Produto químico

Suape armazena nitrato de amônio em condições seguras, diz administração

Cerca de 700 toneladas do produto químico, apontado como causador da megaexplosão em Beirute, encontram-se em Suape. No Porto do Recife, não há recebimento do material desde 2019

Complexo Portuário de Suape, no Litoral Sul de Pernambuco - Suape/Divulgação

A megaexplosão no Porto de Beirute, no Líbano, ocorrida na última terça-feira (4), lançou alerta sobre o uso e armazenamento do nitrato de amônio em todo o mundo, principalmente em áreas portuárias. A substância química é apontada pelo governo libanês como causa da tragédia. Em Pernambuco, os portos de Suape e do Recife recebem cargas do material, segundo as respectivas administrações. 

No Porto de Suape, em Ipojuca, no Litoral Sul, atualmente, há cerca de 700 toneladas guardadas há oito dias em condições seguras e vistoriadas, segundo a administração. Já no Porto do Recife, no Bairro do Recife, área central da capital pernambucana, a última carga, de mais de 5 mil toneladas, chegou em janeiro de 2019, e foi diretamente encaminhada aos caminhões das distribuidoras, sem a necessidade de armazenamento.

Em nota oficial enviada à reportagem, o Complexo Portuário de Suape afirmou que não existe, atualmente, entrada do nitrato de amônio no terminal marítimo nos moldes da feita no Porto de Beirute, com grandes navios concentrando grande quantidade do produto a granel.

De acordo com Suape, desde agosto de 2016, as entradas do nitrato de amônio no porto são feitas por contêineres, apontados como mais seguros por serem herméticos - objetos inteiramente tapados, de maneira a impedir a passagem de ar. Cada contêiner carrega no máximo 27 toneladas. O armazenamento, diz o porto, dura pouco tempo e é feito em terminais de administração privada, sob autorização, protocolos e fiscalização do Exército Brasileiro.

“Atualmente, há cerca de 700 toneladas (volume variável, devido à rápida saída) em galpão segregado, em condições e protocolos de segurança vistoriadas anualmente pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Os terminais de uso privado têm suas próprias licenças operacionais dos devidos órgãos de controle, que avaliam os riscos de cada operação, os procedimentos preventivos e as respostas a acidentes”, diz trecho da nota oficial.

Ainda segundo Suape, o terminal mantém uma série de requisitos, normas e medidas de segurança para evitar a ocorrência de acidentes e proteger a comunidade portuária local. O porto inclusive foi construído em uma área afastada dos centros urbanos para reduzir o risco de acidentes, além de não permitir construção de moradias no entorno.

 

Porto do Recife (Foto: Alexandre Aroeira/Arquivo/Folha de Pernambuo)

Já o Porto do Recife recebe cargas do produto químico, tendo a última chegado ao local em janeiro de 2019, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDEC), responsável por administrar o terminal marítimo. O procedimento, portanto, não é comum e não faz parte da rotina do porto.

A carga de 5.008 toneladas recebida no ano passado veio da Estônia, no Leste Europeu. Todo o processo logístico também é, segundo a SDEC, supervisionado pelo Exército Brasileiro. O nitrato de amônio que chega ao Porto do Recife é imediatamente transportado do navio para caminhões das  empresas distribuidoras. Dessa forma, frisa o Porto, não há armazenamento, o que diminui a possibilidade de uma explosão como a que ocorreu em Beirute.

O nitrato de amônio é um fertilizante utilizado no campo e na fabricação de explosivos. Cerca de 2.750 toneladas do produto químico estavam armazenadas no porto libanês, segundo o presidente do país, Michel Aoun. De acordo com o último balanço do governo do Líbano, divulgado nesta sexta-feira (7), a explosão matou pelo menos 153 pessoas e feriu outras 5 mil.

A Folha de Pernambuco conversou com o químico e professor Jhonatan Deivs Alves sobre a substância. Segundo ele, nitrato de amônio por si só não é explosivo, desde que sejam observadas seguras formas de armazenagem. “O nitrato de amônio não pode explodir sozinho, do nada, como pólvora. Tem que haver um gatilho, que vem através da temperatura. Se aumentar demais com certeza vai haver esse gatilho”, explicou.

Segundo o professor, o que pode ter acontecido em Beirute é um incêndio primário na instalação elétrica do local. “Algo deve ter entrado em curto ou pegado fogo e aumentando a temperatura ambiente a mais de 210ºC, suficiente para decompor o nitrato de amônio e formado gases tóxicos. Nessa formação, há a liberação de energia suficientemente elevada para a explosão”, acrescentou Jhonatan.

O nitrato deve ser mantido sempre em um lugar seco e arejado, sem interferência de temperatura, nem de materiais explosivos próximos. “Quando você tem uma quantidade pequena não é problemático, mas sim quando há grandes quantidades, com muitas toneladas. Há uma reação em cadeia, que é impossível de ser parada, porque há uma grande quantidade disponível para a combustão”, completou o professor.