Para financiar Renda Cidadã, Mourão diz que ou governo corta gastos ou cria imposto
O presidente tem encontrado dificuldades em encontrar uma solução para financiar o programa social, que substituiria o Bolsa Família
Com a dificuldade do governo em encontrar uma forma de financiar o Renda Cidadã, o vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta quinta-feira (1º) que a única maneira de lançar um programa social robusto é ou por meio do corte de gastos ou pela criação de um novo imposto.
Em conversa com a imprensa, o general da reserva disse que, além de abandonar a proposta de limitar os gatos de precatórios, acredita que o presidente Jair Bolsonaro também não levará adiante a ideia de usar recursos do Fundeb (fundo para educação básica).
"Se você quer colocar um programa social mais robusto que o existente, você só tem uma de duas linhas de ação. Ou você vai cortar gastos em outras áreas e transferir esses recursos para esse programa. Ou você vai sentar com o Congresso e propor algo diferente, uma outra manobra, algo que seja, por exemplo, fora do teto de gastos. Um imposto específico para isso e que seja aceito pela sociedade como um todo", afirmou.
O vice-presidente ponderou, no entanto, que não tem participado do debate sobre o financiamento da proposta. Em encontro na quarta-feira (30) com a equipe econômica, o presidente não chegou a uma definição sobre como viabilizar a iniciativa.
Nesta quinta-feira (1º), o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem um novo encontro no Palácio do Planalto com líderes do governo para tentar chegar a um consenso. A eventual criação de um imposto enfrenta forte resistência junto à cúpula militar.
Na segunda-feira (28), tanto integrantes do Poder Legislativo como do TCU (Tribunal de Contas da União) criticaram a ideia do presidente de financiar o Renda Cidadã com precatórios e Fundeb. Na opinião deles, o Executivo tenta driblar o teto de gastos por meio de uma "contabilidade criativa".
A crítica tem sido feita até mesmo por membros da equipe econômica, que consideram que o financiamento avaliado pelo governo pode ser classificado como uma "pedalada". No início da semana, Bolsonaro disse que quer uma "solução racional", mas observou que, caso não encontre, poderá adotar uma "decisão mal tomada".
"Eu quero a solução racional e preciso de ajuda no tocante a isso. Agora, se não aparecer nada, vou tomar aquela decisão que o militar toma. Pior do que uma decisão mal tomada, é uma indecisão. Eu não vou ficar indeciso", afirmou.
Mourão afirmou ainda que não acredita que o Renda Cidadã possa ser prejudicado pelo embate entre o ministro da Economia e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segundo ele, a troca de acusações se trata de uma questão pessoal.
"Mas o Guedes e o Maia é uma coisa pessoal, pô. Isso não tem nada a ver. Acho que vocês [imprensa] também ficam revirando esse troço. Não. O conjunto da obra são 512 deputados federais mais o Maia. Paciência", afirmou.
Maia acusou Guedes de interditar a reforma tributária. Em resposta, o ministro disse há boatos de que o deputado fez um acordo com a esquerda para travar as privatizações. "Paulo Guedes está desequilibrado", rebateu Maia.