Estados Unidos

No centro de Washington, milhares protestam contra o racismo nos EUA

Movimentos voltaram a ganhar força após violência policial contra Jacob Blake

População se reuniu no Memorial Abraham Lincoln - Eric Baradat/AFP

Milhares de manifestantes se reuniram, na noite desta sexta-feira (28), na capital dos Estados Unidos para uma marcha contra o racismo planejada há meses, mas que ganhou força após a violenta tentativa de prisão de Jacob Blake, cidadão negro, no estado de Wisconsin, em episódio que reacendeu a indignação do país.

Os manifestantes lotaram o National Mall, em Washington, em homenagem ao histórico discurso "Eu tenho um sonho”, de 1963, do líder dos direitos civis Martin Luther King Jr. A neta do falecido ativista, Yolanda King, de 12 anos, tomou a palavra para pedir "a verdadeira igualdade". "Somos a geração que irá desmantelar o racismo sistêmico de uma vez por todas", disse a jovem. 

A manifestação foi apelidada de "Tire o joelho," em referência a George Floyd, um americano negro que morreu sufocado por um policial branco em Minneapolis, em maio, gerando os maiores distúrbios em décadas. "Emocionado", o irmão de Floyd, Philonise, agradeceu a presença dos manifestantes. "Eu gostaria tanto que George estivesse aqui para ver vocês", disse em lágrimas, antes de mostrar otimismo: "a mudança está chegando, porque a estamos exigindo".

Os protestos do movimento antirracismo nos Estados Unidos haviam diminuído, mas a indignação voltou a ganhar força no domingo, depois que o afro-americano Jacob Blake levou vários tiros que podem deixá-lo paralítico quando a polícia tentou prendê-lo em Kenosha.

O pai de Jacob Blake fez a multidão gritar em coro: "Sem justiça não há paz”. O agente que atirou em seu filho diversas vezes, identificado como Rusten Sheskey, segue em liberdade e sem qualquer acusação na justiça. Soube-se que Blake permaneceu algemado no leito no hospital até esta sexta-feira.

"Dois sistemas"
"Há dois sistemas judiciais nos Estados Unidos, um para os brancos e outro para os negros", criticou o pai de Blake. O drama provocou manifestações violentas durante três noites em Kenosha, onde duas pessoas foram mortas aparentemente por um jovem de 17 anos, armado com um rifle, que participou da defesa dos comércios locais.

Familiares de Breonna Taylor, uma mulher negra de 26 anos que foi morta em seu próprio apartamento por disparos feitos por um agente, participaram como oradores, visivelmente emocionados diante de um mar de pessoas que repetiam os nomes das vítimas. "O que precisamos é de mudança e estamos em um ponto em que podemos conseguir essa mudança", disse a mãe de Breonna Taylor, Tamika Palmer. "Mas devemos ficar juntos", acrescentou.

Governo critica "anarquistas"
O caso Blake desencadeou um movimento de protestos sem precedentes no mundo esportivo americano, principalmente na liga de basquete profissional, a NBA, que precisou suspender vários jogos, na quarta (26) e na quinta-feira (27), devido a um boicote dos jogadores.

Os oradores agradeceram aos atletas e criticaram o discurso do presidente Donald Trump, que há semanas destaca a violência que pauta algumas manifestações de protestos, mas não comenta as reivindicações e denúncias da população negra. O vice-presidente norte-americano, Mike Pence, rejeitou as acusações de racismo policial sistêmico e condenou "a violência e o caos que envolve as cidades de todo o país".

Trump acusou seu rival democrata nas eleições presidenciais de novembro, Joe Biden, de querer entregar o país a "anarquistas" e "baderneiros”. "Todas as famílias denunciaram os saques, mas não escutamos Trump denunciar os tiros", respondeu o reverendo Al Sharpton, diante do Memorial de Abraham Lincoln.

"Não estamos seguros com ele no poder", completou Tracy Williams, uma soldada negra da reserva que apoiava as famílias das vítimas. Vários oradores ressaltaram a importância das próximas eleições.

"Temos que caminhar até as urnas para defender as liberdades pelas quais as gerações anteriores lutaram tanto", lembrou o filho de Martin Luther King, que tinha 10 anos de idade quando seu pai foi assassinado.

Como seu pai, 57 anos atrás, Martin Luther King III se posicionou na escadaria do Memorial Abraham Lincoln, em frente à multidão que contornava o espelho d’água no calor úmido do final do verão. 

Luther King III pediu aos americanos que continuem lutando contra a desigualdade entre negros e brancos e votem, custe o que custar, para derrotar Donald Trump nas eleições de novembro. "Estamos marchando para superar o que meu pai chamou de triplo mal da pobreza, racismo e violência", disse ele.

A companheira de chapa de Biden, Kamala Harris, a primeira candidata negra à vice-presidência dos Estados Unidos, discurso por mensagem de vídeo: "Temos a oportunidade de fazer história, aqui e agora".