Futebol

Maioria dos clubes da Série A só aceita torcida no estádio se for para todos

CBF tem reunião marcada na tarde desta quinta com dirigentes dos clubes para discutir o assunto

Campeonato Brasileiro é organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) - Yuri Laurindo/CBF

Para a maioria dos dirigentes da Série A, o retorno das torcidas aos estádios de futebol no Campeonato Brasileiro só deverá ocorrer se houver respeito ao princípio da isonomia na competição. Isso poderá melar as intenções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de ter público nos jogos já em outubro.

A reportagem questionou representantes dos 20 clubes da Série A sobre a liberação para os torcedores, e 13 deles afirmaram que só aceitam a medida caso valha para todos.

A confederação tem o aval do Ministério da Saúde para que os estádios recebam no máximo 30% de sua ocupação máxima e apenas a torcida do time mandante, mas para a medida ser colocada em prática, é necessária a permissão das autoridades sanitárias de cada estado e município onde as partidas serão realizadas.

O governo de São Paulo, no entanto, já afirmou nesta quarta-feira (23) que não permitirá o retorno do torcedor ao estádio tão cedo. Também há autoridades municipais, como os prefeitos Nelson Marchezan Júnior (PSDB), de Porto Alegre, e Alexandre Kalil (PHS, e ex-presidente do Atlético-MG), de Belo Horizonte, que se declararam contrários ao retorno do público.
 



Essa imposição gerou receio entre os cartolas. Para Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético-MG, Botafogo, Goiás, Atlético-GO, Coritiba, Vasco e Fortaleza, só deve haver liberação para torcida nos jogos do Brasileiro se a medida valer para todas as 11 cidades sedes do campeonato.

Dirigentes de clubes e da CBF se reunirão na tarde desta quinta-feira (24) para debater o assunto por videoconferência.
"Apoio a ideia dentro de critérios rígidos e gerais, não é um estado ali ou município aqui que vá organizar isso, e que todas as praças retornem ao mesmo tempo", diz Romildo Bolzan Júnior, presidente do Grêmio.

"A definição sobre a presença de público nos estádios passa pelos órgãos de saúde. Não cabe aos clubes essa decisão. O que precisamos preservar é a isonomia do campeonato", afirmou Alexandre Chaves Barcellos, vice-presidente do Internacional.

"O Botafogo defende o princípio da isonomia, uma premissa básica quando se fala em competição. Precisa contemplar todos os clubes e os cenários vivenciados em todo o país, sob os mesmos critérios", diz o presidente do Botafogo, Nelson Mufarrej. "É imprescindível que haja o respaldo dos órgãos de saúde e que ocorra sem açodamentos."

Procurados pela reportagem, Flamengo e Fluminense não quiseram se manifestar antes da reunião de quinta. Athletico, Red Bull Bragantino e Sport não responderam até a publicação deste texto. O presidente do Ceará, Robinson de Castro, defendeu o retorno do torcedor aos estádios, mas afirmou que a forma como isso deve acontecer ainda precisa ser debatida.

Guilherme Bellintani, mandatário do Bahia, também espera o desfecho da reunião para se pronunciar. "Vamos discutir entre nós [cartolas] e, com argumentos ponderados e cuidadosos, vamos chegar a um denominador comum. Mas claro que o ideal é que todos os clubes estejam com o público ao mesmo tempo", afirmou.

Ao canal SporTV, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, indicou que sem unanimidade, a confederação irá abrir mão da ideia. "Vamos buscar o equilíbrio técnico para que a maioria das cidades tenham a oportunidade de se manifestar, para ver se é possível construir um consenso de um retorno seguro, integrado, sistêmico e gradual. Se houver consenso, avançaremos, se não, vamos recuar", declarou.

No Rio de Janeiro, há divergências entre prefeitura e o governo estadual sobre o retorno das torcidas. No último dia 18, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) disse que queria colocar até 20 mil pessoas no Maracanã -cerca de 25% das 80 mil pessoas que o estádio comporta– para a partida entre Flamengo e Athletico-PR, pelo Brasileiro, marcada para 4 de outubro.

Porém, no dia seguinte, o governador interino do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), prorrogou as medidas de isolamento social no estado, suspendendo a realização de eventos esportivos e culturais, entre outros, com a presença de público.

A CBF agendou a reunião com os cartolas depois que o Ministério da Saúde concedeu o seu aval nesta terça-feira. A presença de público nos estádios gerou críticas de infectologistas, ouvidos pela reportagem.

"A abertura de estádios é totalmente imprudente e desnecessária porque tem riscos no local e no transporte. Não há nenhum local no mundo que está aceitando a volta de torcidas [na proporção de 30%]. Com certeza, o estádio é um dos locais de maior espalhamento [do vírus], afirmou o epidemiologista Paulo Lotufo.

Relembre: jogo da Champions pode ter espalhado coronavírus a milhares na Itália. Coordenador do Comitê de Combate à Covid-19 do estado de São Paulo, José Medina lembrou ainda que, pelo plano de flexibilização da quarentena no estado, eventos com potencial de aglomeração, como é o caso dos esportivos, só podem acontecer com público na fase azul, a última do gradual afrouxamento de restrições.

Atualmente, todo o estado está na fase amarela, e ainda precisaria passar pela verde para chegar a este patamar. O governo de São Paulo afirmou ainda que no pedido enviado pela CBF para a liberação parcial das arquibancadas, a estimativa era de que cada partida reunisse até 20 mil torcedores.

O governo também negou o pedido para que o jogo entre Brasil e Bolívia, marcado para o próximo dia 9 de outubro, na Arena Neo Química, pelas eliminatórias da Copa, recebesse público.