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Bolsonaro faz almoço com centrão, incluindo parte dos acusados no 'quadrilhão do PP'

Ao menos 22 congressistas e 7 ministros participaram do encontro, no Palácio do Planalto

Presidente Jair Bolsonaro - Carolina Antunes/PR

Coroando a aliança com o centrão na tentativa de montar uma base mínima de apoio no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reuniu ao menos 22 parlamentares e 7 ministros em um almoço nesta quarta-feira (19), no Palácio do Planalto.

O convescote, regado a comida mineira, teve a presença de cerca de 40 pessoas, entre elas dois dos filhos do presidente, o senador Flávio (Republicanos-RJ) e o deputado federal Eduardo (PSL-SP), e o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que na campanha presidencial chegou a associar o termo "ladrão" ao centrão.
 



O presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), postou em suas redes sociais foto ao lado de Bolsonaro e de outros deputados da legenda, entre eles Arthur Lira (AL). Os dois são alvo de denúncia do Ministério Público sob acusação de, ao lado de outros parlamentares, chefiar o chamado "quadrilhão do PP" em um esquema de desvio de recursos públicos da Petrobras. Conforme o jornal Folha de S.Paulo mostrou no mês passado, o caso oriundo da Lava Jato está há mais de um ano aguardando o Supremo Tribunal Federal decidir se aceita a denúncia ou arquiva o caso.
 

 


Os políticos do PP negam cometimento de irregularidades e dizem ser vítimas de delatores interessados apenas em diminuir as penas pelos crimes que cometeram.

Ciro Nogueira era aliado do PT e já chegou a chamar Bolsonaro de fascista e preconceituoso.

Segundo participantes do encontro desta quarta, o almoço transcorreu em um clima de confraternização, sem discursos políticos.

É a primeira vez que Bolsonaro reúne o centrão após sua reclusão em decorrência do anúncio de que havia sido infectado pela Covid-19.

Ao assumir o governo, em 2019, o presidente tentou implantar um novo modelo de relação com o Congresso, fortalecendo frentes parlamentares em detrimento da relação com os partidos.

Não deu certo e, mais recentemente, Bolsonaro se aproximou do centrão, passando por cima do fato de ter demonizado o grupo durante a campanha.

A aproximação faz parte de uma movimentação em que Bolsonaro baixou o tom de ataques a congressistas e ao Judiciário, reduzindo bastante o número de atritos criados com o mundo político. Essa inflexão coincidiu com a prisão de seu amigo de longa data Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio e pivô do escândalo da "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Queiroz foi preso em junho na casa do advogado de Bolsonaro e de Flávio, Frederick Wassef. Hoje está em prisão domiciliar graças a uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

Não só políticos participaram do encontro. O irmão do ator Bruno Gagliasso, Thiago, também estava no almoço.
Havia deputados e senadores de PSD, DEM, MDB, PTB, PL, PP, PSL, PSDB, Podemos e Republicanos.

O almoço serviu também para selar politicamente a passagem da liderança do governo na Câmara das mãos do deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) para Ricardo Barros (PP-PR), ministro da Saúde da gestão de Michel Temer (MDB), nome escolhido pelo centrão.

Mais cedo, Bolsonaro tomou café da manhã com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que lidera parte dos parlamentares centristas em uma linha de independência em relação ao governo.

Segundo o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG, a ideia é fazer encontros entre Bolsonaro e os deputados uma ou duas vezes por mês. O próximo ainda não está marcado.

Mesmo o país registrando mais de 100 mil mortes em decorrência do novo coronavírus, a mais recente pesquisa do Datafolha mostrou que Bolsonaro está com a melhor avaliação desde que começou o seu mandato.

Segundo o Datafolha, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% que o achavam na pesquisa anterior, feita em 23 e 24 de junho. Mais acentuada ainda foi a queda na curva da rejeição: caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo no período.

De acordo com a avaliação de parte do mundo político, a principal explicação para esse cenário é a concessão do auxílio-emergencial de R$ 600, embora o valor tenha sido fruto de pressão do Congresso sobre o governo, que queria estabelecer o valor de R$ 200.

O resultado da pesquisa alimentou a pressão de parte dos ministros de Bolsonaro para elevar os gastos com obras e programas sociais, o que se choca com as pretensões do titular da Economia, Paulo Guedes.