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Em meio a polêmica, ministro veta divulgar cloroquina em 'dia D' contra Covid

Chamado de 'dia de conscientização para o cuidado precoce', o dia D está marcado para ocorrer no sábado (3)

Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello - Marcos Corrêa/ PR

Em meio a polêmica sobre a realização de um dia D contra Covid com aulas virtuais sobre cloroquina, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse a auxiliares que irá vetar a divulgação de medicamentos na iniciativa, prevista para ocorrer no sábado (3).

A orientação, agora, é que o evento foque no que é chamado de "atendimento e conduta precoce" contra a doença, mas que se evite falar em remédios. Irritado, o ministro também ameaçou cancelar a campanha caso haja citação direta a medicamentos, seja quais forem, dizem membros da pasta ouvidos pela reportagem.

Segundo esses auxiliares, a posição já havia sido citada pelo ministro, e foi reforçada por Pazuello nesta terça-feira (29), após o jornal Folha de S.Paulo divulgar que uma das ações previstas era fazer aulas virtuais a médicos sobre a cloroquina.

A proposta havia sido defendida pela secretária de Gestão do Trabalho na Saúde, Mayra Pinheiro, segundo quem a data serviria para "conscientizar médicos que ainda têm medo porque sofreram muito bombardeio de sociedades médicas, de grupos que, por ideologia, eram contra o medicamento".

O remédio, porém, ainda não tem comprovação de eficácia contra a Covid-19. Estudos randomizados e controlados, tidos como padrão-ouro, também não apontaram resultados positivos.

O temor de que haja uma 'exaltação' à cloroquina também tem levado alguns secretários estaduais de saúde a apontarem que, a depender do planejado, não devem apoiar a proposta.

Chamado de 'dia de conscientização para o cuidado precoce', o dia D está marcado para ocorrer no sábado (3).

Inicialmente, a pasta chegou a prever a possibilidade de que o Exército distribuísse hidroxicloroquina para unidades básicas de saúde selecionadas para a data. Também sugeriu reforçar a distribuição para municípios que tenham condições de fracionar o remédio -doado pelos Estados Unidos em embalagens com doses maiores do que o habitual.

A proposta consta de documento obtido pela Folha de S.Paulo e apresentado em reunião na última semana com entidades médicas, conselhos e secretários de saúde.

Auxiliares do ministro, porém, dizem que a proposta constava de uma primeira minuta, a qual já foi revista, apontam. Agora, a ideia é centrar a data em ações de divulgação, nos moldes de uma campanha.

Em nota divulgada na sexta (25), o ministério disse que deve usar a data de forma atrelada à campanha #NãoEspere, que visa orientar que pacientes com suspeita de Covid-19 procurem os serviços de saúde logo aos primeiros sintomas. "O objetivo é garantir o direito e acesso da população ao tratamento precoce e evitar o agravamento da doença, reduzindo complicações, internações e óbitos", informa.

Na prática, mesmo sem citar expressamente o remédio, a pasta deve orientar que cabe ao médico verificar cada caso e avaliar prescrever possíveis medicamentos.

Para especialistas, a medida pode abrir espaço para a cloroquina, já que a oferta vem sendo ampliada pela pasta.

Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, o ministério quintuplicou a oferta do remédio a estados e municípios durante a pandemia. O aumento foi maior desde o início da gestão interina de Pazuello, que foi confirmado no cargo neste mês.

Em nota, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) disse defender que as pessoas com Covid-19 recebam atenção médica a partir dos primeiros sintomas, mas que isto "não deve significar o estímulo à utilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença".