BRASIL

Contágio acelerado do novo coronavírus completa 15 semanas no Brasil, indicam cálculos

Covas abertas para óbitos causados pela Covid-19 em cemitério de Vila Formosa, em São Paulo - FERNANDO MARRON / AFP

O contágio por coronavírus no Brasil está acelerando há 15 semanas, indicam cálculos do centro de controle de epidemias do Imperial College, um dos principais do mundo.

Desde a semana de 27 de abril, o país tem taxa de transmissão acima de 1, o que significa que a infecção está ganhando velocidade. Na semana que começou neste domingo (3), o índice, também chamado de Rt, manteve o 1,08 registrado na semana passada.

Isso quer dizer que cada 100 infectados por coronavírus no Brasil contaminam outros 108, que por sua vez infectam mais 116,6, que contagiam 126 e assim sucessivamente, espalhando a doença de forma cada vez mais rápida.

 



Nesse mesmo período, países que também tinham Rt acima de 1 no começo de maio, como Japão e Emirados Árabes Unidos, controlaram completamente a transmissão comunitária. Apesar da preocupação com uma segunda onda, o país asiático tem tido sucesso na política de testes intensivos e rastreamento de contatos para suprimir novos focos.

Arábia Saudita e Paquistão, que também tinham transmissão sem controle há três meses, registram Rt abaixo de 1 desde julho, segundo os cálculos do Imperial College. No balanço divulgado nesta terça (4) pela OMS, os dois aparecem também sem transmissão comunitária.

Dados compilados pela agência europeia de controle de doenças infecciosas também mostraram que o número de novos casos de Covid-19 no Brasil está em alta e já é mais que o dobro dos registrados há dois meses. Segundo a OMS, sem medidas coordenadas de restrição ao contágio, o Brasil ainda terá um "longo caminho" antes de domar o coronavírus.

Dos países da América do Sul com mais de dez casos nas últimas duas semanas, só o Chile tem taxa de transmissão abaixo de 1. O índice do país está em 0,94, ou seja, cada 100 habitantes infectam outros 94, que passam o coronavírus para 88, depois 83, desacelerando a expansão da doença.

Além do Brasil, Argentina e Bolívia (1,16), Venezuela (1,13), Colômbia, Peru e Equador (1,09) apresentam contágio acelerado.

Com exceção do Uruguai, de Suriname e da Guiana, onde ocorrem focos isolados da doença, todos os países sul-americanos apresentam transmissão comunitária sustentada.

Especialistas em epidemias têm ressaltado que, como o Brasil é grande e diversificado, a velocidade da transmissão pode variar bastante de acordo com a região, com mostra o acompanhamento dos casos feito pela Folha de S.Paulo. Há três semanas, a OMS afirmou que o Rt brasileiro varia, geograficamente, de 0,5 a 1,5.

O Imperial College calcula a taxa com base no número de mortes reportadas, dado menos sujeito a subnotificações; como há uma defasagem entre o momento do contágio e a morte, mudanças nas políticas de combate à epidemia levam em média duas semanas para se refletirem nos cálculos.

Segundo as estimativas do centro britânico, o Brasil terá o maior número de mortes por coronavírus nesta semana, 7.870. O país lidera o número de óbitos esperados também há 15 semanas. Na Índia, são esperados 5.620 óbitos, e no México, 4.340 (os Estados Unidos não entram no relatório, pois seus dados são calculados por estado, em estudo à parte).

Com base nos óbitos relatados, o Imperial College estima também que o número de casos de contágio no Brasil seja cerca do dobro dos registrados.