Morte de ciclista brasileiro atropelado ao fazer entregas na Irlanda gera protestos
Carioca trabalhava para empresa de aplicativo para pagar futuro mestrado; manifestação por justiça reúne centenas em Dublin
Centenas de entregadores de aplicativo fizeram nesta quarta (2) um protesto no centro de Dublin, em homenagem ao brasileiro Thiago Cortes, que morreu na terça à noite após ser atropelado enquanto trabalhava, por volta das 22h30 de segunda (31).
O motorista fugiu sem prestar socorro. O carro, um Ford Focus cinza claro de 2005, foi encontrado abandonado a algumas centenas de metros do local do atropelamento.
Nascido no Rio, Cortes, 28, era noivo e morava havia dois anos na capital irlandesa, onde estudava inglês.
Ele fazia entregas de bicicleta para a empresa Deliveroo com o objetivo de economizar o suficiente para pagar um mestrado em administração e empreendedorismo.
Segundo a página da União de Estudantes de Língua Inglesa, que organizou o evento desta quarta, batizado de Justice for Thiago (justiça para Thiago), mais de 500 pessoas levaram flores e velas à homenagem, nesta tarde.
A convocatória pedia que os participantes usassem máscaras, guardassem distância e usassem preto ou seus uniformes de aplicativos.
Funcionários de outros aplicativos, como Just Eat e Uber Eats, se juntaram ao protesto, do qual participaram também representantes de sindicatos e de partidos políticos. Além de pedidos de justiça, cartazes diziam "Imigrant Lives Matter" (a vida dos imigrantes importa).
Ciclistas lançaram campanhas em redes sociais pedindo que a polícia encontre e processe os culpados e protestando por mais segurança para os ciclistas.
Os motoristas da Deliveroo decidiram distribuir uma carta com suas entregas, descrevendo os perigos que enfrentam enquanto trabalham.
Segundo um porta-voz da empresa, a Deliveroo fará "o que estiver ao alcance para garantir que a família do piloto tenha apoio durante este momento extremamente difícil".
Para o Fórum de Esquerda Sindical, porém, a morte de Cortes é um "sintoma da superexploração de todos os trabalhadores na falsa economia de trabalhadores independentes/gig".
A entidade afirmou que os entregadores têm pedido há meses uma reunião com a empresa para discutir a falta de segurança.
Policiais investigam a informação de que o carro foi comprado por adolescentes, em dinheiro vivo, e era ocupado por quatro pessoas no momento do atropelamento.
De acordo com a imprensa irlandesa, o motorista pode ser processado por condução perigosa, ferimentos graves e fuga sem prestar assistência, com pena máxima de dez anos.