Polícia mata ciclista negro em Los Angeles com ao menos 10 tiros pelas costas
O ativista Najee Ali, que falou junto de Fair, disse que os policiais "executaram um homem por andar de bicicleta"
Policiais em Los Angeles, na Califórnia, mataram um homem negro com pelo menos dez tiros pelas costas após uma abordagem motivada por uma infração de trânsito nesta segunda-feira (31) -em mais um caso que gerou protestos contra a violência policial nos EUA.
De acordo com a versão dos policiais, o ciclista Dijon Kizzee, 29, foi abordado por uma infração de trânsito, tentou fugir e agrediu um policial, deixando cair uma arma de fogo que carregava escondida em uma trouxa de roupas.
Ao enxergarem a arma no chão, os agentes atiraram.
O advogado da família, Benjamin Crump, disse que Kizzee foi baleado mais de 20 vezes, o que a polícia nega. Um porta-voz da corporação não especificou quantos disparos foram efetuados, mas disse que foram menos de 20.
Uma testemunha ouvida pelo jornal Los Angeles Times conta ter ouvido "de oito a dez tiros" e afirma que os policiais continuaram atirando mesmo com Kizzee já no chão.
De acordo com o New York Times, após os disparos, os policiais algemaram Kizzee, que morreu no local. Segundo testemunhas, autoridades demoraram horas para recolher o corpo.A morte de Kizzee deu início a novos protestos em Los Angeles contra a violência policial e o racismo. Cerca de 100 pessoas marcharam até uma delegacia, de acordo com o Los Angeles Times. A manifestação foi pacífica, mas uma pessoa foi presa por reunião ilegal, segundo a polícia.
Manifestantes pediram que os nomes dos policiais envolvidos sejam divulgados e que uma investigação independente seja conduzida pela procuradoria-geral da Califórnia. Uma autópsia será conduzida ainda nesta terça. A tia de Kizzee, Fletcher Fair, disse em entrevista coletiva que estava "cansada" de ver violência policial contra negros nos EUA. "Estou triste e furiosa ao mesmo tempo. Por que nós?"
O ativista Najee Ali, que falou junto de Fair, disse que os policiais "executaram um homem por andar de bicicleta". "Eles vão dizer que [Kizzee] tinha uma arma, mas não vão dizer que ele não estava armado. Não apontou a arma. Não havia razão para atirar em um homem fugindo." Ali disse que a família vai pedir uma autópsia independente.
Benjamin Crump, que é um advogado conhecido por atuar em casos de direitos civis nos EUA, afirmou em publicação no Twitter que "policiais dizem que [Kizzee] correu, deixando cair roupas e um revólver. Ele não pegou de volta, mas os policiais atiraram nele mais de 20 vezes e o deixaram ali por horas".
A morte de Kizzee é o mais recente caso de uma pessoa negra morta ou ferida por policiais nos EUA. Na semana passada, Jacob Blake também foi baleado pelas costas por policiais e ficou paralisado da cintura para baixo em Kenosha, no Wisconsin.
O caso deu novo fôlego a protestos antirracistas e contra a violência policial no país, que tiveram início com a morte de George Floyd, morto por um policial branco em maio em Minneapolis durante uma abordagem gravada em vídeo.
O presidente Donald Trump visitou Kenosha nesta terça, mas não falou com familiares de Blake, dizendo que não concordava com a presença do advogado da família durante a conversa. O republicano se encontrou com policiais e comerciantes que tiveram danos durante os protestos e chamou os atos de "terrorismo doméstico".
O presidente também atacou prefeitos democratas por não serem firmes contra o vandalismo e o crime e relacionou os protestos a grupos antifascistas, defendendo aumentar o uso da força contra eles. O candidato democrata à Presidência, Joe Biden, condenou Trump nesta segunda (31) por "incitar a violência" contra manifestantes. Trump sugeriu em entrevista coletiva na segunda que Kyle Rittenhouse, adolescente branco que matou dois manifestantes e feriu um terceiro em Kenosha, agiu em legítima defesa, dizendo que ele "provavelmente teria morrido" se não tivesse disparado.
Imagens gravadas por testemunhas mostram o momento em que um grupo de manifestantes tenta desarmar Rittenhouse após ele ter atirado em um deles. O adolescente então faz disparos à queima-roupa contra seus perseguidores. Ele foi acusado de homicídio em primeiro grau, equivalente ao homicídio doloso no Brasil, quando há intenção de matar, e pode pegar prisão perpétua.