Fogos em nove fazendas destruíram 141 mil hectares no Pantanal
Desde o início do ano até domingo (20), a área queimada no Pantanal alcançou 3.179.000 hectares, o equivalente a 21,2% do bioma
Focos de incêndio iniciados em nove fazendas do Pantanal destruíram 141.773 hectares de vegetação, uma área pouco menor do que o município de São Paulo. Quatro dessas fazendas foram identificadas pela Polícia Federal (PF), na Operação Matáá, que investiga queimadas ilegais no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A soma desses focos foi responsável pela destruição de 25 mil hectares.
As outras cinco propriedades rurais se localizam em Mato Grosso e desataram incêndios que teriam destruído 116.773 hectares. O levantamento é da ONG Repórter Brasil após cruzamento de dados do Instituto Centro de Vida (ICV) com os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). A reportagem confirmou as informações.
Tanto a PF quanto o ICV cruzaram o monitoramento satelital dos focos de calor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) e da Nasa, a agência espacial norte-americana. Desde o início do ano até domingo (20), a área queimada no Pantanal alcançou 3.179.000 hectares, o equivalente a 21,2% do bioma. Apesar de ter a menor parte do Pantanal, Mato Grosso é o estado mais devastado, com 1.941.000 hectares.
Os números são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e foram repassados à reportagem pelo Ibama. Uma das fazendas identificadas pela Repórter Brasil é fazenda Comitiva, localizada no município de Poconé (MT), a 104 km a sudoeste de Cuiabá. O fogo começou ali no dia 20 de julho e se espalhou pelo entorno, queimando 25.188 hectares.
Localizado pela ONG, o proprietário, Raimundo Costa, informou que o fogo começou após a explosão de um veículo e destruiu 40% de sua fazenda, de 15 mil hectares. Em Mato Grosso do Sul, um dos fazendeiros investigados é Ivanildo Miranda, dono da fazenda Bonsucesso. A informação foi revelada pelo programa Fantástico, da Rede Globo. Via advogado, ele negou ter iniciado as queimadas.
Miranda frequentou o noticiário nos últimos anos após ter confessado ser operador do ex-governador André Puccinelli (MDB) em esquema de propina da JBS em Mato Grosso do Sul para obter incentivos fiscais. Além disso, perícias do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman), do governo de Mato Grosso, indicam que um foco iniciado em fazenda devastou a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), em Poconé.
O Ciman identificou um acidente automobilístico, o incêndio acidental de uma máquina agrícola, faísca de fiação elétrica e o uso do fogo para retirada de mel como outros focos de queimadas no Pantanal de Mato Grosso. Assim como na Amazônia, o fogo é utilizado por fazendeiros e agricultores no Pantanal para limpeza de pasto e para o desmatamento de áreas de mata nativa.
Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a proibição do uso de fogo em propriedades rurais começou em 1º de julho e continua em vigor. Além disso, decreto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) proibiu queimadas no país por 120 dias, a partir de 16 de julho.
As proibições legais não impediram que os focos de incêndio pelo Pantanal, que enfrenta a mais forte seca em décadas.
Até o último dia 16, o Pantanal já acumulava 5.603 focos de calor, segundo o Inpe. Mesmo na metade de setembro, trata-se do maior número registrado na série histórica para este mês.
Apesar das diversas provas de ação humana, Bolsonaro disse nesta terça (22), em discurso para a ONU, que o fogo no Pantanal foi provocado pela temperatura alta deste ano e pelo "acúmulo de massa orgânica em decomposição".