Economia

Bancos digitais se aproximam da atuação de super apps para atrair e fidelizar clientes

Bancos digitais têm impulsionado a oferta de produtos e serviços não financeiros em suas plataformas

Celular - Valter Campanato/Agência Brasil

Na disputa por um lugar na primeira tela do celular de seus clientes, bancos digitais têm impulsionado a oferta de produtos e serviços não financeiros em suas plataformas. O objetivo é concentrar diversas soluções em um único lugar de maneira a fidelizar e atrair novos clientes.

A iniciativa, que acontece por meio de parcerias entre essas instituições financeiras e empresas de diferentes setores, se aproxima cada vez mais do conceito de um "super app" -aplicativo único que concentra vários tipos de serviços e produtos- e ganha força em meio ao crescente número de participantes no sistema financeiro brasileiro.

Segundo Carlos Giovane, presidente do Digio (antigo banco CBSS, possui o Banco do Brasil e o Bradesco como acionistas), a maior parte dos brasileiros tem celulares mais simples, com baixa capacidade de memória e, por isso, o aplicativo precisa ser "leve" e versátil para não correr o risco de ser desinstalado do aparelho. "Temos que ter uma boa percepção do consumidor e garantir que ele encontre o que precisa em uma plataforma leve, e possa economizar espaço na memória. Já implementamos diversas soluções como biometria, cartão de presente, recarga de celular, crédito para pedágio, entre outros. E a intenção é evoluir e trazer cada vez mais benefícios para os clientes. Esse é o diferencial", afirmou.



As parcerias, nesse sentido, trazem desde promoções pontuais na compra de produtos e serviços até descontos fixos para os clientes fidelizados dos bancos digitais. Segundo o diretor do Next, banco digital do Bradesco, Jeferson Ricardo Garcia Honorato, a estratégia é trazer ofertas relevantes e personalizadas para os clientes, de maneira a tornar o aplicativo relevante para o uso do dia a dia. "Nossa ambição é ser um ícone de primeira tela do cliente e estar entre os primeiros aplicativos que ele acessa ao acordar. E para que isso possa acontecer, não podemos ser apenas uma plataforma de serviços financeiros. Nosso trabalho é ser um controle remoto que orquestre toda a vida financeira do cliente e que também ofereça conexão com serviços não financeiros", afirmou.

Os resultados têm sido positivos. Ainda de acordo com Honorato, 60% dos clientes do Next utilizam o banco digital como principal conta bancária. O volume de transações também dobrou no primeiro semestre deste ano em relação a igual período do ano passado, atingindo um crescimento de 105% segundo o executivo.

"Se compararmos os seis primeiros meses deste ano com os mesmos meses de 2019, o volume de contas subiu 157%. Parte dos números também se traduz pelo maior uso dos canais digitais impulsionado pela pandemia: na comparação do segundo trimestre com os três meses anteriores, de janeiro a março, a alta foi de 20%", disse Honorato à Folha de S.Paulo.
A atuação dos bancos digitais, no entanto, ainda está longe de se igualar ao WeChat, por exemplo, aplicativo chinês que começou a atuar como uma rede de troca de mensagens e atualmente, se tornou um dos principais sistemas multiplataformas utilizado no gigante asiático, permitindo pagar compras, chamar um táxi, pedir comida, entre outros.

Para o presidente do PagSeguro PagBank, Ricardo Dutra, a interoperabilidade entre sistemas que o Brasil apresenta deve facilitar e agilizar a adesão do país ao segmento de "super apps" e é tida como uma vantagem em relação à China.
"Os brasileiros ainda estão se familiarizando aos super aplicativos e aprendendo a praticidade de utilizá-los. Mas vale lembrar que o mercado financeiro chinês é muito diferente do nosso. A China não tinha um mercado de cartões tão desenvolvido quanto o nosso e, por isso, eles pularam direto do papel moeda para o celular", afirmou.

"Lá, os sistemas são fechados e não interoperam. No Brasil, o mercado de 'super apps' ainda está em desenvolvimento, mas o benefício de todos os sistemas se interconectarem é uma vantagem na adesão desse segmento e também possibilita que a escolha de como e por onde a transação será feita está cada vez mais nas mãos dos clientes. Uma coisa não substitui a outra, os sistemas são complementares", disse Dutra.

Segundo o superintendente do banco digital do PAN, Pedro Henrique Poli Romero, a atuação com as parcerias é focada em facilitar a gestão financeira de seus clientes, que são majoritariamente das classes C, D e E. "Estamos no caminho de ser uma plataforma única, mas nosso objetivo não é permitir que o cliente chame um táxi pelo nosso aplicativo, mas sim que tenha toda a gestão financeira de suas compras centralizada no nosso aplicativo. As parcerias trazem benefício, mas a educação financeira acaba sendo um ponto principal", afirmou.