Mercado

Entenda o aumento dos preços dos alimentos

A entressafra de produtos como o arroz, o atual vilão da inflação; a possibilidade de exportar mais e ganhar em dólar, e a demanda elevada, principalmente por causa da pandemia e do auxílio emergencial, são os principais motivos dos reajustes nos preços

Alta no preço de alimentos - Geraldo Magela / Agência Senado

Comprar alimentos básicos para abastecer a casa está custando caro para os brasileiros. Arroz, leite longa vida e óleo de soja já acumulam altas de cerca de 20% este ano, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um aumento muito superior ao avanço da média dos preços da economia. Na análise de especialistas, três fatores justificam o aumento dos preços: entressafra de produtos; comportamento do dólar, que torna o produto brasileiro mais competitivo fora do País, incentivando as exportações; e a injeção de R$ 50 bilhões por mês para pagamento do auxílio emergencial devido à pandemia do novo coronavírus.

De janeiro a agosto de 2020, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,7%, e em agosto, o grupo de alimentos e bebidas avançou 0,78%, mais do que a taxa do ano inteiro. Por conta da alta nos preços, o Governo Federal decidiu na última quarta-feira zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro deste ano. A ideia é evitar uma escalada inflacionária.

A alíquota de importação para países fora do Mercosul é de 12% para o arroz e 8% para soja e milho. Dentro do bloco, a tarifa é zero. O aumento de preços também vem ocorrendo pelos varejistas como resposta ao represamento de produtos pelos agricultores. Segundo técnicos do governo, o setor vem fazendo estoque para elevar o preço dos produtos.

Na avaliação do economista da Federação do Comércio de Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos, a desvalorização da moeda brasileira no exterior e a alta do dólar acarretam no preço elevado. “Isso tudo tem influência do dólar. Alimentos são commodities e a variação cambial atinge diretamente esses produtos. Com a desvalorização do real, o nosso produto no mercado internacional fica mais barato, mas a demanda é muito alta. Por isso, para o produtor é mais vantagem vender pra fora, pois ele vai ganhar em dólar", avalia. "Provavelmente também tem a questão de safra, menor do que o esperado". A pandemia é outro fator, já que o consumo de produtos para alimentação no domicílio ficou mais elevado.

Ramos destaca que a alta dos preços, principalmente do arroz, pode ser passageira, mas acredita que o auxílio emergencial do Governo Federal pode ter estimulado a procura pelos produtos. Ou seja, a ajuda foi usada pelas famílias para comprar comida, o que teria acarretado no aumento da procura pelos itens da cesta básica. “O auxílio emergencial refletiu no aumento do poder de compra das famílias, especificamente das mais pobres", explica.

Para o economista, é provável que esse movimento seja pontual, pois a tendência é que a produção, ou seja, a oferta, volte a ter equilíbrio. Além disso, o auxílio emergencial, que foi prorrogado até dezembro, será de R$ 300 nos próximos meses - metade do valor original.

Na avaliação do gerente de Relações Industriais da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Maurício Laranjeira, a decisão do governo de zerar o imposto de importação do arroz pode ser benéfico para a população por atrair um preço mais competitivo no mercado interno. “A partir do momento que libera isso, importa a preço mais competitivo e os produtores podem diminuir o preço para vender mais e manter o mercado interno. É interessante, muito mais lógico do que essa falsa ideia de tabelar preço. É o mercado que se regula. Caso tenha essa ideia louca de que não se deve liberar importação, diminuir impostos, aí é que pode ter falta de produtos em gondolas", diz Laranjeira.


Troca
Apesar dos especialistas apontarem que o valor alto é passageiro, o consumidor considera substituir o arroz por outros produtos, pois não esperam uma melhora imediata, com preços mais em conta, como explica a funcionária pública Francisca Novaes, 59 anos. “Tenho sentindo com certeza um aumento. O feijão e o arroz são os vilões, foram eles que mais subiram. O arroz eu resolvi não comprar, vou substituir pelo macarrão. Tenho a substituição de produtos como estratégia. Isso impactou muito no poder de compra e acho que a tendência é piorar”, declarou.

Para a representante comercial Lúcia Caffeu, 54 anos, o aumento está sendo percebido também em produtos fora do gênero alimentício. “Trabalho muito e não tenho tempo para fazer pesquisa. Estou mudando para lojas de atacarejo, pois acho mais em conta. Mas tenho sentido um aumento geral nos preços. O arroz subiu muito, assim como o feijão, o óleo, produtos de limpeza. Com esse aumento impactando na minha renda, a gente acaba comprando um pouco menos de alguma coisa para não estourar o orçamento”, disse.

Motivos para disparada do preço dos alimentos