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'O maior medo dos bancos é perder a relação direta com os clientes', diz diretor do BC sobre open ba

O diretor usou o exemplo do WeChat, plataforma chinesa que faz intermediação de pagamentos e produtos financeiros

Diretor de regulação do Banco Central, Otávio Damaso - Flickr/Banco Central do Brasil

O diretor de regulação do Banco Central, Otávio Damaso, afirmou que o maior medo dos bancos com relação ao Open Banking é perder a relação direta com seus clientes.

"Vejo que o maior medo dos bancos é perder a relação direta com seus clientes, que plataformas entrem no meio do caminho", afirmou em evento da Uqbar nesta terça-feira (29).

O open banking, ou Sistema Financeiro Aberto, será uma plataforma pela qual o consumidor poderá compartilhar seus dados financeiros com outras instituições em busca de condições de crédito melhores. "As instituições estão reagindo a esses processos, para a evolução do sistema com a participação de todos. Nosso maior objetivo é que o consumidor tenha condições de fazer a melhor escolha", completou.

O diretor usou o exemplo do WeChat, plataforma chinesa que faz intermediação de pagamentos e produtos financeiros, entre outros serviços. "É uma empresa que vende produtos e o cliente adquire aquele produto sem saber que por trás tem uma instituição. Os dados do cliente fluem pela plataforma e os dados são o ouro da vez", disse.

A primeira fase do novo modelo começa a funcionar em novembro, quando os bancos compartilharão as informações de seus produtos financeiros para padronização.

Como será implementado em etapas, os clientes só poderão utilizar a ferramenta em outubro do próximo ano.

O objetivo é que o cliente consiga empréstimos mais baratos, o que aumenta a concorrência no setor. "As informações dos clientes não transitam no BC. Um dado poderá ser passado de um banco A para um banco B em um clique", explicou Damaso.

Na prática, por meio de uma plataforma, ele terá acesso aos produtos financeiros de outras instituições e poderá escolher o mais vantajoso. Para isso, ele precisará ceder dados pessoais e bancários.

O consumidor poderá escolher se quer ou não compartilhar suas informações. Apenas os grandes bancos serão obrigados a entrar no sistema.

Já os menores e outras empresas, como administradoras de meios de pagamentos e fintechs [empresas de tecnologia ligadas a finanças], poderão optar por participar, desde que também forneçam informações.

A plataforma será gerida pelo próprio mercado, mas terá de seguir o padrão estabelecido pela autoridade monetária.

Sobre a regulação do Open Banking, o diretor destacou que o BC estudou modelos de outros países. "A vantagem de ter estudado a fundo experiências internacionais foi ver os desafios enfrentados em outros países. No Reino Unido, por exemplo, a experiência do cliente foi muito prejudicada porque tinham várias etapas de confirmação, eram cinco camadas de 'ok'. O cliente acabava perdendo o interesse em participar do sistema", contou. "Percebemos o movimento e na regulação buscamos mitigadores para que no Brasil seja de forma segura e fluida."

Segundo Damaso, a pandemia do novo coronavírus acelerou o processo de digitalização dos serviços bancários e pagamentos. "As gerações mais antigas, apesar de não terem crescido com o acesso remoto, vêm usando cada vez mais essas ferramentas, se adaptando e muitas vezes preferindo aos métodos tradicionais. O isolamento social deu um empurrão, principalmente para essa geração dos nossos pais e avós. Eles não podiam sair de casa e queriam ter esse acesso, aprenderam na marra e gostaram", exemplificou.

Para ele, as empresas que identificarem e anteciparem as demandas dos clientes terão vantagens neste primeiro momento. "Quem perceber e antecipar essas demandas de forma mais consistente vai largar na frente, o que é uma grande vantagem. As instituições estão atentas a esse processo", ressaltou.