EUA

Trump leva atos de governo à convenção e cruza linha entre Presidência e campanha

Convenção o oficializou como candidato para as eleições de novembro

Donald Trump - Jim Watson/AFP

Donald Trump levou atos de governo para a segunda noite da convenção republicana, cruzando a linha entre Presidência e campanha à reeleição. Em suas duas aparições nesta terça-feira (25), Trump quebrou protocolos com a assinatura do perdão para um homem negro preso por roubar um banco no estado de Nevada e fez uma cerimônia de naturalização de cinco pessoas que buscavam a cidadania americana.

Tudo transmitido de dentro da Casa Branca, sede do Executivo, durante a convenção que o oficializou como candidato do partido para novembro. O primeiro ato era uma tentativa de chamar atenção aos eleitores para a questão da justiça criminal, com mudanças que fez nas leis federais de prisão e condenação.

Pedidos de reforma no sistema de Justiça explodiram nas ruas com os protestos antirracismo e contra a violência policial nos últimos meses. Após a morte de George Floyd -um homem negro asfixiado por um policial branco em Minnesota- as manifestações se espalharam e Trump reagiu com violência, chamando ativistas de "bandidos" e pedindo repressão a atos pacíficos.



Diante do crescimento dos protestos, Trump assinou um decreto que estimula novos operações da polícia americana, incluindo o abandono de estrangulamentos durante abordagens e a criação de um banco de dados federal sobre abusos policiais. Mas as diretrizes não obrigam a polícia mudar de conduta e foram consideradas uma resposta fraca aos protestos.

Já a cerimônia da naturalização serviu para mostrar que Trump não é contrário aos imigrantes -apesar de o presidente ter endurecido a política de seu governo contra a entrada de pessoas de maneira regular e irregular nos EUA e seus frequentes discursos anti-imigrantes.

"Vocês são agora cidadão da grande nação americana", disse Trump diante de pessoas da Bolívia, Líbano, Índia, Sudão e Gana, que se postavam em frente ao presidente segurando bandeiras dos EUA. "Vocês seguiram regras, seguiram as leis, aprenderam nossa história." Em outro momento simbólico do cruzamento da linha entre governo e campanha eleitoral o secretário de Estado, Mike Pompeo, quebrou uma tradição diplomática histórica e foi o primeiro secretário de Estado no cargo a participar de uma convenção partidária em 75 anos.

O movimento foi considerado uma clara manifestação de seus interesses políticos e anseios para disputar a Casa Branca em 2024. Em discurso gravado em Jerusalém, Pompeo falou sobre política externa, tema caro para os americanos, atacando a China a Coreia do Norte e celebrando o acordo que deve normalizar as relações diplomáticas entre Israel e Emirados Árabes. Intermediado pelo governo Trump há duas semanas, essa é uma de suas poucas ações diplomáticas com apoio bipartidário e serve de plataforma nacional ao secretário.

Ao falar da pandemia, Pompeo disse que "o vírus da China espalhou mortes nos EUA" e que Trump não vai descansar enquanto "não fizer justiça" para levar de volta aos EUA os empregos perdidos com a crise. Em janeiro, a taxa de desemprego no país era de 3,5% e agora está na casa dos 13%.

Pompeo era cotado para se candidatar ao Senado este ano, mas desistiu, aumentando ainda mais a especulação sobre sua possível entrada na corrida para 2024. Diplomatas afirmam que seu discurso na convenção viola restrições do Departamento de Estado sobre as atividades políticas do chanceler, e democratas no Congresso devem investigá-lo. Aliados se escoram na ideia de que Pompeo falou "em caráter pessoal", mas admitem que o jogo eleitoral ficou claro neste caso.

Outros temas que têm permeado a agenda da convenção republicana apareceram também nesta terça, com o objetivo de energizar a base conservadora de Trump. Um dos principais resumos ficou com uma das filhas do presidente, Tiffany Trump, que afirmou: "Essa é uma luta de liberdade contra repressão [...] Se você crê em viver sua vida sem restrições, então a escolha nessa eleição é clara, pelos valores americanos."

Trump sabe que a narrativa energiza a base e tenta amedrontar eleitores da classe trabalhadora do Meio-Oeste americano e mulheres brancas dos subúrbios, que foram fundamentais para a vitória do republicano em 2016 mas agora, cansados da agressividade do presidente, flertam com Biden.

Em desvantagem nas pesquisas nacionais e na maioria dos estados-chave, Trump apostou na retórica da guerra cultural -que tanto agrada a seus eleitores- para dizer que Biden é um radical de esquerda que pode acabar com o sonho americano.
O objetivo é unir sua base de apoio e ao menos amedrontar moderados que flertavam com o ex-vice de Barack Obama, criando um sentimento de que valores conservadores do país estarão em risco caso a oposição volte ao poder.