Bradesco e Itaú investem em fintech de open banking
Sistema leva o consumidor a compartilhar seus dados financeiros com outras instituições em busca de ofertas de produtos e serviços mais vantajosas
Em sua primeira rodada de captação de recursos, a fintech Quanto levantou R$ 15 milhões em investimentos, incluindo dos dois maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú Unibanco.
A Quanto atua no segmento de open banking, sistema por meio do qual o consumidor pode compartilhar seus dados financeiros com outras instituições em busca de ofertas de produtos e serviços mais vantajosas. Também chamado de Sistema Financeiro Aberto, o open banking foi regulamentado pelo Banco Central em maio.
Além dos bancos, os fundos Coatue e Kaszek também aportaram capital. O dinheiro será usado principalmente para a expansão da equipe da fintech dos atuais 45 empregados para cerca de 90 até o final deste ano. Outro plano é antecipar produtos e soluções voltadas para open banking que estavam previstos para o final de 2021.
Com o aporte, os investidores terão participação minoritária no conselho de administração da Quanto. O fundador e presidente da fintech, Ricardo Taveira, ainda continuará como controlador, com gestão independente. O principal objetivo do open banking é aumentar a concorrência do setor, permitindo com isso que o cliente consiga empréstimos mais baratos.
Isso acontece porque a plataforma dá acesso a produtos financeiros de diversas instituições financeiras, numa espécie de cardápio em que o cliente pode escolher a melhor proposta. Para isso, é preciso dar permissão para que as instituições compartilhem seus dados pessoais e bancários, a autorização que fica à critério do cliente.
Segundo Taveira, da Quanto, o cronograma é que em maio de 2021 o open banking já opere para o compartilhamento de extratos de contas e cadastros bancários. A primeira fase de implementação, prevista para o final deste ano, permitirá apenas o compartilhamento de informações de serviços e produtos.
"Já temos uma ideia de qual é a cara desse API [padrões de programações de um sistema que permite a conexão de outras plataformas], mas as regras do open banking, como um todo, ainda estão sendo finalizadas. A expectativa é que até maio comece a fase dois, que já permite que o cliente final sinta algum impacto", disse Taveira.
"Como é um caminho natural do mercado, tanto as fintechs como os bancos já começaram a desenvolver e adaptar seus modelos e sistemas, pensando nessa migração. É uma boa oportunidade para todos", afirmou.
O cenário favorável para a adoção do open banking, no entanto, só veio depois que o Banco Central regulamentou as questões relacionadas aos custos e à responsabilidade das informações do cliente.
Quando as discussões acerca do open banking começaram a ganhar fôlego no país, por exemplo, era pauta frequente nas mesas de discussões quais seriam os valores cobrados pelos bancos para que as fintechs pudessem acessar suas informações. O receio era de que os custos tornassem o avanço do sistema inviável para essas iniciativas.
De outro lado, os bancos também se preocupavam e traziam para o debate a responsabilidade sobre os dados. O que se afirmava era que, uma vez que as informações estariam sendo compartilhadas, precisaria haver uma delimitação de responsabilidade sobre os dados compartilhados, já que os modelos e sistemas antifraude, por exemplo, podem variar de uma instituição para outra.
O BC resolveu ambas as questões. Definiu um limite de até 120 consultas gratuitas por mês para cada instituição (sendo as consultas contadas por conta, por banco e por recebedor da informação). A tarifa a ser cobrada a partir da 121ª consulta ainda será definida em convenção.
Sobre a responsabilidade, a autoridade monetária se baseou na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e em precedentes jurídicos, definindo que uma vez que o usuário solicita o compartilhamento de seus dados para um terceiro, a responsabilidade do banco cessa e passa a ser do cliente e da instituição a que se destina a informação.