Novidades no Globoplay têm implicações para o futuro da própria TV aberta
Quem já é assinante passa a ter, a partir desta terça (1°/9), a opção de um pacote mais caro que dará direito à transmissão ao vivo de 21 canais do Grupo Globo
Jornalistas dos principais veículos da imprensa escrita participaram, na manhã desta segunda (31), de uma entrevista coletiva por videoconferência, convocada pela plataforma Globoplay. Os executivos Erick Brêtas, que comanda o serviço, e João Marinho, diretor dos canais Globo, comunicaram uma novidade aparentemente simples, mas que pode desembocar numa mudança profunda na maneira com que os brasileiros consomem televisão.
Para começar, os não assinantes do Globoplay -a única plataforma de streaming disponível no país que "se diz menino", tratando a si mesma no masculino- passam a ter acesso não só à transmissão ao vivo da própria TV Globo, como já acontecia antes, como também à do Futura, o único outro canal aberto do Grupo Globo.
Quem já é assinante passa a ter, a partir desta terça (1°/9), a opção de um pacote mais caro, ao preço de R$ 49,90 por mês (ou R$ 42,90, no plano anual), que dará direito à transmissão ao vivo de 21 canais do Grupo Globo. A lista inclui GloboNews, GNT, Multishow, Viva, Off, Universal, Studio Universal, SyFy, Gloob, Gloobinho, Bis, Megapix, Mais Globosat, Canal Brasil e os três SporTV.
Também haverá pacotes especiais (e mais caros) incluindo os canais Telecine, o Combate (de artes marciais) e o Premiere (futebol). Além disso, o assinante do Globoplay + canais ao vivo (o nome oficial do produto) também disporá de conteúdo sob demanda desses canais, seis meses depois da exibição ao vivo.
Ou seja: o acesso a todos esses canais será mais barato do que pelos planos atuais oferecidos pelas operadoras de TV paga. Mas Brêtas e Marinho garantem que o objetivo não é roubar clientes dessas empresas, e sim atingir quem não é contemplado por elas: ex-assinantes, que abandonaram a TV paga principalmente por causa dos preços exorbitantes, e o público mais jovem, que nunca cogitou assinar um pacote desses e está imerso no streaming.
Os executivos podem negar, mas é óbvio que um movimento desses afeta o modelo de negócios de Claro, Vivo, Sky e demais operadoras. É verdade que a qualidade do sinal entregue por elas ainda costuma ser superior ao do streaming. Também contam com a amplidão da cobertura: em rincões do Brasil onde mal existe o 3G, o streaming simplesmente não é uma alternativa viável.
Claro que essas gigantes não estão paradas. A Claro já oferece Netflix em alguns de seus pacotes. Nos EUA, a operadora Comcast criou seu próprio serviço de streaming, o Peacock, em parceria com a rede NBC. Não vai demorar para que o mesmo aconteça também no Brasil, um dos maiores mercados do mundo.
Brêtas ressaltou que, em 2021, nove ou dez grandes serviços de streaming estarão disputando este mercado. A Disney + chega ao país em novembro. A HBO Max deve substituir a HBO GO. O Pluto, uma plataforma gratuita porque também tem anúncios, desembarca no final deste ano.
Com tamanha ebulição, é curioso que as outras grandes redes de TV aberta permaneçam à margem deste processo. A plataforma PlayPlus, do Grupo Record, ainda não causou maior impacto, dois anos depois de ser lançada. E o SBT, restrito ao YouTube, parece decidido em perder mais um bonde da história.
Essas redes deveriam se preocupar, porque, em algum momento, também serão atingidas. Não no conteúdo, mas na maneira como chegam ao espectador. Ainda vai demorar bastante, até porque o Brasil é um país tremendamente desigual, mas já dá para imaginar um futuro em que toda a TV aberta será transmitida online, gratuitamente.
No caso brasileiro, há uma implicação política imensa. Os canais abertos são uma concessão do governo federal, e costumam ser distribuídos para os aliados de quem estiver no poder. Os governantes de plantão também costumam ameaçar seus desafetos com a cassação desta concessão, como Bolsonaro tem feito com a própria Globo.
No streaming, é muito mais difícil fazer isto. O Brasil teria que se converter num estado totalitário como a China para que o governo continuasse com tanto poder. Apesar de tudo, esta hipótese ainda parece remota. O avanço rápido da tecnologia, com uma mudança radical nos hábitos de consumo audiovisual, é bem mais provável. Ainda bem.