Duas explosões no porto de Beirute deixam dezenas de feridos
Duas grandes explosões atingiram, na tarde desta terça-feira (4), a cidade de Beirute, capital do Líbano, de acordo com a imprensa internacional. Segundo a AFP, há registros de dezenas de feridos. Ainda não há detalhes exatos sobre o que aconteceu.
De acordo com a rede de TV Al Arabiya, uma série de explosões foram ouvidas em toda a cidade e ao menos uma delas teria ocorrido nas proximidades da residência do ex-premiê Saad Hariri.
Vídeos nas redes sociais mostram uma grande nuvem de fumaça na capital e imagens de prédios destruídos.
Segundo testemunhas ouvidas pela Al Arabiya, construções que ficam a quilômetros de distância das explosões foram atingidas.
Assista ao vídeo:
Duas fontes de segurança e a agência de notícias estatal NNA afirmam que a origem da explosão foi justamente um armazém de explosivos na região, que antes estava pegando fogo -não há informação se o incêndio foi proposital e qual o tipo de explosivo que havia no local.
A fragata brasileira Independência, nau capitânia da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), não estava no porto de Beirute na hora da explosão. Ela está no Mediterrâneo, patrulhando a região. A embarcação leva cerca de 200 marinheiros. A Unifil foi criada em 2006 para verificar a retirada israelense do sul do Líbano e evitar o contrabando de armas por via marítima, após um dos inúmeros embates entre as duas partes nas últimas décadas. Ela foi a primeira força da ONU a contar com uma missão naval, que é comandada pelo Brasil desde 2011.
Julgamento
Nesta semana, está prevista a divulgação do veredito de um tribunal apoiado pela ONU (Organização das Nações Unidas) contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri -pai de Saad- em 2005. O resultado deve ser anunciado na sexta-feira (7).
Os réus, todos membros do movimento xiita Hizbullah, estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia (Holanda), encarregado de ditar a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba, em Beirute.
O ataque matou o bilionário sunita e outras 21 pessoas, além de ter deixado 256 feridos. O assassinato de Hariri, pelo qual quatro generais libaneses foram inicialmente acusados, desencadeou uma onda de protestos que forçou a retirada das tropas sírias do país, após 30 anos no Líbano.
O Hizbullah, que nega envolvimento no ataque, opõe-se a entregar os suspeitos, apesar de vários mandados de prisão do TSL. Hariri era considerado o principal líder dos sunitas no país, enquanto o Hizbullah, que tem apoio do Irã, representa parte da comunidade xiita.
O movimento não reconhece o TSL. Segundo analistas, o tribunal, estabelecido em 2007 após uma resolução do Conselho de Segurança da ONU a pedido do Líbano, tem sido questionado e representou um custo de vários milhões de dólares para o país.
O veredito do julgamento será divulgado na sexta-feira, às 11h (no horário local, 6h em Brasília), com "participação virtual parcial", devido à pandemia de coronavírus, informou o tribunal. O assassinato de Hariri "tinha um objetivo político", afirmou a acusação durante o julgamento, lembrando que o ex-premiê "era visto como uma grave ameaça aos pró-sírios e aos partidários do Hizbullah".
Se forem considerados culpados, os acusados poderão ser condenados a prisão perpétua. As sentenças serão divulgadas mais adiante. Acusação e defesa poderão recorrer e, se um dos acusados finalmente comparecer diante do tribunal, poderá solicitar outro processo.
Saad Hariri, filho de Rafik e que renunciou ao cargo de premiê em 2019, disse em um comunicado divulgado na semana passada que "não havia perdido a esperança na Justiça internacional e na revelação da verdade". O atual primeiro-ministro, Hassan Diab, alertou que as autoridades "devem estar preparadas para enfrentar as consequências" do julgamento.
O primeiro suspeito, Salim Ayyash, 50, é acusado de homicídio doloso e de ter liderado a equipe que cometeu o ataque.Outros dois homens -Hussein Oneisi, 46, e Asad Sabra, 43- estão sendo julgados por filmarem um vídeo que reivindicava a autoria do crime em nome de um grupo fictício.
O último acusado, Hassan Habib Merhi, 52, enfrenta várias acusações, incluindo cumplicidade em um ato terrorista e conspiração para cometê-lo. Mustafa Badreddin, o principal suspeito e apresentado como o "cérebro" do atentado, não pode ser julgado porque morreu alguns anos após os eventos.
Analistas avaliam que a divulgação do veredito pode fazer ressurgir tensões no país, que passa por uma crise econômica sem precedentes.