Não houve racismo, diz defesa de PM que agrediu rapaz em shopping
Matheus conta que havia ido ao shopping trocar um relógio que tinha comprado para o Dia dos Pais
O advogado Ricardo Chagas, que defende o policial militar Gabriel Guimarães Sá Izaú, um dos suspeitos de agredir um jovem negro em shopping do Rio, diz que não houve racismo no episódio. Os dois policiais militares envolvidos na ação prestaram depoimento, nesta segunda-feira (10), na delegacia que investiga o caso.
O entregador Matheus Fernandes, 18, estava no shopping Ilha Plaza, na Ilha do Governador, na zona norte da cidade, na última quinta-feira (6), quando foi abordado pelos policiais militares, arrastado e imobilizado. Fernandes chegou a ter uma arma apontada para sua cabeça.
Matheus conta que havia ido ao shopping trocar um relógio que tinha comprado para o Dia dos Pais. "Todo dia entro no shopping para trabalhar. Agora, só porque eu sou preto, eu não posso ir lá para me divertir?", disse à reportagem. "Em hipótese alguma houve qualquer tipo de discriminação. Na verdade, o garoto estava o filmando (o PM) e ele se sentiu constrangido e foi saber o que estava acontecendo. E ele [Fernandes] simplesmente foi arredio", disse o advogado.
Já o entregador diz que filmou os policiais ao perceber que tinha sido fotografado pela dupla enquanto esperava pelo atendimento na loja. De acordo com o delegado, Marcus Henrique, os policiais militares envolvidos no caso trabalham para uma empresa de segurança que prestava serviços para o shopping na área de inteligência. A dupla poderá responder por racismo e abuso de autoridade.
Imagens publicadas nas redes sociais mostram Matheus na escada de emergência do shopping, imobilizado por um dos acusados. Um vigilante uniformizado do shopping também aparece no momento da abordagem, mas ele não impediu a ação dos homens.
O outro PM foi identificado como Diego Alves da Silva, soldado do Batalhão de Choque. Izaú é sargento lotado no programa Segurança Presente. Segundo o advogado, Izaú é morador do mesmo bairro de Matheus na Ilha do Governador e está se sentindo constrangido. Apesar de as imagens mostrarem o jovem sendo a puxado pela camisa de dentro da loja Renner e, logo depois, em uma escada de incêndio, o advogado nega que o entregador tenha sido agredido.
"Não levou para a escada. Eles caíram. Na hora que ele [PM] tirou ele [Matheus] da passagem, ele esbarrou e caiu". O advogado também negou que Izaú trabalhava como segurança particular para o Ilha Plaza. Segundo Chagas , era apenas "uma consultoria".
Na sexta-feira (7), a administração do shopping informou que os PMs não eram funcionários do estabelecimento e nem da empresa de vigilância. No domingo (9), em novo pronunciamento, o Ilha Plaza disse que empresa de consultoria de segurança foi afastada.
"Nesse momento de maior 'calor', pedimos à sociedade civil, órgãos e entidades que aguardem a apuração completa dos fatos para que as medidas necessárias sejam tomadas", diz a nota oficial. A Renner informou que não compactua com qualquer forma de violência e discriminação. "A Renner espera que o Ilha Plaza Shopping assuma sua devida responsabilidade no episódio de agressão ao cliente Matheus Fernandes. A empresa também espera que sejam apresentadas ações a serem tomadas para que fatos como este não se repitam", diz a empresa.
Também por meio de nota, a Polícia Militar informou que a corporação não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros. "A Corregedoria da Polícia Militar está acompanhando e apoiando a condução do inquérito instaurado pela 37ª DP. Paralelamente, foi aberta uma apuração sumária para verificar a conduta dos dois policiais militares sob a égide do regimento interno da Corporação, garantindo aos envolvidos amplo direito de defesa", diz nota.