Estudo nega relação entre uso de ônibus e aumento de casos de Covid-19
Apesar dos dados serem animadores, NTU reconhece que não é possível dizer que não há contaminação no transporte coletivo
Não há relação entre o aumento de casos da Covid-19 e o uso de ônibus. Pelo menos, é o que diz um estudo realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). O material, divulgado nesta quarta-feira (16), analisou dados de 15 sistemas de transporte de cidades brasileiras durante 17 semanas. O Recife e outros 12 municípios pernambucanos estiveram no relatório.
Assim como boa parte das atividades presenciais nos mais diversos setores, a demanda pelo transporte público também está sendo retomada. Ainda diante de números altos de casos da Covid-19, o uso de ônibus, em especial nas grandes cidades e em horário de pico, tornou-se uma preocupação para os usuários do transporte coletivo. Para entender uma possível relação entre esse tipo de deslocamento e a contaminação pelo coronavírus, a NTU analisou, entre 29 de março e 25 de julho, dados de transporte e de contaminação de 171 cidades brasileiras.
Investigando números semana a semana, foi possível perceber que a incidência de casos não se demonstrava proporcional ao aumento da utilização dos ônibus. No caso de Pernambuco, foram analisados o Recife e outras cidades em que há interligação de linhas. A leitura dos dados demonstrou que, apesar de haver estabilização no número de viagens e aumento de casos entre as semanas 14 e 22, entre a semana 23 e 30, as viagens aumentaram e os casos diminuíram.
Entre cada um destes recortes de período, a diferença no número de viagens por semana é de, em média, um milhão para mais. Segundo a NTU, para aumentar a criticidade do estudo, foram analisados dados com espaço de sete, 14 e 21 dias, entendendo a possibilidade de demora na confirmação de casos.
Os sistemas municipais e intermunicipais da capital pernambucana e de cinco outros estados demonstraram resultados em comum. No Recife, Rio de Janeiro, Macapá, Belém, Fortaleza e Teresina, os picos de casos confirmados aconteceram simultaneamente durante as semanas com os menores níveis de realização de viagens.
Apesar dos dados serem animadores, a Associação reconhece que não é possível dizer que não há contaminação no transporte coletivo. “O sistema não pode ser apontado como fator que gera aumento de casos. Obviamente, não estamos dizendo que não existe o risco de contágio no transporte. Todavia, esse risco, segundo consultas, é o mesmo que se daria em outros ambientes onde há mais de uma pessoa no mesmo espaço”, pontua André Dantas, diretor técnico da NTU. Vale salientar que no estudo não houve recorte de veículos com ou sem ar condicionado, ainda que a entidade reconheça e já tenha apresentado nota técnica sobre as vantagens da ventilação no combate à disseminação do vírus.
Para além das recomendações para a população, a NTU também reforçou a importância do trabalho das empresas na garantia de um transporte coletivo mais seguro para a população. “[Recomendamos] a manutenção das janelas abertas, a alteração dos veículos com ar condicionado naquele sistema de exaustão, reforço na limpeza interna dos veículos, a desinfecção ao longo das viagens, utilização dos espaços internos para recomendações e informações para a população, colocar álcool em gel à disposição dos funcionários, assim como a medição diária de temperatura dos profissionais e o uso de máscara”, listou o presidente-executivo da NTU, Otávio Cunha.
Recomendações também foram sugeridas ao Poder Público. “A superlotação precisa ser evitada. Uma alternativa é o reescalonamento dos horários de funcionamento das atividades das cidades, na indústria, no comércio, nas atividades de lazer. Isso pode ser pensado a partir do alongamento do pico, que se dá em duas horas pela manhã e duas horas pela tarde”, acrescenta.
As pesquisas devem continuar e novas análises serão feitas. Os dados do estudo podem ser acessados no site da NTU (www.ntu.org.br).