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EUA recua sobre acordo nuclear com a Rússia, mas fazm nova exigência

Estados Unidos recuaram da exigência de que a China fizesse parte do acordo de limitação de armas nucleares estratégicas

Presidente Vladimir Putin - Alexey Nikolsky / SPUTNIK / AFP

Em nova rodada de negociações com a Rússia, os Estados Unidos recuaram da exigência de que a China fizesse parte do acordo de limitação de armas nucleares estratégicas como condição para renová-lo antes de sua expiração, em 2021. Em compensação, Washington quer incluir no novo texto ogivas disparadas por mísseis de alcance menor e aumentar a rigidez das inspeções mútuas de arsenais, algo que parece de difícil digestão pelo lado russo.

A mudança de tom foi antecedida por reportagens na imprensa americana relatando que o presidente Donald Trump quer se encontrar com o seu colega russo, Vladimir Putin, ainda este ano.

Para completar o cenário, nesta terça (18), os chefes de Defesa de cada país, Mark Esper e Serguei Choigu, se falaram por telefone em plena crise da Belarus para buscar melhorar as comunicações e evitar escaladas acidentais em encontros das forças militares dos dois lados em lugares como os mares Báltico e Negro.

Tudo isso sinaliza um desejo de Trump de tentar mostrar algum trunfo diplomático para o público e melhorar sua posição na corrida eleitoral contra Joe Biden. Parece improvável que o lado russo entre no jogo, salvo alguma ordem direta de Putin.

Nos últimos três anos, os EUA deixaram dois acordos importantes para evitar uma guerra nuclear. Um, de 1987, proibia os dois lados de ter mísseis de alcance de 500 a 5,500 km na Europa. Outro, de 1992, garantia sobrevoos de reconhecimento mútuos de áreas estratégicas do adversário. Por vários meses, os americanos insistiram que a renovação do Novo Start (sigla inglesa para Tratado de Redução de Armas Estratégicas), de 2010, teria de incluir os chineses.

Moscou e Pequim rejeitam a ideia, dado que o arsenal chinês é de 320 ogivas nucleares, enquanto o Novo Start prevê uma limitação a 1.650 bombas operacionais a russos e americanos –os primeiros estão no limite, os segundos, um pouco acima dele.

Herdeiros da Guerra Fria, quando a Rússia ainda era o principal ente da União Soviética, os arsenais atômicos do mundo são dominados pelas antigas superpotências: mais de 90% das bombas estão com os dois países.

Mas a ideia de limitar o crescimento eventual chinês é parte da obsessão estratégica de Trump com o rival asiático, que é aliado de Putin. Assim, quando os dois países sentaram-se à mesa mais recentemente, em junho, o clima foi de fim de festa. Os americanos até fizeram uma pantomima, levando bandeirinhas chinesas para colocar à frente de cadeiras vazias.

Nesta terça, novamente em Viena, o enviado americano Marshall Billingslea afirmou que um novo acordo poderia "incluir a China no devido tempo", mas fez a ressalva acerca dos mísseis de alcance intermediário antes proibidos pelo antigo tratado de 1987.


"A bola está com a Rússia", afirmou o americano. "A Rússia quer a extensão do Novo Start, mas não está preparada para pagar qualquer preço por isso", respondeu o chefe da delegação russa, o chanceler adjunto Serguei Riabkov, segundo a embaixada de Moscou em Viena.

O desarmamento de potências nucleares estabelecidas é um tema espinhoso nas relações internacionais. Nos últimos anos, Trump mudou a sua doutrina de uso de armas para facilitar o emprego de ogivas menores –as quais produziu e instalou em mísseis de submarinos.

Já Putin lançou, em 2018, uma série de novas armas estratégicas baseadas em novos vetores, como mísseis hipersônicos e até um "torpedo do Juízo Final", capaz de aniquilar cidades costeiras. Setenta e cinco anos depois do começo da Era Atômica, há poucos sinais de que ela se aterá a fins pacíficos.