Distopia

"3%": primeira série brasileira da Netflix apresenta seu desfecho

Os diretores Jotagá Crema e Dani Libardi falam sobre a trajetória da produção, que estreou sua quarta e última temporada nesta sexta-feira

"3%" aborda temas como meritocracia e injustiça social - Netflix/Divulgação

A quarta temporada de “3%”, já disponível na Netflix, coloca um ponto final em um projeto pioneiro. A obra foi a primeira série original brasileira do serviço de streaming, que hoje tem em seu catálogo diversos títulos nacionais de sucesso, como “Coisa mais linda”, “Sintonia” e “O mecanismo”. Lançada em 2016, a produção chega ao fim com sete novos episódios.

A gênese de “3%” é anterior à estreia no streaming. O projeto foi idealizado por seu criador, o cineasta Pedro Aguilera, quando este ainda cursava a graduação em audiovisual na USP. O roteiro, pensado como uma distopia, acabou vencendo um edital e um piloto chegou ser gravado em 2009. Já naquela época, Pedro contava com a ajuda dos amigos e colegas de classe, Jotagá Crema, Dani Libardi e Daina Gianecchini, que se tornaram os diretores da série.

Abraçada pela Netflix, a série conseguiu ter longevidade e alcançar o público estrangeiro. Antes do fenômeno “La Casa de Papel”, a produção brasileira chegou a ser a série de língua não-inglesa da plataforma mais assistida nos Estados Unidos. Em entrevista à Folha de Pernambuco, por meio de videochamada, os diretores Jotagá Crema e Dani Libardi falaram sobre a trajetória do seriado.

“Acho que ‘3%’ mostrou que gêneros como distopia e ficção científica podem ser falados em qualquer língua”, defende Dani. De fato, após o sucesso da produção, a Netflix passou a investir mais em conteúdo internacional. Produções como a Alemã “Dark” e a dinamarquesa “The Rain”, por exemplo, vieram depois e também venceram o tabu do idioma.

“Como brasileiros, nós mostramos que sabemos fazer projetos universais, que servem para qualquer país do mundo. Vários brasileiros piram na série e pessoas de outros países também. Isso é muito incrível. Atingir essa audiência global é uma oportunidade maravilhosa”, declara Jotagá. 

Se por um lado “3%” não teve dificuldades para cativar fãs ao redor do mundo, por outro não esteve imune às críticas. Assim que sua primeira temporada foi lançada, não faltou quem apontasse defeitos, desde a atuação de parte do elenco até os figurinos. “Sempre respeitei todas as críticas negativas que a gente recebeu e, ao mesmo tempo, dou muito valor às opiniões positivas. O apoio que a gente tem recebido dos fãs nos últimos anos é uma coisa que eu não imaginava que poderia acontecer”, comenta.

A premissa da série é de que, em um futuro pós-apocalíptico, a população brasileira é dividida entre os que vivem no Continente, onde a miséria é para todos, e o Maralto, lugar cheio de oportunidade. Para chegar a esse mundo perfeito, no entanto, é necessário passar pelo Processo, avaliação que aprova apenas 3% dos candidatos. Ao longo de quatro anos, o enredo tocou em temas muito atuais, como meritocracia e injustiça social. 

Na última temporada da trama, o conflito entre o Maralto e a Concha (terceira via criada para acolher a todos) ganha um desfecho. A liderança da Concha é convidada para uma visita diplomática ao Maralto. Mas, ao invés de selar a paz, o que eles buscam é boicotar de uma vez por todas o sistema fomentador de desigualdades. Bianca Comparato (Michelle), Vaneza Oliveira (Joana), Rodolfo Valente (Rafael), Laila Garrin (Marcela), Bruno Fagundes (André), Thais Lago (Elisa), Cynthia Senek (Glória) e Rafael Lozano (Marco) retomam seus papéis no elenco principal.