Felicidade

Dinheiro traz felicidade? Especialistas buscam a resposta; confira

A Folha de Pernambuco conversou com especialistas para responder essa questão que constantemente é assunto em conversas informais

As pessoas mais ricas são mais felizes? - Elimar Caranguejo - Cufa Pernambuco/Divulgaçã

Dinheiro traz felicidade? Essa é uma pergunta que costuma ser tema em mesas de bares, reuniões em família e conversas com amigos. Alguns discordam, outros concordam, mas o que não dá para negar é a sua importância na sociedade em que vivemos. Em um país em que milhões de pessoas passam fome, o dinheiro significa muito mais do que poder de aquisição, ele pode representar a sobrevivência. “Para uma pessoa que não tem nada, que não sabe o que vai dar de comer para os filhos e nem como será o dia de amanhã, o dinheiro significa viver ou morrer” explicou Anjuli Mendonça, moradora e representante da Associação dos Moradores da Roda de Fogo, que faz trabalhos sociais na comunidade.

Anjuli destaca, porém, que isso não quer dizer que dinheiro é sinônimo de felicidade. “Acredito que é muito melhor ter amigos do que ter dinheiro. Dinheiro pode comprar muita coisa, mas não compra o sorriso de uma criança “, ressaltou. “Às vezes quanto mais dinheiro se tem, mais problemas se adquire. Eu acredito que os pobres muitas vezes são mais felizes que os ricos”, opinou Anjuli.

A presidente da Central Única das Favelas em Pernambuco, Altamiza Melo, reforça que o pensamento de Anjuli é compartilhado nas comunidades, resultando na coletividade dos moradores locais. “Num mundo em que ricos só ganham e pobres só perdem, viver numa comunidade desperta o senso do coletivo em busca de sobreviver. Podemos afirmar que pessoas menos favorecidas são mais aguerridas e dão valor às conquistas, por menores que sejam, e que sua felicidade é feita de pequenas e grandes batalhas”, analisou Altamiza.

A pergunta se dinheiro traz felicidade não é tema restrito às conversas informais. A chamada Economia da Felicidade busca responder à questão com base em estudos empíricos, traçando o paralelo entre renda e satisfação. Dois ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, Daniel Kahneman e Angus Deaton, cruzaram os dados colhidos pelo Instituto Gallup e chegaram à conclusão de que existe uma relação positiva em um curto prazo, mas a partir de determinada renda, isso não influencia mais na satisfação pessoal. Ou seja, quando as pessoas atingem certo patamar financeiro, o dinheiro deixa de influenciar na felicidade.

O Brasil, porém, é um caso à parte. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez o seu próprio levantamento e revelou que a relação entre renda e felicidade é mais fraco aqui do que nos demais países. No Brasil, existem duas situações em que há aumento significativo da felicidade quando há variação da renda: uma é na base da pirâmide, quando a pessoa vai de zero a um salário mínimo e a outra é no topo, onde rendas maiores têm inclinações de felicidades mais positivas, fugindo da norma internacional. 

“No mundo, é possível observar que à medida que cresce a renda, cresce a felicidade. E isso para em determinado momento. No Brasil, apesar de haver aumento da felicidade com a renda, a relação é tênue. Ela é mais forte na faixa mais baixa da população, passa a não afetar tanto na classe média e no topo, observamos novamente o fortalecimento da relação”, esclareceu o economista e realizador da pesquisa, Marcelo Neri. “A explicação para o aumento no topo está no comportamento da nossa elite. Se a pessoa ganha 10 salários e cai para cinco, não tem tanto problema, mas se ela vai para 15, ela está no topo do mundo. Então ela sempre parece querer mais e ficar mais feliz quando consegue”, completou. 

Marcelo também ressalta que o Brasil está melhor posicionado no ranking da felicidade, 32º, do que alguns países com elevados índices de PIB per capita e IDH, como Polônia e Romênia. “Podemos afirmar que o brasileiro tem mais felicidade do que dinheiro no bolso”, afirmou.

O aumento da felicidade na faixa mais baixa da pirâmide atesta o pensamento de Anjuli Mendonça sobre a questão da sobrevivência. “Levando em conta que a alimentação é nosso aspecto mais primitivo, as pessoas na faixa de 0 a 1 salário mínimo têm privação calórica, eles comem menos do que precisam, então qualquer salto de renda vai elevar o seu bem-estar”, explicou o economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, João Rogério Alves Filho. 

Essas informações ajudam a entender a importância da renda básica, um debate cada vez mais em pauta após o auxílio emergencial. “Se os governantes estão pensando na felicidade e bem-estar geral da nação, deveriam pensar nos mais pobres, porque para eles esse aumento de renda faz toda a diferença. Os dados da Economia da Felicidade mostram que o caminho é dar renda para quem estar com muita necessidade”, observou Marcelo Neri. 

Além da análise econômica, a relação entre felicidade e dinheiro também é pauta da psicologia. Uma das questões levantadas por especialistas é que com a transformação de sentimentos em produtos pela sociedade capitalista, pode existir a sensação de satisfação ao consumir. “A própria felicidade tem sido encarada como uma mercadoria qualquer e que, consequentemente, pode ser comprada. Portanto a inversão dos papéis e das funções causam uma grande distorção, levando as pessoas a acreditar na ideia de que felicidade está nas prateleiras físicas e virtuais e disponíveis a um click ou maquineta”, analisou a psicóloga Chay Camaroti. 

Outro ponto que a psicologia ajuda a explicar é que as pessoas tendem a sentir mais quando perdem do que quando ganham dinheiro. Chay Camaroti explica que isso tem relação com nossa educação, que não nos prepara para lidar com perdas e sustentar frustrações. Além disso, somos instigados a querer sempre mais, valorizando pouco quando conseguimos evoluir em determinado aspecto, seja econômico ou não.

Um fato, porém, liga os dois ramos de estudos: o brasileiro é um povo otimista. A pesquisa da FGV mostra que o Brasil é um dos líderes quando o assunto é felicidade futura, ou seja, temos esperança de que o nosso futuro será melhor do que é hoje. É o que espera Anjuli Mendonça. “Nós somos guerreiros, vamos atrás do que queremos. Por isso eu tenho que crer que as coisas vão melhorar”.