Em dia de recessão, Planalto tem forró, vídeo da campanha de 2018 e Bolsonaro emocionado
Presidente, primeira-dama e ministros fazem homenagem póstuma a músico que fez jingle de campanha presidencial
Na terça-feira (1º) em que a economia brasileira registrou retração inédita de 9,7% no segundo trimestre de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não comentou a queda histórica do PIB, e realizou uma cerimônia no Palácio do Planalto com forró, exibição de vídeo de sua campanha de 2018 e emoção.
Durante cerca de uma hora, o presidente participou de uma agenda em homenagem ao músico paraibano Pinto do Acordeon, morto em julho. O artista compôs o jingle da campanha presidencial de Bolsonaro, em 2018.
A cerimônia -que não pôde ser acompanhada pela imprensa, mas foi transmitida pela TV estatal- contou com a execução de músicas num acordeon, como o Hino Nacional e Asa Branca.
O presidente da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), Gilson Machado, tocou o instrumento, assim como tem feito repetidas vezes nas lives semanais de Bolsonaro, o que lhe deu destaque.
De máscara, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, discursou abraçada à viúva do artista, Maria Madalena -que não usava o equipamento de proteção- e lembrou da execução do jingle.
"O senhor Pinto marcou as nossas vidas com as suas canções e deixou sua marca na história da política brasileira e com seu jingle, que estará marcado em nossos corações eternamente", disse Michelle.
"Como o presidente não vai falar, a gente vai ouvir agora o jingle: é de norte a sul, é de leste a oeste, e o Brasil todo votando 17. Na época era o 17, né, Cícero?", afirmou a primeira-dama, fazendo referência ao número do PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu.
Durante a exibição da peça eleitoral, Bolsonaro chorou e as imagens da propaganda eram intercaladas na transmissão da TV pública com closes do presidente emocionado. Ele, então, resolveu discursar.
"Eu nunca sonhei com este momento", iniciou Bolsonaro.
Em sua fala, ele não fez qualquer menção ao dado econômico divulgado horas antes, a retração inédita de 9,7% no segundo trimestre de 2020 na comparação com os três meses anteriores, segundo dados do IBGE.
Esse foi o período mais intenso dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus, como mostraram também dados de outros países. A expectativa é que a economia tenha voltado a crescer no terceiro trimestre, mas há dúvidas sobre o ritmo de recuperação, principalmente por causa das sequelas no mercado de trabalho e da situação fiscal do país.
Em relação ao mesmo período de 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 11,4%. Ambas as taxas foram as quedas mais intensas da série, iniciada em 1996, segundo o IBGE.
No discurso, Bolsonaro disse que "oportunistas" se aproximaram dele durante a campanha e, ao falar da facada que levou em setembro de 2018, fez críticas ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro, mas sem citá-lo nominalmente.
"Aconteceu uma passagem esquisita e eu acho que esta investigação poderia ter chegado ao fim se tivesse escolhido melhor um ministro meu, que, lamentavelmente, não se comportou como toda a população sabia ou esperava dele se comportar", disse o presidente.
Bolsonaro também afirmou que "só Deus sabe" o que ele passa como presidente da República e que muitas vezes sofre sozinho.
"Não queiram a minha cadeira. Com todo respeito, não sou super-homem, mas não é para qualquer um. Tem que estar muito bem preparado psicologicamente, ter coro duro e ver como alguns zombam da nossa nação", afirmou.
"Se tivesse uma filmadora ou um microfone ali dentro [no gabinete] daria várias horas de um capítulo que acho que mudaria o destino da nação. Mas a gente vai fazendo a nossa parte."
Ele disse ainda que era o único candidato diferente há dois anos e que "parece e tenho o sentimento que estamos realmente fazendo a coisa certa".
Ao fim do discurso, ele voltou a se emocionar. Assim que terminou de falar, Bolsonaro deixou o local, antes mesmo do fim da cerimônia.