EUA

Trump anuncia que EUA buscará restabelecer sanções contra o Irã na ONU

Donald Trump - Brendan Smialowski / AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou formalmente nesta quarta-feira (19) que ativará um polêmico procedimento na ONU para restabelecer todas as sanções internacionais contra o Irã, um golpe que pode sentenciar à morte o acordo nuclear de 2015 com a República islâmica.

"Hoje vou pedir ao secretário de Estado, Mike Pompeo, que notifique o Conselho de Segurança da ONU que os Estados Unidos querem restabelecer todas as sanções das Nações Unidas contra o Irã que estão suspensas", anunciou Trump aos jornalistas na Casa Branca.

De acordo com fontes diplomáticas, Mike Pompeo viajará até Nova York, sede da ONU, nesta quinta-feira, para ativar o mecanismo, mas Reino Unido, França e Alemanha advertiram que os Estados Unidos não têm direito de invocar este procedimento. O anúncio ocorre depois de os Estados Unidos sofrerem uma derrota humilhante no Conselho de Segurança na semana passada, quando falharam no momento que reunir apoio para uma resolução para estender o embargo de armas contra o Irã.

O mecanismo busca restaurar todas as sanções contra o Irã que foram suspensas como parte do acordo multilateral de 2015, que visava a impedir que Teerã desenvolvesse uma arma nuclear. Ao mesmo tempo, ameaça torpedear o acordo entre China, Rússia, Reino Unido e Alemanha com o Irã.

Uma crise em potencial 
"Meu governo não permitirá que esta situação nuclear no Irã continue", acrescentou Trump, que em 2018 retirou os Estados Unidos do acordo multilateral para frear o programa nuclear iraniano.

O presidente republicano classificou o acordo de "fracasso" político de seu antecessor, Barack Obama, e do então vice-presidente, Joe Biden, que será seu adversário nas eleições presidenciais americanas de novembro.

Washington sustenta que como "participante" do acordo original, tem o poder de voltar a impor as sanções das Nações Unidas de forma unilateral, o que a maior parte dos demais membros do Conselho de Segurança da ONU questionam.

Os Estados Unidos estabeleceram e endureceram as próprias sanções contra o Irã e, em resposta, Teerã começou a relaxar seu compromisso com os acordos assinados, aumentando seu inventário de urânio enriquecido. Agora, Washington quer que o resto do mundo, incluindo os outros signatários do acordo (China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha) tentem reafirmar o compromisso restabelecendo sanções.

A diplomacia dos Estados Unidos, porém, está muito isolada, como demonstrado no fracasso da tentativa de convencer os outros países do Conselho de Segurança da ONU a prolongar o embargo de armas contra o Irã. Segundo uma resolução de 2015 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que ratificou o acordo negociado por Obama, os países participantes podem voltar a impor sanções unilateralmente se o Irã descumprir o acordo.

Este procedimento está orientado ao restabelecimento de sanções no prazo de 30 dias, sem que China e Rússia possam vetá-lo. "Temos a expectativa de que todos os países verão que é de seu próprio interesse respeitar a resolução do Conselho de Segurança", afirmou Pompeo.

Na semana passada, apenas a República Dominicana acompanhou os Estados Unidos em seu empenho para voltar a impor o embargo de armas contra o Irã, que expira em 18 de outubro. 

Vários especialistas têm advertido que isto poderia levar o Conselho de Segurança a uma crise. "A maioria do Conselho vai rejeitar este argumento americano de que conserva o direito apesar de ter abandonado o acordo. Vão descartá-lo como uma farsa", explicou à AFP Richard Gowan. 

Para Gowan, que trabalha no centro de estudos International Crisis Group, os vencedores serão China e Rússia, que argumentam que estão defendendo a ONU do unilateralismo dos Estados Unidos e os europeus vão se distanciar de Washington.