar em uma palavra sequer do que diz", e pediu ao presidente que "escute alguém além de si mesmo na maneira de combater o vírus".
Passo atrás
Hong Kong, Barcelona e Melbourne são alguns exemplos de lugares que tiveram que dar um passo atrás nos últimos dias devido ao aumento de infecções. "Acho que a situação é realmente crítica e não há sinais de que ela será controlada", declarou, neste domingo, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, instando as pessoas neste território semi-autônomo a aumentar as medidas de distância social e respeitar as restrições em vigor em locais públicos.
Hong Kong foi um dos primeiros lugares a registrar casos de coronavírus após a pandemia surgir no centro da China em dezembro, mas sua gestão foi muito eficaz e em junho quase não havia casos de contaminação local. No entanto, nos últimos 15 dias, 500 contágios foram registrados, incluindo mais de 100 nas últimas 24 horas.
Em Barcelona, segunda maior cidade da Espanha, as autoridades recomendaram que os habitantes ficassem em casa e impuseram outras restrições para evitar grandes reuniões, devido a um aumento significativo de infecções nos últimos dias. A Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia com mais de 28.400 mortes, registra atualmente cerca de 150 surtos ativos, principalmente na Catalunha, mas também em outras regiões como Aragão ou País Basco.
Em Melbourne, segunda maior cidade da Austrália, a máscara protetora será obrigatória a partir de quinta-feira em locais públicos devido ao aumento de infecções (363 nas últimas 24 horas), apesar do confinamento aplicado há dez dias.
Europeus divididos
Devido à pandemia e ao confinamento, o planeta poderá sofrer uma contração econômica de 4,9% em 2020. O declínio seria de 10,2% na zona do euro e 9,4% na América Latina e no Caribe, segundo previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para sair da maior recessão de sua história, a União Europeia (UE) vem discutindo desde sexta-feira um plano para superar os estragos provocados pelo coronavírus. Contudo, o debate tem sido tenso e há chances de fracasso. A proposta é um fundo de 750 bilhões de euros (US$ 840 bilhões) que a Comissão Europeia tomaria emprestado em nome dos 27, um marco no projeto europeu.
Mas seu valor, sua distribuição na forma de subsídios e empréstimos e as condições de acesso provocam a relutância da Holanda, Áustria, Suécia, Dinamarca e Finlândia, que são adeptos ao rigor fiscal.