Nova hipótese

Óleo no litoral do Brasil pode ter vindo de poços de petróleo na África, diz estudo

Um dos maiores desastres ambientais da história do País completa um ano no próximo domingo (30)

Imagens do satélite Sentinel-1A, áreas de derramamento de óleo no Nordeste e distância do golfo da Guiné - Divulgação/Lapis

Um novo estudo publicado pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), aponta para poços de petróleo na África Ocidental como uma nova possibilidade de origem do vazamento de óleo no litoral brasileiro, sobretudo o nordestino. 

Um dos maiores desastres ambientais da história do País completa um ano no próximo domingo (30). Foi em 30 de agosto do ano passado que surgiram os primeiros relatos de manchas do petróleo cru em praias da Paraíba. 

De acordo com o estudo do Lapis, divulgado na sexta-feira (21), uma enorme mancha de óleo de 433 quilômetros quadrados no golfo da Guiné, na região ocidental do continente africano, datada de 13 de julho de 2019, pode ser a resposta para o desastre na costa brasileira. 

Pesquisadores do Lapis analisaram de forma retroativa imagens de satélite captadas entre maio de 2019 e julho de 2020. O grupo então detectou as novas manchas na região do golfo da Guiné. A região - composta por países como Libéria, Costa do Marfim, Camarões e Nigéria - tem intensas atividades de exploração de óleo no mar e tráfego de navios.

 

Vazamento de óleo ocorre desde dezembro de 2018 no Golfo da Guiné (Foto: Divulgação/Lapis)

“Possivelmente, as manchas recorrentes, detectadas ali, a cerca de 180 quilômetros da costa de Camarões, estão associadas a vazamentos de poços de exploração de petróleo. Existem concessões do governo de Camarões a grandes companhias de exploração, do setor de petróleo e gás”, cita o estudo do Lapis.
 
As imagens de satélite indicam padrão de assinatura de manchas de óleo com intensidades diferentes. As mais extensas são datadas de 2019, mas há registros desde dezembro de 2018, meses antes do desastre brasileiro. O Lapis ainda identificou uma redução da exploração das companhias petrolíferas na região africana este ano, por conta da pandemia. As manchas de poluição, consequentemente, também diminuíram. 
 
Algumas outras hipóteses da origem do óleo já foram lançadas, como um relatório da Polícia Federal que apontou o navio de bandeira grega Bouboulina, da empresa Delta Tankers, como culpado pelo vazamento. Os responsáveis pela embarcação, no entanto, negam qualquer envolvimento com o desastre. 
 
Um outro estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já havia levantado a hipótese de que o local de origem do óleo seria o mar do sul da África, mas não houve detalhamento se o material teria partido de acidentes com embarcações ou de vazamentos. 
 

Grandes manchas de óleo no Golfo da Guiné, de 20 de julho de 2019 (Foto: Divulgação/Lapis)

De acordo com o responsável pelo estudo do Lapis, o pesquisador Humberto Barbosa, o óleo pode ter sido transportado da África até o Brasil pelo movimento das correntes oceânicas.
 
"Pela recorrência da poluição, acredita-se que seja proveniente de perfuração de poços de petróleo. Existe uma confluência de correntes oceânicas, da África ocidental para a costa brasileira, principalmente no período de julho a setembro, que poderia ter arrastado os resíduos de óleo para o Litoral do Nordeste”, explicou Humberto ao site oficial do Lapis.
 
As evidências do estudo ainda não são conclusivas, e o Lapis segue com as investigações sobre a origem do vazamento. Cerca de 5 mil toneladas de petróleo foram recolhidas no litoral de todos os estados nordestinos e do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Milhares de pessoas foram prejudicadas pelo desastre e, até hoje, não houve multas e nem penalizações aos culpados e há apenas hipóteses sobre origem e responsáveis. Em nota oficial divulgada no dia 24 de julho, por ocasião do aparecimento de cerca de 100 quilos de vestígios do óleo na costa brasileira, a Marinha do Brasil informou que segue apurando as circunstâncias do que a Força Armada chama de “crime ambiental”. As diligências contam com o apoio de instituições públicas e privadas, no Brasil e no exterior.

De acordo com o levantamento mais recente da Marinha, divulgado em janeiro, foram encontradas manchas de óleo em pelo menos 1.013 locais em 130 municípios.