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Ao STF, Heleno diz que pessoas e governos estrangeiros mentem sobre Amazônia para derrubar Bolsonaro

A declaração foi dada em encontro convocado pelo ministro Luís Roberto Barroso

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno
Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno - Antonio Cruz/Agência Brasil

Em audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (21), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, afirmou que "nações, entidades e personalidades estrangeiras" mentem sobre a atuação do Executivo na proteção da Amazônia com o objetivo de "prejudicar o Brasil e derrubar o governo de Jair Bolsonaro".

A declaração foi dada em encontro convocado pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator da ação em que três partidos acusam o governo federal de omissão por não adotar providências para a gestão adequado do Fundo do Clima.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também participou da audiência. Ele criticou o Executivo e disse que o governo só passou a dar a devida atenção ao Fundo do Clima após as siglas PT, PSOL e Rede Sustentabilidade terem apresentado essa ação ao STF.

Segundo Maia, em 2020 o governo destinou orçamento equivalente a apenas 67% do ano anterior ao fundo. "Em 2019, o valor autorizado inicialmente encontrava-se na média, contudo a execução efetiva dos recursos ficou próxima de zero", criticou.

Diante desses dados, o governo encaminhou ao Congresso um projeto para destinar mais R$ 195 milhões ao fundo. Isso, porém, ocorreu no fim do ano e não deu tempo para usar o novo aporte. "Não foi possível fazer nada com aquele recurso, que apenas inflou artificialmente o valor final autorizado para o fundo no Orçamento de 2019", frisou.

Heleno usou a palavra logo depois de Maia e listou todas as ações do governo na proteção da Amazônia, além de citar números que demonstram a preocupação do país com o meio ambiente.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, seguiu a mesma linha e disse que o discurso de que o Brasil vive um retrocesso ambiental não é verdadeiro. Para Salles, a ação judicial perdeu o objeto e deveria ter a tramitação encerrada pelo STF, uma vez que o governo já teria comprovado o uso adequado do Fundo do Clima. "Os fatos nem sempre correspondem às versões que são trazidas. Quando a gente verifica fato a fato a gente vê que aquela narrativa do desmonte, do retrocesso, da não preservação, do não cuidado não se sustenta. O que pode haver são visões diferentes de como fazê-lo".

Heleno reconheceu que se trata de um "assunto é altamente polêmico" e disse que não há comprovação científica de que o aumento de incêndio nas florestas decorra de inação do governo federal. "Na verdade, elas têm a ver com fenômenos naturais, cuja ação humana é incapaz de impedir", disse.

De acordo com Heleno, as críticas partem de "alguns poucos brasileiros que se alinharam a propostas de deslustrar o Brasil porque até hoje não admitiram a alternância de poder".

O ministro não rebateu os números de Maia sobre a baixa execução orçamentária do Fundo do Clima e reconheceu que há grandes dificuldades para o governo federal proteger a Amazônia.
São evidentes, segundo Heleno, as deficiências de recursos financeiros, pessoais, de infraestrutura, de saneamento básico e até da presença do Judiciário e do monitoramento das fronteiras.

"Na Amazônia Legal cabem todos os países da UE. A infraestrutura e a grandiosidade da área tornam qualquer ação dos órgãos públicos difícil e muito dispendiosa. Os orçamentos públicos destinados estão muito aquém das necessidades há décadas", disse.

O ministro, porém, afirmou que o governo tem trabalhado de forma transversal e envolvido todos os ministério na proteção ao meio ambiente. 

Heleno disse, ainda, que o Brasil é referência no combate ao desmatamento no mundo. "A Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas do planeta, hoje tem apenas 0,1%. A Ásia detinha quase um quarto das florestas do mundo, 23,6%. Agora possui 5,5% e segue desmatando. No sentido inverso, a América do Sul, que detinha 18,2% das florestas, agora possui 41,4%", ressaltou.

Para Heleno, também é necessária debater como atender sem viés político, teológico ou ideológico "as reais e legítimas aspirações dos povos indígenas".

O ministro foi enfático ao encerrar o discurso: "Não podemos admitir e incentivar que nações, entidades e personalidades estrangeiras, sem passado que lhes dê autoridade moral para nos criticar, tenham sucesso em seu objetivo principal, obviamente oculto mas evidente, que é prejudicar o brasil e derrubar o governo Bolsonaro".

Rodrigo Maia, por sua vez, disse que a verba média para o fundo desde sua criação é de R$ 359 milhões e que este governo passou a dar mais atenção ao tema após a discussão chegar ao STF. "O ajuizamento dessa ação, contudo, parece ter estimulado o governo a tomar algumas medidas. Uma nova composição do comitê gestor foi nomeada em março deste ano e o plano anual de aplicação de recursos foi finalmente aprovado em julho, com quatro meses de atraso", afirmou.

Maia destacou que a busca pelo meio ambiente saudável não pode estar no campo da disputa política. "Isso é uma obrigação de todos os agentes públicos que, ao assumirem seus mandatos, prometeram cumprir a Constituição. Esses não têm opção de negligenciar essa obrigação. Descuidar desses deveres é violar frontalmente a Constituição"

O ministro Luís Roberto Barroso explicou que a audiência pública serve para os integrantes do STF terem detalhes sobre o tema para fazerem o julgamento mais justo sobre a gestão do Fundo do Clima contestada no Supremo.

Segundo o magistrado, as questões da mudança climática e do aquecimento global são as grandes questões ambientais contemporâneas.

Para ele, há dois problemas que afetam as soluções para o tema. "Em primeiro lugar, uma mistura de ceticismo com desconhecimento, apesar de a grande maioria dos cientistas afirmar peremptoriamente que esse é um grande problema e vem se agravando", disse.

E complementou: "A segunda posição que dificulta um pouco o enfrentamento a essa matéria é que o impacto ambiental que se produz hoje só vai produzir efeitos reais e negativos sobre a vida das pessoas daqui a 25 anos, às vezes 50 anos", afirmou.