Educação

Apesar de pressão, sindicatos de professores não conseguem impedir reabertura de escolas no País

Docentes dizem não haver estrutura segura para a volta das aulas presenciais

Portão de escola fechado pela suspensão de aulas - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Contrários à reabertura das escolas neste ano, sindicatos de professores de várias regiões do País aprovaram greve e recorreram à Justiça, mas não conseguiram adiar o retorno. A insegurança dos docentes, no entanto, faz com que a adesão de volta às aulas seja baixa.

Primeiro estado a reabrir as escolas estaduais, o Amazonas enfrenta greve de professores desde 10 de agosto, quando retomou as aulas presenciais para os alunos do ensino médio de Manaus. A paralisação não impediu a volta das atividades, mas adiou o retorno para as demais etapas de ensino.

O governo planejava retomar as atividades do ensino fundamental em 24 de agosto, mas adiou e não tem nova data prevista. A secretaria disse que a mudança do plano ocorreu para que as unidades fossem mais bem preparadas e para a testagem de um número maior de educadores.

"Sempre fomos contra o retorno e pedíamos exatamente o que eles dizem que vão fazer agora: melhores condições físicas nas escolas e testagem. Por que parte dos alunos tem que correr os riscos? A volta foi precipitada e não querem admitir", diz Helma Sampaio, coordenadora da Asprom (sindicato dos professores da rede pública de Manaus).

Em São Paulo, que autorizou a volta de atividades presenciais a partir de 8 de setembro, as entidades ligadas aos professores entraram com ação na Justiça para barrar a reabertura. Depois de duas decisões contrárias ao pedido, eles ingressaram na última sexta (18) com um novo agravo.

Eles defendem que a reabertura, mesmo que parcial, pode aumentar o contágio pelo coronavírus e colocar em risco a saúde dos profissionais. Ainda que não tenham conseguido decisão favorável, a adesão ao retorno foi baixa. 

Poucos municípios paulistas – somente 128 dos 654 – aderiram ao planejamento de retorno do governo João Doria (PSDB). Apenas 200 das mais de 5.500 escolas da rede estadual paulista, cerca de 3,6%, reabriram na primeira semana em que tinham autorização.

"O governo pode nos ignorar, nos desconsiderar nesse planejamento, mas depende dos professores para fazer a reabertura. As famílias confiam seus filhos aos professores, então é natural que confiem no nosso julgamento de que não foi garantida segurança para o retorno", diz Celso Napolitano, presidente da Fepesp (Federação dos Professores do Estado de São Paulo).

"As autoridades não apresentaram condições seguras, não anunciaram um plano concreto de ações para equipar as escolas. As famílias, assim como os professores, conhecem bem a situação dos colégios e, por isso, também se sentem inseguras", completa.

Heleno Araújo, presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), diz ser um erro que o planejamento de volta às aulas não envolva os educadores, que conhecem de perto a realidade das escolas.

"Os professores sabem que os banheiros têm pias quebradas, que falta água, sabonete, que papel higiênico é item de luxo na escola pública. Quem elabora esse planejamento sabe que essa é a realidade dos colégios mesmo nas maiores cidades, mesmo na região central?”

No Rio Grande do Sul, o governo anunciou a volta às aulas na rede estadual a partir de 13 de outubro. Contrário ao retorno, o sindicato ainda estuda como adiar a reabertura, já que avaliam não ser efetivo montar uma greve.

"Sabemos fazer greve com a mobilização nas ruas, atos de protesto. Temos muita responsabilidade com os professores e isso está fora de cogitação nesse momento. Estamos procurando outras estratégias", diz Helenir Schürer, presidente do CPERS (sindicato dos professores da rede estadual do Rio Grande do Sul).

Para Lucas Hipolito, diretor do Sepe-RJ (sindicato estadual dos professores do Rio de Janeiro), ainda que prefeitos e governadores não organizem a volta às aulas em conjunto com os docentes, a posição contrária das entidades tem influenciado a decisão.

"Eles ficam sempre empurrando a reabertura para a frente. Anunciam uma data, depois adiam e adiam de novo. Não querem admitir, mas sabem que não há um planejamento que garanta condições seguras para a volta nesse momento", diz.