EUA

Estrelas do basquete ajudam a aprovar teste mais barato para coronavírus

A Escola de Saúde pública de Yale fez partecia com equipes da NBA para avaliar eficiência do teste

Em sua retomada durante a epidemia, a NBA criou uma "bolha de segurança", em que os mais de 340 jogadores são testados todos os dias - Garrett Ellwood / NBAE / Getty Images

Estrelas do basquete profissional dos EUA ajudaram cientistas da Escola de Saúde Pública de Yale a obter autorização do governo para um novo teste de coronavírus baseado em saliva, mais rápido e mais barato que os atuais, que usam cotonetes para recolher secreções da garganta e do nariz.

O método, chamado Saliva Direct, recebeu autorização da FDA (agência de vigilância sanitária dos EUA) para uso emergencial na última semana. Para provar que ele era tão confiável e eficiente quanto o teste atual, Yale fez uma parceria para aplicá-lo em jogadores de 22 das 30 equipes da NBA, liga profissional de basquete americana.

Em sua retomada durante a epidemia, a NBA criou uma "bolha de segurança", em que os mais de 340 jogadores são testados todos os dias. Desde julho, eles fazem também paralelamente o SalivaDirect, e os resultados são comparados.
"Além de ser tão confiável quanto o teste já em uso, o nosso método mostrou menos variação, porque a coleta de amostras é mais prática e segura", disse à Folha a pesquisadora Chantal Vogels, que liderou o desenvolvimento e validação do laboratório junto com Doug Brackney, professor clínico adjunto.



O teste com cotonete exige treinamento do profissional de saúde e é mais sujeito a falhas ao recolher o material para análise. Ela ressalta que, embora permita colher e processar mais amostras em menos tempo, o novo método não é o chamado "teste rápido", sujeito a falhas. É um teste do tipo PCR, ou seja, avalia a presença de material genético do coronavírus na amostra.

O processamento é mais rápido porque dispensa a etapa de extração de DNA ou RNA, diz Vogels. "Simplesmente tratamos a saliva com uma enzima, a proteinase K, e calor", afirma a pesquisadora. Com isso, o kit de Yale permite testar 92 amostras em três horas. Um dos objetivos da equipe era eliminar os caros tubos de coleta de saliva que outras empresas usam para preservar o vírus para detecção.

No laboratório, eles descobriram que o Sars-Cov-2 é estável na saliva por períodos prolongados em temperaturas quentes, tornando desnecessários conservantes ou tubos especializados. Com a simplificação, o processo também ficou mais barato, segundo os pesquisadores de Yale. Eles acreditam que laboratórios poderão cobrar cerca de US$ 10 por amostra, quanto testes pelo método do cotonete podem custar mais de US$ 100.

"Se alternativas baratas como o SalivaDirect puderem ser implementadas em todo o país, poderemos finalmente controlar essa pandemia, mesmo antes de uma vacina ", diz o professor de Yale Nathan Grubaugh, que comanda o laboratório em que Vogels trabalha. Testar todos os casos suspeitos já era uma das principais recomendações da OMS para controlar a transmissão da doença e, recentemente, países como a Alemanha estabeleceram teste obrigatório para todos os que chegam ao país vindo de uma região considerada de risco, o que aumenta o risco de falta de kits.

Segundo Vogels, além das vantagens no preço e no prazo, o método de Yale também é menos sujeitos a falta de insumos, porque foi validado com reagentes e instrumentos de vários fornecedores, o que evita gargalos nas cadeias de produção.
Os pesquisadores afirmaram que o objetivo não é comercializar o SalivaDirect e que os os protocolos de teste serão fornecidos para laboratórios em uma base de "código aberto".

A NBA e a associação de jogadores, que financiaram parte do estudo de Yale, não informaram se passarão a adotar o SalivaDirect em suas partidas. Até o começo da pandemia do novo coronavírus, Vogels, que faz pós-doutorado na escola de Saúde Pública de Yale, pesquisava vírus transmitidos por mosquitos, como a zika. Desde março, porém, todo seu tempo é dedicado ao Sars-Cov-2.

A Universidade Yale fez uma parceria com o Laboratório Jackson de Medicina Genômica, de Connecticut, para estudar como aplicar o teste em grande escala.