Milhares vão às ruas na Polônia após detenção de ativista LGBT
A maior manifestação aconteceu no centro de Varsóvia, com milhares de pessoas. Algumas exibiam bandeiras ou cartazes arco-íris.
Milhares de pessoas protestaram neste sábado (8) por toda a Polônia em solidariedade à comunidade LGBT e contra a violência policial, um dia depois da prisão de uma ativista dos direitos dos homossexuais e de 50 manifestantes que tentavam impedir a detenção. O grupo tentou na sexta-feira à noite evitar a detenção de uma ativista LGBT conhecida como Margot, depois que um tribunal decretou sua prisão preventiva por dois meses.
A maior manifestação aconteceu no centro de Varsóvia, com milhares de pessoas. Algumas exibiam bandeiras ou cartazes arco-íris.
"Nos reunimos para protestar juntos contra a violência e a homofobia sistêmica", declararam os organizadores, uma coalizão de grupos de defesa dos direitos dos homossexuais, em comunicado.
"Empatia, solidariedade, ação!", dizia um dos cartazes, enquanto alguns manifestantes ecoavam insultos contra a polícia e outros gritavam "Você nunca caminhará sozinha!", em referência à ativista presa.
Em Lublin, uma cidade ao sudeste de Varsóvia que se declarou "zona sem LGBT", um pequeno grupo de manifestantes, em sua maioria formado por jovens, desfilou e se reuniu em frente à sede da procuradoria local.
"Gay por nascimento, orgulhoso por escolha" e "a solidariedade é nossa arma", proclamavam os cartazes.
"Estamos cansados deste governo", declarou Julia, de 17 anos, que se negou a dar seu sobrenome por medo de represálias.
"Libertação imediata"
Somente 29% dos poloneses apoiam o casamento entre homossexuais, de acordo com uma pesquisa realizada pelo instituto CBOS em 2019.
Durante a campanha eleitoral antes das eleições presidenciais de julho, os conservadores no poder na Polônia, um país muito católico, usaram uma retórica anti-LGBT, o que resultou em protestos de entidades internacionais.
O presidente conservador Andrzej Duda, que foi reeleito, comparou na época a "ideologia LGBT" ao "neobolchevismo".
Na última quinta-feira, ao prestar juramento no Parlamento, os deputados de esquerda exibiram as cores da bandeira arco-íris, que se tornou um símbolo contra o governo da Polônia, principalmente nos últimos meses.
Nesta semana, a polícia polonesa acusou três pessoas de profanar estátuas e de atentar contra a religiosidade, após manifestantes cobrirem vários monumentos de Varsóvia, incluindo um em homenagem a Jesus Cristo, com bandeiras LGBT.
Margot, cuja prisão na sexta-feira provocou confrontos com a polícia, foi levada sob sua identidade masculina ao tribunal. Ela é acusada de ter danificado em junho uma vã que exibia frases homofóbicas e de ter empurrado uma voluntária de uma fundação antiaborto, dona do veículo.
Durante os confrontos de sexta-feira, 48 pessoas foram presas.
A prisão de Margot provocou protestos da oposição e de instituições internacionais.
"Peço a libertação imediata da ativista LGBT Margot. A ordem de prendê-la por dois meses envia um sinal muito assustador para a liberdade de expressão e os direitos dos LGBTs na Polônia", escreveu neste sábado no Twitter a comissária dos Direitos Humanos do Conselho Europeu, Dunja Mijatovic.
"Eu gostaria que perseguissem os criminosos perigosos com tanto afinco como os militantes", declarou na sexta-feira Hanna-Gill Piatek, uma deputada de esquerda presente na manifestação.