Documentário retrata a trajetória de luta do padre Reginaldo Veloso
O filme “Reginaldo Veloso: O Amor Mais Profundo” terá pré-estreia na data do aniversário do religioso
Pároco no Morro da Conceição entre as décadas de 1970 e 1980, o padre Reginaldo Veloso fez história na comunidade da Zona Norte do Recife por seu engajamento em causas sociais. A trajetória do religioso, que enfrentou perseguição dentro e fora da Igreja, é contada no documentário “Reginaldo Veloso: O Amor Mais Profundo”, que terá pré-estreia nas plataformas digitais no dia 3 de agosto, às 20h.
A data escolhida para o lançamento marca o aniversário de 83 anos do padre, que foi destituído de suas funções sacerdotais por suas ligações com a Teologia da Libertação. Primeiro filme dirigido pela pernambucana Daniela Kyrillos, a obra ficará disponível por 48 horas, com acesso gratuito, nas páginas oficiais do documentário no YouTube e no Facebook.
“Nossa ideia inicial era fazer um grande evento no Morro da Conceição, exibindo o filme para toda a população. Por conta da pandemia, a gente não faz ideia de quando isso será possível, mas é algo que ainda está nos nossos planos”, explica a diretora, que ainda planeja inscrever o longa-metragem em festivais.
Formada em engenharia civil e com emprego nesta área, Daniela fez um curso de cinema digital como hobby em 2015. A ideia de fazer o documentário - que conta com produção da Manguezal Filmes - nasceu quando ela visitava o Morro da Conceição em busca de locação para um curta-metragem com o qual colaborou. “Conheci alguns moradores, entre eles, a Rosana Soares, que contou do desejo de ver a história do padre Reginaldo transformada em filme. Achei toda a luta dele a favor dos menos favorecidos fantástica”, relembra.
Com 2h13min de duração, o documentário busca retratar a vida do padre desde a sua infância até os dias de hoje, passando pelos momentos essenciais de sua trajetória. Nascido em São José da Lage, Alagoas, Reginaldo foi para Roma em 1958. Lá ele estudou Teologia e História da Igreja e, em 1961, foi ordenado padre, dois dias antes da conclamação do Concílio Vaticano II, retornando ao Brasil em 1968.
Além do próprio Reginaldo, a diretora ouviu pessoas que estiveram ao lado dele no trabalho desenvolvido no Morro da Conceição e historiadores, que mostram o contexto político da época. As entrevistas revelam a opção do padre por caminhar ao lado das populações pobres e oprimidas, estimulando o povo a reivindicar direitos fundamentais, como água, transporte e habitação. Essa atuação desagradou a ala mais conservadora da Igreja e fez com o ele fosse afastado de sua paróquia. Hoje em dia, Reginaldo é casado, tem um filho e ainda presta consultoria litúrgica à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Feito de forma independente, sem nenhum patrocínio, o filme começou a ser produzido em 2017. “Antes de começar a gravar soube que seria transferida no meu trabalho para o Rio de Janeiro. Resolvi filmar às pressas, da maneira que podia, porque acreditava na necessidade dessa história ser contada”, relembra. Toda a pós-produção foi feita pela diretora já na capital fluminense.
“Não sou editora. Só sabia de algumas noções na teoria. Então, tive que ir aprendendo tudo isso na prática”, conta. Mesmo sem as melhores condições técnicas, Daniela acredita que o longa merece ser visto por sua temática. “Considero que o filme tem uma importância muito mais histórica do que cinematográfica. Através da religião e da pregação do evangelho, o padre Reginaldo chamou atenção para lutas que até os dias de hoje são necessárias”, afirma.