McDonalds e Nestlé exigem do Reino Unidos leis mais duras contra desmatamento no exterior
O documento foi divulgado no dia de encerramento de uma consulta pública do governo britânico sobre novas leis contra o desmatamento
Um grupo de 21 grandes empresas, entre varejistas, fabricantes de alimentos, redes de restaurantes e produtores de proteína animal, enviou nesta segunda-feira (5) uma carta aberta ao governo britânico exigindo leis mais duras para combater a destruição de florestas tropicais para produção de commodities como carne, cacau, soja, borracha e óleo de palma.
Assinam a carta as redes de restaurantes McDonald's e Nando's, as fabricantes de alimentos Nestlé e Mondelez, a rede de supermercados Tesco, e grandes produtores de proteína, como a Pilgrim's Pride, entre outras companhias.
O documento foi divulgado no dia de encerramento de uma consulta pública do governo britânico sobre novas leis contra o desmatamento.
A proposta de lei exigiria que as grandes empresas que operam no Reino Unido comprovem a origem de produtos agropecuários, através de um rígido controle de suas cadeias de suprimento. Pela nova regra, seria ilegal vender produtos que não cumpram as leis de proteção ambiental em seus países de origem.
As grandes empresas do setor de alimentos defendem, no entanto, que a lei deve englobar todo tipo de desmatamento, e não apenas aquele definido como ilegal no país de origem.
"Apoiamos totalmente a intenção do governo de desenvolver uma estratégia coordenada para estabelecer condições equitativas para que commodities sustentáveis sejam a norma no Reino Unido e além", escrevem as companhias, na carta aberta. "Este é um passo à frente, mas não suficiente para interromper o desmatamento, e encorajamos o governo a ir além."
"A legislação proposta continuaria a permitir o desmatamento desenfreado em lugares críticos, como a Indonésia e o Brasil. Quase 90 milhões de hectares de floresta brasileira poderiam ser desmatados legalmente no âmbito desta lei -quatro vezes o tamanho do Reino Unido", afirma Robin Willoughby, diretor para o Reino Unido da ONG Mighty Earth, em nota.
"Com a Amazônia em chamas e florestas sendo suprimidas a um ritmo alarmante, a natureza não reconhece a diferença entre o desflorestamento legal e ilegal."
O movimento do setor de alimentos britânico é mais um de uma crescente pressão de países, empresas e investidores para inibir a destruição de florestas, em meio à crescente preocupação com as mudanças climáticas.
Em setembro, um grupo de oito países europeus enviou carta ao vice-presidente Hamilton Mourão, alertando que o desmatamento no Brasil dificulta a compra de produtos brasileiros por consumidores daquele continente.
Antes disso, investidores, grandes empresas e bancos brasileiros também procuraram Mourão para expressar preocupação com o impacto da política ambiental brasileira para os negócios e atração de recursos para o país.
A destruição de florestas no Brasil entrou até mesmo na pauta das eleições presidenciais americanas, após o candidato democrata Joe Biden ameaçar retaliar o país, caso não sejam implementadas medidas para impedir o desmatamento da Amazônia.
O governo brasileiro tem desqualificado a preocupação de outros países com a preservação das florestas, dizendo que os governos estariam atendendo o interesse dos produtores agrícolas locais, que estariam tentando evitar a competição com produtos brasileiros.
Jair Bolsonaro (sem partido) também minimiza o papel do agronegócio no desmatamento, tendo dito em sua fala na abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) que os incêndios na Amazônia seriam provocados por índios e caboclos.