Entre ladrilhos seculares e modernidade, Teatro do Parque está quase pronto para reabrir
Espaço está fechado desde 2010 e segue em reformas, com expectativa de reabertura neste semestre
Há pelo menos uma década, o Teatro do Parque fechou as portas para o público e um dos equipamentos de maior relevância da Cidade deixou, desde então, de receber os aplausos, efusivos quase sempre, a uma diversidade de espetáculos de teatro, música e dança.
À memória afetiva de quem passa pelo número 81 da rua do Hospício, na Boa Vista, Centro do Recife, resta reviver a efervescência cultural do que já foi o espaço. Pelo menos tem sido assim desde que o prédio (datado de 1915) e suas instalações entraram em reforma há cinco anos e que (finalmente) deve ser concluída neste semestre.
Essa é a promessa do presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Diego Rocha, durante vistoria realizada ontem no local, que ainda segue em meio a obras de restauração, mas com a expectativa de que, ao contrário de outras idas e vindas de datas de reabertura, deve voltar para o público dentro em breve.
“Queremos entregar ainda nesta gestão, completo e em funcionamento. Estamos em etapa final da obra, com tudo sendo instalado. São muito detalhes em uma estrutura histórica que requer atenção e zelo”, promete Diego.
Sob responsabilidade da Prefeitura do Recife, o Teatro do Parque começou a ser reformado em 2015, mas neste mesmo ano as obras foram paralisadas e retomadas três anos depois. Entre minúcias e trabalhos incessantes de restauros de um projeto arquitetônico de 1929 erguido em “art-nouveau”, algumas novidades estão em andamento no espaço, o que inclui alternar entre elementos modernos e de época.
“Restaurar se torna mais difícil do que construir. Das pinturas das paredes, algumas delas com muitas camadas de tinta sobrepostas em cima de outras, até elementos decorativos, a ideia é ambientar com o original e, ao mesmo tempo, com tecnologia e modernidade”, contou Simone Osias, gerente geral do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura e arquiteta responsável pela obra.
A sobriedade de cores como o ocre e texturas que remetem à tonalidade calcária; restauro dos painéis decorativos do palco, pintados por Mário Nunes e Álvaro Amorim em 1929; peças de ladrilho confeccionadas artesanalmente; restauração do jardim - que vai abrigar o setor administrativo e o novo espaço da Banda Sinfônica - e um memorial que ficará no hall de entrada do teatro são algumas das mudanças que vão ser percebidas pelo público quando da reabertura do teatro.
“Algumas paredes foram descascadas com um bisturi, tamanho o cuidado em preservar o original de parte da estrutura”, enfatiza Simone, que se debruçou em pesquisas históricas com documentos e fotografias para identificar registros antigos do que era a estrutura em 1929 - ocasião em que o espaço ganhou o status de cine-teatro.
Prestes a completar 105 anos de história, mais precisamente neste mês de agosto, o Teatro do Parque deve ser reaberto ainda em meio à pandemia do novo coronavírus e a incertezas que pairam sobre a doença.
No contraponto de todas as “pompas e circunstâncias” merecidas para a ocasião, não haverá aglomerações costumeiras dos bons tempos do espaço. Entretanto, ter de volta um dos locais mais memoráveis do Recife, por si só, renovará os ânimos dos novos e velhos obstinados pela rotina cultural da cidade.
"Tem uma programação sendo pensada, mas tudo depende se o plano de convivência da pandemia vai evoluir para, por exemplo, a realização de eventos. Talvez trazer uma parte do público, ao invés do total que cabe no teatro (em média 800 pessoas)", pondera Diego.