Joana Hime entrelaça poesia e música em projeto que conta com parceria do pai, Francis Hime
"Entreventos", lançado recentemente, está disponível nas plataformas digitais e abre uma sequência de singles que deve culminar em projeto de até dez canções
Para quem “bebe” de fontes múltiplas e entende a arte como fusão, enveredar por projetos atravessados entre poesia e música se torna uma culminância óbvia - além do fato de ser filha de um dos nomes de peso da composição brasileira.
É mais ou menos dessa forma que a trajetória de Joana Hime pode ser desenhada sob o incremento do single recentemente lançado nas plataformas digitais, “Entreventos”, feito em parceria com o pai, o cantor e compositor Francis Hime, 81.
“Poesia e música sempre estiveram presentes em minha vida. Estudei música, teatro, dança, e concluí mestrado em literatura. O ambiente da academia te proporciona esse lugar de reflexão e criação, porque você passa anos lendo e escrevendo, duas coisas que mais amo na vida”, conta Joana em conversa com a Folha de Pernambuco.
À frente como gerente artística do selo Biscoito Fino por pelo menos 14 anos, Joana – filha do meio do casal Olívia e Francis Hime – atua no mercado da música desde os anos 2000.
Ativa no universo de atravessamento das artes, e com a ideia de “dançar a voz por meio das palavras”, Joana passou a musicar seus escritos dando o start para um projeto que deve ser composto por dez canções, parte delas em parceria com o pai e com nomes como Fred Martins e Lucas Bueno.
“Eu cuidava de selos com vieses musicais bem diferentes, desde o clássico até artistas do pop, do rock. E para as canções do disco eu venho, naturalmente, adaptando os poemas para letra por conta da métrica musical e também pela sonoridade das palavras. Estou com mais quatro canções prontas, sempre gravadas com o mínimo possível de instrumentos”.
Para “Entreventos” Joana se inspirou em obra do português José Luís Peixoto, seu “poeta atual do coração”. “Durante minha infância eu inventava na escola que eu não era brasileira e era adotada e que meus verdadeiros pais residiam em Portugal”, conta ela aos risos, confessando que Fernando Pessoa foi o seu "primeiro poeta da vida”.
Para arrematar a admiração que carrega pelo país, ela levou para dramatização vocal do primeiro single a atriz portuguesa Carolina Floare, “expressiva e a cara de Lisboa”, segundo ela, que se diz arrebatada pelo sotaque do local. A gravação, realizada no estúdio da Biscoito Fino no Rio de Janeiro, contou também com o piano de Francis Hime e o violoncelo de Jaques Morelenbaum.
Sobre a relação com o pai, musicalmente ela conta que há muito em comum. A participação dele nos singles, de acordo com Joana, aconteceu de forma “fluida e rápida”.
“Seja pela necessidade de ficar só, seja na pulsão criativa, somos muitos parecidos. Na narrativa desta primeira canção eu me coloco como persona ' masculina. Ele diz que ama ser o único homem da família (risos) - são três filhas e quatro netas", conta Joana, que complementa, ressaltando os ares saudosistas do pai.
"Papai anda muito nostálgico, se emociona e me estimula sempre. É uma imensa alegria reverenciá-lo em vida, pois como dizia Niemeyer ‘a vida é um sopro’”, ressalta ela que com Francis Hime, além de “Entreventos” - lançado também com clipes - chegará em breve com os singles “Casa” e “Sessão da Tarde”, este último com participação de Zélia Duncan.