Violência

Mais de 900 mulheres desapareceram no Peru durante a quarentena

Crimes contra mulheres são um problema recorrente no país e não têm devida investigação

Crimes de violência contra mulheres cresceram durante a pandemia - Marcello Casal Jr/ABR

Mais de 900 mulheres, a maioria crianças e adolescentes, desapareceram no Peru durante os três meses e meio de quarentena nacional pela pandemia, um aumento em comparação com os números anteriores, informou, nesta segunda-feira (27), a Defensoria do Povo.

O desaparecimento de mulheres é um problema endêmico no Peru. Antes do confinamento, eram relatados em média cinco casos por dia, mas o número subiu para oito durante a crise de saúde, segundo a Ouvidoria. 

"Durante a quarentena, de 16 de março a 30 de junho, 915 mulheres foram registradas como desaparecidas no Peru", disse à AFP Eliana Revollar, defensora dos Direitos da Mulher. "Precisamos saber o que aconteceu com elas", disse o defensor Walter Gutiérrez à rádio RPP.

Revollar afirmou "os registros de meninas e adolescentes desaparecidas são os mais altos e excedem 70% do número total". Ela informou que, embora algumas mulheres tenham reaparecido mais tarde, por falta de um registro policial nacional, não se sabe quantas ainda estão desaparecidas. 

Segundo ONGs feministas, a polícia e os promotores não costumam investigar estes casos porque acreditam que elas saíram voluntariamente, sem considerar o alto número de feminicídios, tráfico de seres humanos e prostituição forçada no país. "Há resistência da polícia em pegar esses casos. Exigimos que o registro nacional de pessoas desaparecidas seja concluído", disse Revollar. 

Em janeiro, um caso de grande repercussão foi de Solsiret Rodríguez, estudante universitária e ativista contra a violência de gênero. Ele havia desaparecido há três anos e seu paradeiro não despertou a atenção das autoridades até que seu corpo mutilado fosse encontrado em Lima.

Em 2019, 166 feminicídios foram registrados no Peru e um décimo deles foram catalogados como desaparecimento. Nos primeiros dois meses da quarentena, 12 feminicídios e 26 tentativas deste crime foram registrados no Peru. 

Além disso, 226 meninas e adolescentes foram vítimas de abuso sexual e 27.997 denúncias de violência doméstica foram realizadas por telefone, segundo o Ministério da Mulher. 

A quarentena foi levantada em 30 de junho em 18 das 25 regiões do Peru, incluindo Lima. Com 33 milhões de habitantes, o Peru registrou até domingo mais de 384.000 casos de coronavírus e 18.229 mortes. É o terceiro país com mais infecções e óbitos na América Latina, atrás do Brasil e do México.